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Bengala verde

Calma, Palmeirense, não se trata de mais uma ‘tiração de onda'...

Por Carlos Ferrari
07/11/2012 | 00:00
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Calma, Palmeirense, não se trata de mais uma ‘tiração de onda'. Olha que, como bom corinthiano, eu adoraria a ideia, mas sabemos que este não é o espaço; só por isso, viu! Deixando o futebol de lado, quero conversar com vocês, de todas as torcidas, sobre um assunto pouco trabalhado mesmo dentro do movimento de pessoas com deficiência, em especial a visual, porém superimportante não só para nós, militantes, como também para a sociedade em geral.

Imaginem a cena: você visualiza de longe alguém se utilizando de uma bengala, caminhando devagar por uma calçada movimentada de uma grande cidade. A pessoa se aproxima de um cruzamento e você instintivamente acelera o passo, objetivando ajudá-la a concretizar a travessia daquelas ruas com trânsito denso e complexo. Surpresa! Ao perguntar à sua mais nova companhia qual o seu destino, a resposta é o caixa eletrônico, isso mesmo, aquele para onde você também está seguindo. Bem, essa não é a última novidade do dia. Chegando lá, você observa perplexo a pessoa, que acabou de receber sua ajuda, interagindo com a máquina. Ela vê os números, demora muito, mas pega o dinheiro, conta as notas e guarda na carteira.

Pois é, estamos falando de uma possibilidade real. Mas sem estresse, o personagem bengalante de nossa historinha não se trata de um cego falso, ou como se fala na linguagem do futebol, de um gato. Logo, se o caso fosse verdade e tivesse ocorrido com você, não seria nenhuma pegadinha de programa de televisão. 

A coisa é bem mais séria, pois estamos falando de uma pessoa com baixa visão que em situações como a que acabamos de contextualizar, e em tantas outras, acaba passando por constrangimentos, de toda ordem, desde piadinhas despropositadas, até insultos de quem nem tenta entender o que está acontecendo e já se considera ludibriado.

Existem alternativas simples e bastante eficientes. Em alguns países, a ideia é que essas pessoas possam se utilizar de uma bengala com outra cor, no caso verde, o que faria com que qualquer cidadão soubesse de imediato ao oferecer uma ajuda, enfim ao interagir, que não se trataria de um cego total. Aqui no Brasil a ideia é que a sinalização se dê a partir de uma bengala amarela. 

A questão, porém, é que mesmo que as pessoas com baixa visão troquem suas bengalas, com adesão total ao amarelo, será que a população saberia entender esse novo símbolo? 

Não vou poder avançar, trazendo uma multiplicidade de variáveis que perpassem a baixa visão, ou visão subnormal. O fato concreto é que uma pessoa pode ver bem determinada coisa, e ser cega para tantos outros contextos. Isso somado à desinformação geral da população, e por muitas vezes da própria pessoa com deficiência, que reluta inclusive em aceitar a bengala, nos apresenta um cenário preocupante e totalmente invisível aos olhos de nossos gestores públicos, da mídia, e por consequência, de toda a sociedade.

Com esta coluna, não pretendo resolver o problema, mas espero poder ter conseguido lhes apresentar um problema. Quando a sociedade se encontra cega diante de uma demanda social, um dos bons colírios para dar início ao tratamento é, sem dúvida, a informação.

Me atrevendo a brincar um pouco de oftalmologista social, também receitaria uma boa ‘pomadinha de proatividade, misturada com indignação'. Sabendo do problema, não dá só para se lamentar e buscar culpados. Todos podem, à sua maneira, propor e viabilizar alternativas, a indignação, somada à vontade de fazer, tem por resultado a atitude e a transformação da realidade.




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