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O trabalhador migrante descobre o Grande ABC

O livro do professor Antônio de Almeida ontem apresentado por Memória - Experiências Políticas no ABC Paulista: Lutas e Práticas Culturais...

Por Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
16/09/2009 | 00:00
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O livro do professor Antônio de Almeida ontem apresentado por Memória - Experiências Políticas no ABC Paulista: Lutas e Práticas Culturais dos Trabalhadores, Editora da Universidade Federal de Uberlândia, 2009 - focaliza, largamente, a migração interna. Ou: a coragem do homem brasileiro simples que, para sobreviver, troca o campo (ou a roça, como diz a maioria) pela cidade. Fica bem claro como se dá, ao longo do século 20, a transformação do rural em urbano no Brasil.

Por isso que escolhemos a foto de hoje para abrir Memória. É uma foto emblemática. Mostra trabalhadores quase todos anônimos da fábrica de móveis da família Pelosini que ficava na Rua Marechal Deodoro, em São Bernardo, ao lado do campo do Esporte, o engolido pelo progresso Estádio Ítalo Setti.

Identifica-se um dos trabalhadores, Pedro Veloso Ramos (Rincão, SP, 1923 - São Bernardo, 1994). Pedro trocou a roça por São Bernardo e aqui trabalhou de pintor de móveis (ou lustrador) na indústria Pelosini (1949 e 1950) e na Irmãos Bellinghausen (1950 a 1959), para se aposentar, já como metalúrgico, na Volkswagen (1960 a 1972).

Ou seja: Pedro Veloso Ramos seguiu as trilhas de tantos outros migrantes, que descobriram o Grande ABC e se renderam às grandes multinacionais que aqui chegaram após a abertura da Via Anchieta.

Veloso aparece em pé na foto, ao centro, de roupa clara, mãos à cintura. Não identificamos os demais. Recorremos ao Beltran Asêncio, que foi entalhador na Bellinghausen e não identificou o cenário, arriscando-se a dizer que se trata da Pelosini - "Bellinghausen que não é".

A foto permite várias leituras, como a falta de uniformes de trabalho - cada um se veste de uma forma diferente - o espaço informal de descanso em meio à jornada de trabalho, os tijolinhos na parede (não há blocos como hoje), a madeira da porta e da carreta.

A presença do trabalhador na cidade ainda prosaica preparando-se para as transformações.

No livro do professor Almeida são acompanhamos outros casos, em nível de Grande ABC, como a antiga fábrica de casimiras Kowarick, em Santo André, a passagem do bondinho dos Pujol na interligação Santo André a São Bernardo, a organização do povo em abaixo-assinados, como o registrado em Ribeirão Pires, em 1916. "Em 1920, mais de 50% da população do ABC com idade acima dos 7 anos sequer sabia ler ou escrever", conta o autor, citando dados oficiais.

Um livro, o de Antônio de Almeida, que vai do acadêmico para o jornalístico, retratando diferenças e colocando, lado a lado, patrão e empregado. E focalizando tantos Pedros Velosos Ramos que para aqui vieram, construíram uma história e deixaram recados de várias formas, inclusive como o desta fotografia.

DIÁRIO HÁ 30 ANOS

Domingo, 16 de setembro de 1979

Manchete - Arraes faz defesa da unidade do MDB e prega o diálogo. O governador exilado de Pernambuco voltava ao Brasil 15 anos depois e tinha sua foto na capa do Diário.

Política - Quinze de outubro, data da extinção do bipartidarismo representado por Arena e MDB.

Grande ABC - Chuvas trazem de volta temor por enchentes.

São Bernardo - Reabertura da fonte do Baetão causa alegria.

Futebol - Aliança, de São Bernardo, empatou ontem em 1 a 1 com o Nacional, em São Paulo, e depende de uma vitória para classificar-se à fase semifinal da Intermediária.

EM 16 DE SETEMBRO DE...

1849 - José Cesário da Silva Bastos nasce em Santos. Advogado, deputado constituinte e senador estadual contemporâneo ao nosso senador Flaquer. Teve chácara em Santo André, a famosa Chácara Bastos, onde está o Paço Municipal.

1959- Rádio Independência, de São Bernardo, conquista o Troféu Nestlé, outorgado pela TV Tupi, canal 3, dos Diários Associados.

1969 - Uma vaca foge da Swift e provoca confusão nas ruas de Utinga.

1969 - Censura brasileira proíbe a música Je t'aime, moi non plus, considerada imoral.

MUNICÍPIO PAULISTA

Paranapuã, elevada a município em 1964, quando se separa de Dolcinópolis, região de Jales.

HOJE

Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio. Dia Nacional do México.

SANTOS DO DIA

Cornélio, Cipriano, Edite e Eufemia.

Cornélio e Cipriano foram martirizados durante a perseguição de Galiano, em 252 e 258, respectivamente.

ALMANAQUE

João Rela

Nascimento: Itatiba (SP), 16 de setembro de l889.

Vereador: 1948 a 1951.

Partido: PSP.

Falecimento: 3 de junho de 1970.

Foi um dos representantes do Distrito de São Caetano na Câmara Municipal de Santo André. Veio para o Grande ABC na década de 1910, quando assumiu a chefia da estação ferroviária de Campo Grande. Em 1917 mudou para São Caetano, também como chefe da estação ferroviária local. Foi juiz de paz. Presidiu a Sociedade Beneficente União Operária e vários clubes esportivos de São Caetano.




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