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A história por trás da queda

O governo teria uma ótima explicação para afastar o delegado Protógenes Queiroz da investigação do caso Opportunity - Daniel Dantas: insubordinação

Por Carlos Brickmann
20/07/2008 | 00:00
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O governo teria uma ótima explicação para afastar o delegado Protógenes Queiroz da investigação do caso Opportunity - Daniel Dantas: insubordinação. Queiroz se negou a informar a seus superiores o que estava fazendo, e pediu auxílio, sem autorização, a uma agência ligada diretamente ao presidente da República. Em nenhuma empresa isso seria tolerado. E, numa organização como a Polícia, estruturada com base na hierarquia, essa conduta do delegado é inaceitável.

Lembrando como funciona a hierarquia: o general MacArthur, que recebeu a rendição do Japão e comandou as tropas aliadas na Guerra da Coréia, foi demitido pelo presidente Truman por desobediência. No Brasil, o presidente Geisel removeu seu ministro do Exército pelo mesmo motivo: desobediência.

E por que o governo não usou a desculpa da desobediência? Porque não foi por isso que o delegado caiu. Os motivos da queda do delegado Protógenes não devem ser procurados nas falhas de procedimento (e houve muitas), mas no êxito de algumas descobertas da maior importância. Ele caiu por gravar e divulgar telefonemas de ministros próximos ao presidente da República. Ele caiu por ter, com seus grampos, invadido o Palácio do Planalto. Mexeu com gente do Governo. E, especialmente, mexeu com gente pouco conhecida fora de sua área de ação, mas com entrada livre em gabinetes poderosos, como o publicitário Guilherme Henrique Martins, Guiga, uma das pessoas que têm maior penetração no círculo oficial e melhor conhecem a intimidade do palácio. O resto é teatro.

CREIA, ACREDITE, ACEITE
Veja as coisas em que devemos acreditar: a) que o delegado Protógenes, justo agora, tenha de fazer um curso em Brasília e, portanto, queira deixar o inquérito por livre e espontânea vontade; b) que o superintendente da Polícia Federal tenha de gozar férias marcadas há muito tempo; c) que o juiz do caso também precise entrar em férias, também marcadas há muito tempo; d) que o presidente Lula esteja profundamente desgostoso com o afastamento do delegado Protógenes. A gente acredita. Só não acreditamos em duendes porque eles mentem muito.

A HORA DE INVESTIGAR...
Os erros na condução do inquérito já foram abundantemente noticiados. Chegou a hora de corrigir os erros e avançar na solução do caso. As suspeitas contra Daniel Dantas são fortes; há indícios substanciais de que tenha havido corrupção para favorecê-lo em vários setores - o que inclui Congresso e Imprensa (tanto empresas quanto profissionais). Há o caso, filmado e gravado, da tentativa de suborno, denúncia já aceita pela Justiça. O senador Heráclito Fortes (DEM - Piauí) e o deputado José Eduardo Cardozo (PT - São Paulo) foram apontados nominalmente pelo jornalista Paulo Henrique Amorim como líderes da Bancada Dantas no Congresso. É preciso, no mínimo, saber quem é quem.

...TODOS OS LADOS
Há fortes rumores de que o adversário mais tradicional de Daniel Dantas, seu ex-sócio Luís Roberto Demarco, também tem uma bancada e também controla jornalistas. A investigação precisa, sem dúvida, abranger também este lado.

É O NOSSO DINHEIRO
Primeiro foi o BNDES, banco oficial, que liberou R$ 2,5 bilhões para facilitar a absorção da Brasil Telecom pela Oi. Em seguida, outro banco oficial, o Banco do Brasil, libera o maior empréstimo de sua história, R$ 4,3 bilhões, com o mesmo objetivo. E a compra da Brasil Telecom pela Oi é ilegal, tão ilegal que o próprio Governo, que a estimula, estuda como deve mexer na lei. É uma novidade brasileira: a lei feita sob medida para atender a interesses privados. É curioso saber que a operação deve render a Daniel Dantas, grande acionista da Brasil Telecom, algo como US$ 1 bilhão. Balanço financeiro de uma operação fora da lei: por enquanto, R$ 6,8 bilhões. Dúvida: os acionistas da Oi estarão dispensados de botar a mão no bolso, porque os bancos oficiais pagarão a operação toda?

É A LEI DELES
E o Congresso, que tem a dizer sobre a mudança na lei de telecomunicações? Aparentemente, nada: Câmara e Senado estão em recesso e, oficialmente, só voltam no dia 6 de agosto, quarta-feira. Na prática, não é muita gente que vai voltar: em época eleitoral, cada parlamentar tem suas bases para olhar. Antigamente, ainda iam a Brasília para buscar o pagamento. Hoje, com a Internet, nem isso.

É ELA DE VOLTA
Com a divisão do PSDB, provocada pela insistência do ex-governador Geraldo Alckmin de sair candidato a prefeito de São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy já trabalha com a possibilidade de ganhar no primeiro turno. Não é tarefa fácil, pois a rejeição que enfrenta é grande; mas imagina que o governador José Serra não fará campanha por Alckmin nem poderá fazê-la por Gilberto Kassab, o candidato que queria, por ser do DEM, e não do PSDB.




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