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Algo vai mal? Petróleo no pré-sal

Preste atenção: quando alguma coisa vai mal, alguém do governo anuncia mais uma descoberta de petróleo

Por Carlos Brickmann
15/06/2008 | 00:00
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Preste atenção: quando alguma coisa vai mal, quando surge aquela suspeita de que estão fazendo algo errado, alguém do governo anuncia mais uma gigantesca descoberta de petróleo a milhares de metros de profundidade. Alguém - que nem precisa ser da Petrobras - solta a notícia. E pronto: tenta-se substituir a crise por expectativas de ver a Pátria amada, salve, salve, fornecendo petróleo ao mundo.

O anúncio da nova e cada vez mais gigantesca reserva, no campo de Guará, foi feita em Genebra pelo ministro do Trabalho, Carlos Luppi. Acontece que, quando há notícias que possam influir no valor de ações cotadas em Bolsa, há um ritual, que envolve a publicação de fato relevante e precauções para que a informação só seja divulgada após o fechamento do mercado. Sabe como é, o acesso privilegiado a essas informações pode propiciar altos ganhos ilegítimos.

Faltou dizer que até agora ninguém foi buscar petróleo no pré-sal. A Petrobras, dona de excelente tecnologia de águas profundas, ainda está desenvolvendo o know-how necessário para extraí-lo. Sabe-se que tirar petróleo abaixo da camada de sal será difícil e caro, comercialmente viável apenas se o preço se mantiver muito alto (o que parece provável, mas depende dos humores dos países que integram o cartel da Opep). E, se tudo der certo, é coisa para daqui a uns dez anos.

Na ditadura, o governo incluía times no Campeonato Nacional para agradar o eleitor e levá-lo a votar em seu partido, a Arena ("onde a Arena vai mal, um time no Nacional"). Hoje é diferente: quando algo vai mal, petróleo no pré-sal.

INVESTIGAR SEMPRE
A propósito, não fica bem defender CPIs no Congresso para investigar o governo do PT e bloqueá-las em São Paulo, para que não investiguem, por exemplo, as propinas que a Alstom diz ter pago ao Metrô durante os governos tucanos de Mário Covas e Geraldo Alckmin. Como não fica bem defender CPIs em São Paulo e lutar contra elas em Brasília. Ladrão é ladrão, seja de que partido for.

AS ESPADAS
Ninguém explicou direito por que os sargentos Laci Araújo e Fernando Figueiredo, casal homossexual, são punidos pelo Exército. Homossexualismo não é crime; coragem não é privativa de heterossexuais. Militares famosos - como Júlio César, que se dizia marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos, ou Alcebíades, o general ateniense que namorou Sócrates - foram homossexuais. Qual o problema?

IMPOSTO, NÃO
A nova CPMF, apelidada de CSS, passou na Câmara. Mas não deve passar no Senado, onde a maioria governista é menor (e onde a CPMF foi derrubada). Para ganhar no Senado, o governo precisa de 41 votos, maioria absoluta. É difícil, embora não impossível. Mas, se houver a aprovação, DEM e PSDB pretendem recorrer ao Supremo, com boas chances de declarar a CSS inconstitucional.

MENTIRA OFICIAL
O governo brasileiro garantiu oficialmente que os dois boxeadores cubanos que haviam abandonado a delegação no Rio, nos Jogos Pan-americanos, queriam muito voltar para Cuba - e por isso, sem consulta ao Judiciário, enfiou-os num avião venezuelano de volta para seu país. Mas era mentira: Erislandy Lara, um dos que estavam doidos para voltar, fugiu de Cuba e está hoje na Alemanha - onde não há risco de ser mandado de volta. Erislandy, que desde sua volta forçada a Cuba estava proibido de lutar, entra agora no boxe profissional.

ATENÇÃO: PERIGO
É tanto escândalo nesse País que notícias importantes acabam sendo deixadas de lado. Mas é preciso observar o crescimento de ações ilegais do MST e entidades paralelas. Na última terça, houve ocupações e vandalismo em 13 Estados. A ferrovia da Vale foi mais uma vez paralisada, hidrelétricas foram ocupadas, houve interrupção de rodovias, ocupação de prédios públicos e de laboratórios. Reforma agrária? Que é que a exportação de minério de ferro tem a ver com isso?

TRICÔ PAULISTA
Geraldo Alckmin e o governador José Serra conversaram muito sobre a sucessão paulistana (Alckmin tenta forçar sua candidatura, Serra é favorável à aliança com o DEM e à reeleição de Gilberto Kassab). Serra disse que apóia Alckmin se for ele o candidato do partido, Alckmin disse que Serra é seu candidato à Presidência. Ambos são homens educados: um fingiu que acreditou no outro.

MAS PODE NÃO SER
Alckmin procura comportar-se como candidato, mas ainda lhe falta um bom caminho. Onze dos 12 vereadores do PSDB querem a aliança com Kassab; políticos com trânsito nas bases tucanas, como os secretários Walter Feldman e Ricardo Montoro, lutam para derrubar Alckmin na convenção, dia 22. E o escândalo das propinas da multinacional francesa Alstom, bem na época em que Alckmin era governador, pode dinamitar sua candidatura.




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