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Biografia de Michael Jackson é lançada no Brasil
Por João Marcos Coelho
Especial para o Diário
14/07/2005 | 08:08
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"Haverá outras celebridades com tantos problemas assim?", pergunta-se J. Randy Taraborrelli, o jornalista que escreveu uma completíssima e exaustiva biografia do superastro pop Michael Jackson, na página 628 (sim, o livro tem mais de 600 páginas). "Ou será", continua ele, "que Michael é tão diferente, tão fora do comum, tão extraordinário e tão... famoso que se torna alvo fácil de todo tipo de exploração, seja por meio das centenas de processos movidos contra ele ou das atuais acusações de molestar menores? Também pode ser que Michael, em sua arrogância ou ingenuidade (ou ambas as coisas) seja o responsável pela loucura que provoca em sua própria vida. Não dá para não sentir pena dele".

Até o advento destes abortos que são os reality shows, só se alcançava a celebridade por dois motivos: 1) ou o sujeito tinha mesmo talento, ainda que fosse comercial; 2) ou então conseguia segurar-se por tanto tempo no topo que a sua permanência em foco por muitos anos lhe concedia legitimidade.

No primeiro caso encaixam-se tanto Elvis Costello ou U2, Elvis Presley, os Beatles, Madonna e "aquele que se chamou um dia Prince"; no segundo estão bagulhos como Donna Summer e outros lixos que se sucederam no tempo. A musa da disco music, por exemplo, é hoje incensada por estar há muito tempo nas paradas (não há outro motivo para isso, já que talento nela não existe). Mas há exceções neste segundo caso: Frank Sinatra, por exemplo, teve uma carreira que ultrapassou meio século e é com justiça tido como um dos maiores - se não o maior - cantores populares do século XX.

Nosso superastro Michael pertence, é óbvio, ao primeiro grupo. Tem, de fato, muito talento. "Por que ele ainda nos fascina após todo esse tempo?", pergunta-se Taraborrelli. "Seria por causa de seu talento assombroso? Certamente isso tem a ver. Sua voz é inconfundível, e o modo como dança é único. Assim como foi influenciado por precursores do naipe de Jackie Wilson e James Brown, ele também influenciou toda uma geração de artistas. Ao ver Justin Timberlake em ação, de quem nos lembramos?"

Mas a celebridade da última metade de seus 30 anos de glória deve-se muito mais a questões criminais, como a pedofilia, do que a seu inegável talento nos palcos. Taraborrelli, amigo de Michael desde a infância, esmiúça a trajetória do astro desde os turbulentos anos como estrela dos Jackson Five até a atual decadência em 11 partes divididas em quase uma centena de capítulos curtos. O índice onomástico, além da brevidade dos capítulos com títulos auto-explicativos, ajuda o leitorado pop, desacostumado a lidar com livros de grandes proporções, a guiar-se neste verdadeiro tratado.

Como fez em Madonna, também lançado no Brasil pela Globo, Taraborrelli mostra os bastidores de sua carreira desde os primeiros anos, ainda negro, como astro-mirim da Motown, a história do famoso passo moonwalk, a gravação do vídeo We Are the World, a parceria com Quincy "Midas" Jones em Thriller e um dos três maiores caprichos que o dinheiro lhe permitiu realizar: comprar os direitos das músicas dos Beatles, a construção do castelo de fadas Neverland e a concretização da obsessão de virar branco.

A pedofilia - a obra foi escrita quando Michael ainda estava no tribunal defendendo-se da acusação da qual foi recentemente absolvido - ocupa lugar central no livro que também poderia chamar-se ascensão e queda de MJ. Ou de como o dinheiro em quantidades astronômicas, mesmo obtido de forma lícita, aliado a uma história trágica de vida familiar, pode transformar um conto de fadas em um interminável pesadelo.




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