Palavra do Bispo Titulo Coluna
Salvemos a irmã água
Por Dom Pedro Cipollini
26/09/2021 | 00:01
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Na celebração da vigília pascal dentro da liturgia da Igreja Católica, a água tem um significado especial. Abençoa-se a água usada para o batismo. A oração proferida lembra que foi Deus que criou a “água para fecundar a terra, lavar nossos corpos e refazer nossas forças”. A água é símbolo da vida, da graça de Deus e da alegria eterna. Recorda ainda que após as águas do dilúvio surgiu uma nova humanidade; que os hebreus livres da escravidão do Egito passaram através do Mar Vermelho; e que Jesus foi batizado nas águas do Rio Jordão.

Quanto simbolismo carrega “nossa irmã água tão casta e pura” no dizer de São Francisco. Quando criança, admirava as águas do rio que passa no fundo do quintal da casa de meus pais. O Rio São Miguel, há 50 anos, tinha tantos lambaris nas suas águas límpidas! Hoje ainda está lá, sobrevivendo como um mutilado de guerra. Nenhum animal bebe sua água poluída.

É triste ver sua transformação para pior, assim como é triste perceber que, a cada dia, a situação desfavorável à água potável no planeta se agrava. Os cientistas já deram o grito de alerta, aliás muitas vezes. De um lado as secas em vastas regiões que vão alargando a aridez, e em outra parte as inundações provocadas pelo derretimento das geleiras polares.

O aquecimento global provocado em última análise pela ganância e prepotência do ser humano, entre outras causas, pode nos levar a uma catástrofe sem precedentes. Como sempre a parte mais pesada da tragédia caberá às regiões pobres, as quais já estão afetadas. “A obsessão por um estilo de vida consumista, sobretudo, quando poucos tem possibilidade de o manter, só poderá provocar violência e destruição recíproca”, alerta o Papa Francisco (cf. Querida Amazônia n.59).

A questão hídrica é séria e do modo como vai indo, chegaremos não só a “crise hídrica” com racionamento ou apagão, mas à “calamidade hídrica”. A água é questão de vida ou morte, não artigo de consumo para dar lucro. “É bom que o consumidor saiba que está caro (a água) e precisa reduzir o consumo” (Jerson Kelman, ex diretor da ANA e Aneel in O Estado de S.Paulo 08/9/21 p. B4).

O Diário tem prestado um benefício enorme à população, informando constantemente com destaque, sobre a situação agravada das bacias hidrográficas em nossa região. Em especial da Represa Billings, ora usada como “praia”, ora como esgoto... e cuja água deve ser posteriormente tratada para ser usada. É o realismo fantástico do absurdo tragicômico sul-americano... 

Temos necessidade de vozes que clamem no deserto, evidenciando em que está se transformando, paulatinamente, o planeta. Salvemos a água, salvemos nossas vidas, pois sem ela não há vida! “É preciso indignar-se, como se indignou Moisés (cf. Ex 11,8), como se indignou Jesus (cf. Mt 3,5), como se indigna Deus perante a injustiça (cf. Am 2,4-8)”. (cf. in Querida Amazônia n. 15).

O que se faz com a água (mananciais, fontes rios, etc), é uma grande injustiça que terá sua consequência grave para toda a humanidade. No Brasil não falta água nem faltará, dizem alguns. Sim, temos muita água, é verdade: poluída. E água potável não tem tanta assim. Os recursos da natureza não são ilimitados.

E existem pessoas que lavam as calçadas com água tratada, sem a menor consciência da tragédia anunciada. Vendo o desperdício não podemos duvidar do que dizem os antigos: “a primeira vez o mundo acabou pela água do dilúvio e a segunda vez acabará pelo fogo”. Já começou o fim do mundo pelo fogo do calor, do aquecimento e da seca... O fim deste mundo pelo menos, organizado como está com base no egoísmo e mau gerenciamento da água. 




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