Enquanto a atençao se centraliza na descoberta de 58 imigrantes clandestinos, encontrados mortos segunda-feira em um caminhao frigorífico em Dover (Sul da Inglaterra), ao término de uma odisséia terrestre de vários meses, centenas de chineses saem diariamente do país com passaportes falsos ou graças a funcionários corruptos, afirmam diplomatas em Pequim.

``Os contêineres marítimos podem transportar muita gente, mas com o aviao, mesmo que só possam sair duas ou três pessoas por semana, no final é muita gente', afirma Jack Lin, adido da embaixada norte-americana em Pequim para questoes de imigraçao.

O problema se agravou desde que as autoridades deram sinal verde há dois anos ao turismo chinês para meia dúzia de países estrangeiros se os 'turistas' possuíssem pelo menos US$ 4 mil em uma conta bancária chinesa.

Para viajar ao Oeste europeu, basta geralmente conseguir vistos para a Rússia ou para um país do Leste, geralmente menos rigorosos. Nesses países, os candidatos à emigraçao tentam conseguir passaportes falsos, geralmente sul-coreanos.

Para viajar aos Estados Unidos, o mais simples é também o melhor. Um vôo direto a San Francisco ou Detroit, com uma escala no Japao, com um passaporte falso. Uma vez nos Estados Unidos, o imigrante clandestino destrói o documento antes de pedir asilo político pelos mais diversos motivos, seja perseguiçao religiosa ou a obrigaçao de ter um só filho, assinala Lin.

Segundo vários analistas estrangeiros, o fenômeno é agravado pela corrupçao endêmica que reina na polícia de fronteiras e entre o pessoal dos aeroportos.

Um diplomata ocidental estima que existem verdadeiras redes em alguns aeroportos para facilitar a passagem dos clandestinos, ajudando-os inclusive a chegar diretamente ao pé do aviao, sem passar por nenhum controle.

``Cada vez mais gente se arriscará a partir em aviao futuramente porque é muito menos perigoso', afirma Frank Lu, diretor do Centro de Informaçao para a Democracia e os Direitos Humanos, com base em Hong Kong.

Segundo Lu, três mil clandestinos foram detidos no ano passado somente no aeroporto de Pequim quando tentavam partir para o estrangeiro com papéis falsos, enquanto somente em Los Angeles, 1.241 chineses foram interceptados sem papéis, segundo Lin.