Faz um bom tempo que o grafite deixou para trás o rótulo de marginal para ganhar status de arte. E foi justamente dessa forma, como uma expressão artística rica e que merece respeito, que as meninas da associação Grafiteiras BR se reuniram no sábado para encher de cores e inspirações o muro do Instituto de Previdência de Santo André. Munidas de latas de spray e muita motivação para pintar debaixo de um calor de quase 30 graus, garotas do Grande ABC e de diversas partes do país dividiram o muro e histórias durante as oito horas de duração do encontro.

Conhecida como a mais jovem grafiteira de Santo André, Ana Cláudia dos Santos Leal, a Téia, tem apenas 17 anos. Pela primeira vez pintando um auto-retrato, Téia conta que resolveu mudar de estilo: antes só grafitava bonecas. Sobre a iniciativa de reunir as grafiteiras, ela foge do discurso de que existe preconceito. “Acho que o homem sofre mais do que a mulher. Nós somos vistas como artistas, os homens como vândalos”.

É mais ou menos por aí que vai o pensamento da programadora visual Denise de Sousa Sobrinho, de 31 anos. Enquanto pintava uma “letra”, segundo ela um estilo equivocadamente considerado menos importante, a grafiteira salientava a importância do encontro. “É legal para as meninas se conhecerem, pintarem juntas, mas essa história de preconceito nunca existiu, pelo menos para mim. Se não fossem os homens, eu não pintaria”.

Se não existem tantas diferenças entre homens e mulheres no grafite, pelo menos uma coisa não se pode negar: elas são mais românticas. As letras e desenhos femininos têm em suas histórias muito sentimento. É assim com a artista carioca Petitepoupée 7, de 28 anos. A bonequinha arredondada pintada com pincel e acompanhada de versos em francês é resultado de um romance que não deu certo. “A rua é um desabafo para mim. Mais feminino impossível.