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Estudo da UFABC indica que ‘bolhas’ ajudam frear a Covid

Com flexibilização, queda de casos e de óbitos, teoria é a de que pessoas suscetíveis ao vírus estariam isoladas por barreira de indivíduos já imunes

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
16/09/2020 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


 Estudo desenvolvido por docentes da UFABC (Universidade Federal do ABC) e da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) indica a existência de ‘bolhas’ de proteção ao contágio do novo coronavírus. Isso significa que, em determinadas localidades, pessoas suscetíveis à infecção estariam protegidas por barreira de indivíduos imunes, freando a disseminação do vírus. A pesquisa considera que, mesmo com a flexibilização da economia e, consequentemente, a redução do isolamento físico, as confirmações de casos e mortes caíram.

“A partir de determinado momento, houve reduções de casos e mortes e estes resultados foram contraintuitivo porque, até então, estávamos combatendo com o Plano São Paulo (conjunto de diretrizes do governo do Estado para retomada gradual da economia)”, explicou José Paulo Guedes Pinto, professor da UFABC e integrante da Ação Covid-19, grupo interdisciplinar que estuda como a desigualdade afeta a evolução da pandemia no Brasil.

No Grande ABC, por exemplo, o governo do Estado indicava que a taxa de isolamento, em maio, quando a quarentena estava na fase mais rígida, era de 51% na semana encerrada no dia 9, quando 887 casos e 110 mortes de Covid-19 foram confirmadas. Desde então, o índice está caindo gradativamente na região e, na última semana, ficou em 40%, ao mesmo tempo em que 1.745 infecções e 60 óbitos foram registrados. Embora tenha havido aumento no número de diagnósticos, a tendência ainda é de redução, uma vez que no mês passado foram 3.466 positivos no mesmo período – veja mais na arte abaixo.

Além da ‘barreira’ criada pelas pessoas imunes ao coronavírus, a ‘bolha’ também é resultado de esgotamento da rede de contágio, ou seja, mesmo após os picos da infecção, o distanciamento físico somado à mudança de hábitos da população, que adotou protocolos preventivos, como uso de máscara e higienização das mãos, desaceleram o contágio.

Embora possa ser confundido, as ‘bolhas’ de proteção não são iguais à imunidade de rebanho, cujo conceito está ligado à imunização por meio da vacina. “Quando se fala no gado, vacinar 70% dos animais garante que as doenças infecciosas parem de pular de um para o outro. Não precisa vacinar 100%, basta vacinar a maioria. A vacina garante imunidade estável”, detalhou Pinto. No caso da vacina BCG, a meta é imunizar 90% da população, enquanto a imunização da poliomielite, hepatite A e outras requer pelo menos 95% de cobertura.

Assim, o controle da Covid, por meio da imunidade da população, será possível apenas após a vacinação dos indivíduos. “As bolhas têm equilíbrios instáveis, frágeis e podem estourar (a partir da entrada de pessoas contaminadas na região)”, afirmou o pesquisador. Ele lembrou que a doença ainda está sendo estudada e não está conhecido como a imunidade de pessoas que já tiveram contato com o vírus age. Atualmente, não se sabe por quanto tempo ela dura e, inclusive, casos de reinfecção já foram confirmados pelo mundo e ao menos sete estão em investigação no Hospital das Clínicas de São Paulo, na Capital.

O estudo sobre as ‘bolhas’ de proteção foi publicado como pré-print (versão prévia de artigo científico) e aguarda revisão para publicação final.




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