O universo boêmio do Rio de Janeiro dos anos 1950 inspirou a criação de um personagem tão engraçado quanto amoral. Criado pelo roteirista Wander Nunes, Zózimo Barbosa protagoniza uma HQ repleta de amores, traições e ciúmes que, não por acaso, remetem aos dramas produzidos pelo escritor Nelson Rodrigues.

Suas peripécias foram reunidas em seis histórias do livro O Corno que Sabia Demais e Outras Aventuras de Zózimo Barbosa (Pixel, 64 págs, R$ 22,90). Especializado em investigar casos de infidelidade conjugal, Zózimo é um detetive sem qualquer escrúpulo, e que não mede esforços por dinheiro e uma noitada no bordel.

Fã incondicional do autor de A Vida Como Ela É, Nunes colocou seu anti-herói em situações tipicamente rodrigueanas. Exemplo desse fascínio que o dramaturgo exerce sobre o autor é a história homônima à obra.

Na trama, o investigador é contratado por um homem chamado Bezerra, recém-casado com uma dama formosa, mas cuja beleza faz com que o marido desconfie o tempo inteiro das intenções dela.

Depois de seguir os passos da donzela, Zózimo chega à conclusão de que a moça é quase uma santa. Bezerra até infarta por não conseguir confirmar suas suspeitas. Só fica feliz quando a mulher passa a conceder carinhos a outros rapazes. Até o detetive aproveita a mudança de comportamento.

Rodrigues também foi homenageado pelo personagem Saraiva, um idoso que usa óculos de aros grossos e tem uma fisionomia algo carrancuda. Paranóico em relação à fidelidade de sua “amada fifizinha”, não consegue enxergar um palmo à frente do nariz.

Na história Matando um Amigo, Zózimo convive com o amigo Bonitão, um estereotipado latin lover, e o policial Paranhos. Este último desdenha das investigações e costuma dizer que os casos só são resolvidos quando o acusado apanha “sem dó, nem piedade”. Qualquer outra semelhança com a realidade pode não ser mera coincidência.