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Água da Represa Billings melhorou com isolamento

Braços onde o lazer e a pesca eram comuns foram bloqueados e registraram qualidade superior, mesmo com nível menor

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
13/07/2020 | 00:38
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Celso Luiz/DGABC


Estudo do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) indica que a qualidade da água da Represa Billings melhorou em razão do isolamento físico. Isso porque braços onde o lazer era comum, a exemplo do Taquacetuba, Rio Grande, Rio Pequeno, Capivari e Pedra Branca, ficaram esvaziados desde o início da quarentena imposta pela Covid-19.

“A qualidade de água estava boa, segundo o IQA (Índice de Qualidade de Água) nestes trechos. Em 2019, fizemos coletas de amostras e análises na mesma época e agora, neste ano, a qualidade estava muito melhor nos mesmos pontos analisados, mesmo com o nível do reservatório mais baixo”, explica Marta Marcondes, bióloga,

O braço do Rio Grande, que abastece 1,2 milhão de pessoas no Grande ABC, estava a 78,2% da capacidade no último 30 de junho, enquanto na mesma data em 2019, estava em 100%, segundo informações da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Com o nível baixo, a tendência é que a poluição se agrave, já que há menos água para diluir os poluentes. Mas não foi o cenário encontrado.

“Todas as áreas que normalmente são utilizadas para lazer estão sem este tipo de atividade e, mesmo os pescadores amadores estão escassos, então, podemos concluir que a quarentena influenciou positivamente na qualidade da água”, observa Marta. Exemplo é que os braços Rio Grande e Rio Pequeno estavam classificados como ‘bom’ em 2019 e, neste ano, passaram a ‘ótimo’.

O IQA é calculado com base na temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido, resíduo total, demanda bioquímica de oxigênio, coliformes termotolerantes, nitrogênio total, fósforo total e turbidez, conforme parâmetros da ANA (Agência Nacional de Águas).

Má notícia é que a pesquisadora acredita que a flexibilização da quarentena e a retomada gradual das atividades podem voltar a agravar a situação do reservatório. “Todas as atividades voltam e com elas as práticas incorretas de deixar resíduos nos locais, como motores de embarcações despejando poluentes”, exemplifica a especialista.

Vale lembrar que a má qualidade da água afeta a saúde da população que vive no entorno da represa. Conforme o Diário já publicou, no bairro Taquacetuba, em São Bernardo, que vive às margens do braço de mesmo nome da Billings, 80% das crianças tinham ao menos dois parasitas envolvidos em doenças que afetam o sistema digestivo, de acordo com pesquisa de setembro de 2019. A contaminação é via fecal-oral, ou seja, estes jovens tiveram contato com água contaminada com fezes, oriundas de despejo de esgoto não tratado, que continham os parasitas.

Despejo de esgoto sem tratamento piorou qualidade em área urbanizada

Por outro lado, Marta Marcondes, bióloga, coordenadora do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos) e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), indicou que os braços da Represa Billings onde há urbanização desordenada, como o corpo Central, Alvarenga e Cocaia, a qualidade da água piorou, indo de ‘ruim’ para ‘péssima’.

Segundo a pesquisadora, a classificação do IQA (Índice de Qualidade da Água) entre ruim e péssimo nestas áreas já era esperado. “Primeiro que o reservatório estava com nível muito mais baixo, chegando a cinco metros em alguns locais e, segundo, com as pessoas em casa, a produção de esgoto é muito maior, ainda mais nestas regiões tão aglomeradas, além do agravante do desmatamento nas áreas de ocupação”, explicou.

Inclusive, em alguns pontos onde a coleta de amostras foi realizada, a quantidade de bactérias patogênicas estava pelo menos 2.000 vezes acima do recomendado, enquanto a incidência do fósforo estava 150 vezes maior do que a Resolução 357/2005 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) estabelece, e o oxigênio estava “quase inexistente”.

Exemplo é a Prainha do Riacho Grande, em São Bernardo, local de alta procura principalmente no verão e que coleciona análises negativas da água. No período pré-pandemia, chegou a ser a única praia às margens da Billings com a bandeira vermelha. À época, Marta destacou que coleta indicou altos níveis de amônia e fósforo, além de micro-organismos característicos do intestino humano e de animais de sangue quente encontrados, indicando despejo de esgoto doméstico sem tratamento no reservatório.

Ontem o Diário mostrou que banhistas já voltaram a frequentar a prainha.
 




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