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Gasolina encarece 12% nas refinarias a partir de hoje

Repasse aos postos pode chegar a R$ 0,10 por litro; medida prejudica ainda mais o setor, cuja demanda está a 30%

Flavia Kurotori
do Diário do Grande ABC
21/05/2020 | 00:02
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Claudinei Plaza/DGABC


A Petrobras anunciou, ontem, que irá aumentar em 12% o preço da gasolina nas refinarias a partir de hoje. Este é o terceiro reajuste no mês em razão da recuperação do preço do petróleo no mercado internacional – em abril, o barril do minério chegou a ser cotado a US$ 20 e ontem, alcançou US$ 35,66. Com a mudança, o litro pode chegar R$ 0,10 mais caro aos postos da região, conforme estimativa do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo ABCDMR).

Na avaliação de Wagner de Souza, presidente da entidade, este é mais “um baque para o setor”, que tem sofrido com os efeitos da quarentena causada pela Covid-19, dado que a demanda dos estabelecimentos está a 30% do normal. “Prejudica muito o setor, uma vez que já estamos passando por um momento bastante difícil. Acreditávamos que isso duraria 30 ou 40 dias, mas estamos indo para 60 dias. Os postos estão praticamente esgotados (de recursos)”, assinala.

O repasse para o consumidor deve ocorrer entre cinco e sete dias. Entretanto, Souza afirma que não é possível estimar a quantia que chegará nas bombas. “Depende da margem de cada revendedor, já que ninguém está vendendo e (o preço) está competitivo”, explica. Segundo levantamento mais recente da ANP (Associação Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o litro do combustível fóssil está sendo comercializado por, em média, R$ 3,72 nos postos do Grande ABC, enquanto nas distribuidoras está custando cerca de R$ 3,05.

Para Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, a alta do dólar, que encerrou ontem a R$ 5,70 (veja ao lado), também é um dos fatores que influenciam no valor do combustível. Isso porque o País, embora extraia petróleo, não tem capacidade de refino. Assim, o produto refinado é importado. “Isso (o aumento do preço) demonstra a ineficiência dos investimentos com vista a ampliar a capacidade de refino”, aponta.

Portanto, além de beneficiar importadores, a medida agrada o setor sucroalcooleiro, que reivindica aumento dos preços para reduzir as perdas com a venda do etanol. O combustível derivado da cana-de-açúcar se tornou desvantajoso frente aos valores abaixo do patamar de R$ 4 da gasolina, ocasionado pela desvalorização no barril de petróleo nos últimos meses.

CRISE
Souza aponta que outro agravante é que os estabelecimentos não estão conseguindo acesso às linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). “Quem libera o crédito é um dos bancos, então, faz série de exigências e garantias. Como dar alguma garantia se já estão sem nada?”

Até o momento, não há relatos de demissões em massa ou de revendedores que tenham fechado. No entanto, o representante destaca que, caso a quarentena se estenda até junho, os postos começarão a demitir e a fechar. “Sou a favor da vida, mas cada prefeitura deveria ter autonomia para fazer sua determinação, pois cada cidade conhece sua realidade para poder flexibilizar”, opina. “Não temos como manter o custo de 100% da operação funcionando apenas 30%.” Nas sete cidades, são 400 postos.

No início do mês, o governo federal estudava o aumento da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) de R$ 0,10 para R$ 0,30, visando socorrer as usinas de álcool e açúcar. Contudo, após pressão do setor, a mudança não irá ocorrer.
 




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