Os promotores do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para a Prevenção e Repressão ao Crime Organizado), de Santo André, investigam viagens internacionais feitas pelo ex-reitor da Fundação Santo André, Odair Bermelho, em 2005.

A promotora Sandra Reimberg solicitou nesta semana o aditamento do processo investigatório criminal em curso para apurar possíveis irregularidades nas prestações de contas de Bermelho em viagens para Europa e Estados Unidos, realizadas em abril e maio daquele ano. A ida do ex-reitor da Fundação ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, meses antes, também está sob investigação.

Em abril de 2005, Bermelho foi para os Estados Unidos participar de um congresso em Baltimore. A Promotoria recebeu informação de que despesas com vistos pessoais de entrada naquele país foram pagas pela Fundação, que arcou também com gastos relacionados a passagens aéreas em classe executiva.

No mês seguinte, viagem para um congresso em Sevilha, no Sul da Espanha, previa passagem por Portugal. E-mails internos da Fundação apontam um roteiro pré-estabelecido, com espaço para a realização de passeios turísticos.

O evento na cidade espanhola ocorreu somente em 19 e 20 daquele mês. Porém, Bermelho teria seguido para Portugal, ao lado do pró-reitor de administração e planejamento, Paulo César Rosa, quase uma semana antes.

Depois da passagem pela Europa, ambos teriam viajado direto para evento no Novo México, nos Estados Unidos. A cidade de Santa Fé seria a sede de um encontro de reitores entre 22 e 24 de maio. Porém, Bermelho e Rosa retornaram ao Brasil apenas no dia 29. Os demais dias seriam utilizados para turismo em Nova York.

As viagens de Bermelho teriam custado à Fundação R$ 210.163,17, entre novembro de 2002 e julho de 2005. Os gastos estão em planilhas recolhidas pelos promotores do Gaerco de um computador da entidade de ensino.

Somente no último ano do levantamento a que tiveram acesso os promotores, em 2005, o ex-reitor participou de viagens com gasto total de R$ 120.848,09.

A opção por hotéis cinco estrelas (ou de categoria semelhante na sede dos eventos) era um dos luxos a que se dava direito o ex-reitor. Passagens aéreas das companhias TAM e Varig para o acúmulo pessoal de milhas também estariam entre as preferências de Bermelho.

Depoimentos colhidos pelo Gaerco apontam ainda que em determinada ocasião Bermelho teria feito reembolso de R$ 30 mil por viagem realizada ao Exterior. Porém, a forma como o dinheiro foi apresentado chamou a atenção. "Ele teria colocado nota sobre nota na mesa do responsável pelo recebimento", explica a promotora Sandra.

Em abril deste ano, o Diário mostrou notas supostamente adulteradas de uma viagem que Bermelho fez ao Nordeste para participar de um seminário que não existiu.

O Conselho Universitário da Fundação confirmou na segunda-feira as demissões por justa-causa de Bermelho e Afonso Rodrigo David, também citado nas denúncias como auditor responsável pelas contas do ex-reitor. A comissão que cuida de irregularidade atribuídas a Rosa pediu mais 30 dias para conclusão do processo.

O advogado do ex-reitor, Sérgio Salomão Shecaire, afirmou ontem que a defesa irá se pronunciar oportunamente e em juízo sobre as denúncias referentes às viagens de Bermelho.