Flauta foi o instrumento com que Flavio Florence iniciou sua trajetória musical. E é exatamente a flauta que irá soar ao longo de todo o programa que a Orquestra Sinfônica de Santo André executa neste sábado e domingo, às 20h, no Teatro Municipal. Serão as primeiras apresentações após a morte do maestro, ocorrida na madrugada do último domingo. Florence morreu aos 51 anos, após um ano e dez meses de luta contra o câncer.

A presença da flauta justo neste concerto é mera coincidência. Mas soa como homenagem implícita de seus colegas. "No Tumucumaque (de Omar Fontana e Alfred Hülsberg), de repente surge um solo maravilhoso de flauta. No início do Choros nº 6 (de Villa-Lobos), há outro imenso solo", afirma Wagner Polistchuk, há dois anos regente assistente na orquestra e que assume a batuta nos dois concertos. "Acabou sendo propício para o momento", diz, sobre a coincidência.

Mais que isso, quem faz a peça de destaque é o flautista italiano Raffaele Trevisani. Em sua última entrevista ao Diário, Florence rasgou elogios ao amigo: "se tem alguém que merece tocar de novo com a gente é ele, por ter sido tão fiel". O solista participa do Concerto para Flauta e Orquestra, de Jacques Ibert.

Trevisani foi um dos mais emocionados no primeiro ensaio após a morte de Florence, ocorrido na última quarta-feira. Logo no início, fez questão de dar seu depoimento sobre o maestro, contando da forte amizade que tinham. No intervalo, foi a vez da viúva, Mônica Camargo, contar sobre o esforço hercúleo de Florence contra a doença. "Estavam todos consternados, abalados, mas a música acaba resolvendo um pouco e, ao final, estavam todos mais calmos", diz Polistchuk.

Segundo ele, a orquestra está empenhada em dar seqüência ao trabalho de Florence. "O projeto dele, de uma orquestra profissional, não acabou." A família não marcou missa de sétimo dia, mas a Sinfônica promete homenagear o maestro nos concertos, o que inclui a distribuição de um texto assinado pela orquestra.