Política Titulo Histórico
Atila pode ser segundo prefeito a ser cassado na história de Mauá

Em 1965, Edgard Grecco sofreu impeachment em momento que a cidade enfrentava problemas financeiros

Junior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
13/01/2019 | 07:00
Compartilhar notícia
DGABC


 A história política de Mauá é carregada de instabilidades. O município já assistiu a candidato a prefeito ter o registro cassado a três dias do segundo turno após quase vencer o pleito na etapa inicial, viu prefeito sofrer passa-moleque do próprio aliado e não poder disputar a reeleição e, atualmente, acompanha uma ex-primeira-dama do município ser a primeira mulher a governar a cidade depois de virar vice-prefeita por acaso e ter que assumir a principal cadeira do Paço porque o titular, Atila Jacomussi (PSB), foi preso por corrupção.

Nas próximas semanas, mais um capítulo dessa trajetória controversa pode ser escrito caso a Câmara de Mauá decida por cassar Atila, em decorrência das acusações da PF (Polícia Federal) de que teria recebido propina de empresas fornecedoras da Prefeitura e de que pagava Mensalinho aos parlamentares em troca de apoio político na Câmara. A PF estima que o hoje prefeito afastado recebia R$ 500 mil por mês e direcionava metade desse montante aos vereadores.

Na quarta-feira, os mesmos parlamentares suspeitos decidirão, pela terceira vez, se abrem ou não processo de impeachment contra o socialista. Caso iniciem a investigação e, ao fim do processo, decidam por cassar o prefeito eleito em 2016, Atila seria o segundo prefeito impedido da história da cidade.

Em 17 de setembro de 1965, Edgard Grecco (PTB) virava o primeiro – e até os dias atuais o único – prefeito de Mauá a ser deposto. Várias acusações justificavam o suposto crime de responsabilidade cometido por Grecco, como deixar de responder questionamentos dos vereadores e até antecipação ilegal de salários dos servidores e, inclusive, do próprio subsídio.

Naquela época, o município passava por crises política e financeira, justamente as mesmas turbulências enfrentadas atualmente. “O funcionalismo público, bem como vereadores de Mauá passam por maus bocados. O pagamento não acontece há cerca de dois meses, levando o desespero a centenas de lares. Tudo contribui para tal situação. Politicamente, Mauá vive uma constante discórdia, com Executivo e Legislativo numa briga interminável e com sérias consequências”, noticiava o Diário semanas antes de Edgard Grecco ser cassado.

HISTÓRICO
Edgard foi o segundo Grecco a entrar na política. O pioneiro foi seu irmão, Waldemar, que ingressou no ramo defendendo a emancipação do então distrito de Santo André e, depois, tornando-se vereador na primeira legislatura (1955-1959) de Mauá.

Eleito três anos antes, após derrotar o primeiro prefeito da cidade, Ennio Brancalion, Edgard não tinha maioria na Câmara. Seu principal opositor, inclusive, era presidente do Legislativo: Laurindo Callegari. Outro fator que também complicava a situação do prefeito era o fato de o vice eleito, José Mauro Lacava (PTN), também pertencer à oposição.

A rivalidade política seguiu de forma intensa mesmo depois da cassação de Edgard Grecco, que também teve os direitos políticos suspensos por cinco anos. Em 23 de setembro, o Diário mostrava que o então prefeito cassado tentava reverter o impeachment na Justiça e se recusava a deixar o cargo. “O vice-prefeito já tomou posse e está despachando nas dependências da Câmara, enquanto de outro lado, Grecco também despacha e afirma que não vai entregar as chaves da Prefeitura” (veja reprodução da matéria ao lado).

A insistência não deu certo e Edgard acabou deixando a vida política – foi inocentado anos depois. O clã Grecco, porém, voltou ao poder décadas depois, através de dois de seus nove filhos. José Carlos Grecco (MDB) foi eleito prefeito em 1992 e governou a cidade entre 1993 e 1996. Já Edgard Grecco Filho (PSDB) foi vereador de Mauá por seis mandatos (1977-1982; 1983-1988; 1989-1992; 2004-2008; 2009-2012 e 2013-2016).

O ex-prefeito Edgar Grecco morreu em 24 de novembro de 2003, aos 80 anos. O Paço Municipal é batizado com o seu nome. Na história do Grande ABC, o primeiro prefeito a sofrer impeachment foi Oswaldo Gimenez (PRP), de Santo André, em 1962 – também o primeiro do Brasil a ser cassado pelo Legislativo.

Casa deve aprovar início do processo
Dentro da Câmara de Mauá, o clima é de apreensão. A tendência é a de que na quarta-feira, os vereadores aprovem o início do processo do impeachment do prefeito afastado Atila Jacomussi (PSB). Mas são raros os que apostam como essa novela vai se encerrar.

Alguns ingredientes tornam a situação indecifrável. O primeiro deles é o teor da denúncia. A PF (Polícia Federal) acusa Atila de pagar Mensalinho aos parlamentares com dinheiro desviado de contratos públicos. Ou seja, cassar o socialista com base nessa acusação serviria, em tese, como atestado de culpa dos vereadores.

Por outro lado, esses políticos só foram alvo da Operação Trato Feito porque evitaram punir o prefeito quando foi deflagrada a Operação Prato Feito. Em maio, a PF foi à cidade e levou Atila para a prisão acusando-o de liderar esquema de desvio de verba em contratos da merenda e uniforme escolares – foi solto cerca de um mês depois.

Na Câmara, dois pedidos de impeachment foram protocolados. Sob intensa articulação do então presidente da Casa, Admir Jacomussi (PRP), pai de Atila, o Legislativo rejeitou as duas denúncias pelo placar de 22 votos a um. E justamente esses mesmos 22 vereadores foram alvos da Trato Feito, desdobramento da Prato Feito. A PF cravou o posicionamento deles na votação como prova de que recebiam Mensalinho. Da atual legislatura, apenas Marcelo Oliveira (PT), que defendeu a cassação, e Chico do Judô (Patriota), então secretário de Serviços Urbanos, não foram envolvidos.

Para tumultuar ainda mais o cenário, a prefeita em exercício de Mauá, Alaíde Damo (MDB), está em guerra fria com os parlamentares. Exonerou indicações políticas no Paço e não quer recebê-los para uma conversa. Publicamente, disse que vai moralizar a política local, acabando com a troca de cargos. Ou seja, a permanência de Alaíde significa manter dias turbulentos.

O que se comenta pelos corredores da Câmara é que o rito do impeachment será mais curto (veja quadro completo acima) do que prevê a lei. Há possibilidade tudo ser encerrado em um mês.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;