Não à toa ela atende pelo nome de Estrela. Depois de deixar a profissão de manicure e uma passagem frustrada em outra instituição da cidade, ela conseguiu tornar seu sonho real, potencializando o de tantas outras crianças.

Hoje ela administra o Lar Mãos Pequenas, no Parque Sete de Setembro, em Diadema. Na companhia de sua sócia e assistente social, Maria Andréa Sobral, a coordenadora Estrela de Andrade Martins e sua equipe representam a referência de família para 18 crianças de zero a 12 anos que vivem na casa. A maioria tem histórico de violência doméstica, sexual ou abandono.

Desde agosto de 2005, quando o abrigo foi fundado, passaram pelo lar pelo menos 200 crianças. Por lá chegam menores encaminhados pelo Conselho Tutelar. Após a grande reforma na casa, realizada por meio de parceria com a empresa Tribomat-Tec, as crianças sentem-se, de fato, acolhidas e amparadas.

"O problema é quando eles não querem ir embora. Mas dessa forma sabemos que a missão foi cumprida", disse Estrela. Segundo ela, o vínculo é mantido mesmo quando os menores deixam o espaço.

Em qualquer casa de acolhimento assistencial o tempo máximo de permanência da criança é de dois anos. Aquelas que aguardam por adoção podem ficar mais tempo, caso não haja interessados. Em relação às crianças que sofreram violência, o período é determinado de acordo com o avanço na reestruturação da família, que precisa ter condições de receber o menor de volta.

As paredes coloridas deixam o local com cara de parque de diversão. Estrela faz questão de monitorar de perto as atividades do abrigo, que funciona 24 horas por dia. A coordenadora do trabalho volta para sua casa, em Santo André, apenas uma vez por semana. "Já cheguei a ficar um mês direto aqui. Elas precisam de mim e de dignidade. Nenhum deles tem culpa pelo que os pais fizeram."

Apesar da ajuda de parceiros fixos, o lar depende de doações para manter as despesas. Por mês são gastos pelo menos R$ 10 mil. A casa aceita qualquer tipo de doação. Entre os itens mais necessários estão fraldas, leite em pó, sabão em pó e papel higiênico.

METAS - Um dos próximos objetivos da equipe, composta por 13 profissionais, é arrecadar fundos para transformar a área de lazer dos menores em uma quadra esportiva. Seria preciso adequar o espaço e cercar o pátio.

Para ajudar nas atividades das crianças, é preciso também formar um grupo de voluntários. "Em alguns falta comprometimento, por isso hoje temos apenas dois", relata a coordenadora.

Atualmente a entidade procura por parcerias para introduzir aulas de informática e balé às crianças. Por enquanto os menores têm aula de capoeira e karatê.

Parceria garante reforço escolar diário

Todas as crianças com idade escolar frequentam as aulas. Para colaborar com o desenvolvimento educacional, elas dispõem, de segunda a sexta-feira, de cinco horas por dia de reforço escolar por meio do Programa Ensinando com as Mãos, parceria alcançada com o Instituto HSBC, que financia o projeto desde 2009.

O programa é coordenado pela pedagoga Tábata de Andrade Ferrer, filha da coordenadora do abrigo, Estrela Martins.

As crianças são separadas em grupo de acordo com a faixa etária, e Tábata, que tem auxílio de uma estagiária bancada pelo programa, coordena as lições segundo as necessidades de aprendizado das crianças. Pintura, atividades lúdicas e jogos também integram as recreações em sala de aula.

Algumas crianças chegam ao Lar com comportamento arredio, o que demanda maior atenção das educadoras envolvidas na iniciativa. "Além disso, muitas crianças chegam sem alfabetização. Tem que querer e ter muita paciência para realizar esse trabalho. Buscamos ser a referência delas."