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Antigos casarões na Billings são abandonados
Por Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
28/09/2008 | 07:10
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Acabou o glamour. Água suja, falta de segurança e a crescente ocupação humana das margens da Represa Billings afastaram os compradores dos antigos casarões do reservatório. Ao contrário do que acontecia há 50 anos, ter um imóvel na beira do manancial já não é sinal de status. O resultado é observado nas estradas que beiram o reservatório: casas abandonadas, à venda, em toda a região.

O mercado está em baixa. "É muita violência. Os proprietários ficam desprotegidos e, com medo de assaltos, abandonam os imóveis. Hoje, o valor de mercado não paga o investimento feito no terreno", diz o corretor de imóveis Gildásio Almeida dos Santos.

A poluição também atrapalha. "Em algumas regiões, a água já não é limpa como antigamente. Se o morador não pode praticar esportes, nadar, e ainda se sente inseguro, o interesse acaba. Eu não aceito mais este tipo de negócio. Se alguém me pede para procurar comprador, logo falo que não tem", completa Santos.

Uma das soluções é optar pelo aluguel dos imóveis. Por cerca de R$ 400, estudantes universitários utilizam o espaço das chácaras para confraternizações. "Nossa família quer vender para morar no Centro de Santo André, mas não tem muito comprador. Há três anos estamos tentando e, enquanto isso, alugamos para festas", conta Raul Klemm de Souza, morador do Parque Andreense, em Santo André.

A baixa no movimento também causa desemprego. O número de caseiros e jardineiros no entorno da represa, por exemplo, caiu. "A gente tinha bastante trabalho. Hoje tem muita casa à venda. Penso que as pessoas acham essa área fora de mão. Há seis anos, eu conseguia ganhar, fazendo bico, muito mais do que ganho no mês hoje", lamenta o jardineiro Edvaldo dos Santos, de São Bernardo.

Os proprietários que ainda apostam no potencial turístico do manancial esperam que o poder público tome atitudes eficazes para desassorear a Billings. Na região do Riacho Grande, a profundidade da água baixou cerca de seis metros, segundo José Roberto Ferreira. "Resolvi vender minha chácara. Não tem mais água e, assim, as pessoas não podem pescar ou andar de jet- sky. Quando comprei a casa, há 13 anos, era diferente."

O perfil dos freqüentadores mudou tanto que hoje a briga é por melhorias de infra-estrutura, como pavimentação e obras de saneamento. "Antigamente, os imóveis eram comprados por pessoas de dinheiro, que queriam passar o final de semana em contato com a natureza, sem luz", diz o memorialista Walter Carreiro.

"As pessoas não sabem como a represa era linda. A fiscalização, feita a cavalo, funcionava e a gente podia aproveitar. Organizava pescaria e andava de lancha em alta velocidade. Que saudade daquele tempo. A minha chácara também está à venda", conta o aposentado Jordano Bruno Dalla, 95 anos.




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