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Com título transferido, morador de Mauá é considerado morto
Júnior Carvalho
do Diário do Grande ABC
02/04/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Natural do Paraná, o comerciante Paulo Sérgio Machado, 50 anos, mora em Mauá há pelo menos três décadas. Desde outubro, no entanto, sua ligação com o Estado de origem tem dado dores de cabeça para o hoje vendedor de sorvetes do Jardim Zaíra. Ele descobriu que teve o título eleitoral transferido, sem autorização, para o município de Colombo, a 20 quilômetros da capital, Curitiba. O comerciante só descobriu o impasse em outubro, quando foi votar no primeiro turno das eleições municipais. Chegando lá, seu nome não constava na lista de eleitores de Mauá.

Machado, então, foi ao TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) para procurar entender a situação inusitada. Dias depois, porém, descobriu que o problema era ainda maior. Não só o título dele, como seu RG e todos os seus dados pessoais estavam sendo usados por outra pessoa no Paraná. O homem morreu, e em sua certidão de óbito foram colocados todos os dados de Machado. Foi aí que ele passou a ser dado como morto. “Eu imaginava que seria apenas uma fraude eleitoral e que haviam transferido meu título para votarem no meu lugar. Passados uns 20 dias fui licenciar minha moto. Aí na hora constou que eu tinha morrido. Comecei a ligar os fatos, foi quando confirmei que realmente eu estava legalmente morto”, relata. Ele conta que, em 2010, teve de tirar novo documento porque o RG que usava desde que chegou do Paraná já estava deteriorado. Foi aí que, três anos depois, seu documento antigo foi reativado por outra pessoa.

As poucas informações que Machado tem sobre o homem que usou sua identidade foram conquistadas porque, segundo ele, amigos que trabalham em cartórios paranaenses o ajudaram. “Era um ex-morador de rua, de uns 70 e poucos anos, que morava num albergue. Ele estava usando todos os meus dados, meu nome, minha filiação e data de nascimento”, explica o comerciante.

O hoje mauaense de coração acredita que outra pessoa pode ter usado o ex-morador de rua como laranja. “A capirava pode ser maior. Pode ter empresa fanstasma em meu nome. Por que um morador de rua ia pegar um RG para fazer uma fraude eleitoral? Nem acesso a isso ele teria, pois eu nunca perdi meus documentos.”

Machado diz que chegou a procurar a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, mas não conseguiu reverter o caso. “Pedi para comparar minhas digitais com as do RG. Era simples provar que esse cara não sou eu, mas não aceitaram. Disseram que só com decisão judicial”. lamenta o comerciante, que desde então tem andado com os documentos velhos e novos na carteira e o BO (Boletim de Ocorrência) para não cair em outra confusão.

Enquanto não resolve o problema, outra coisa tem tirado as noites de sono de Machado. Ele é integrante de consórcio de casa própria há 15 anos e teme que essa história complique o recebimento do crédito para sair do aluguel.

Questionada, a Polícia Civil do Paraná se limitou a informar que está apurando o caso. O TRE-SP, por sua vez, disse que “transferências fraudulentas de título podem ocorrer com a utilização de documentos falsos”, mas que os cartórios devem apurar denúncias registradas. 




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