Em meio às denúncias de lavagem de dinheiro e remessas ilegais de doações de fiéis a paraísos fiscais, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) inaugura nesta quinta, em Santo André, o maior templo do Grande ABC, obra estimada em R$ 30 milhões. A Catedral da Fé tem capacidade para acolher cerca de 4 mil pessoas num prédio de quatro andares, 12 mil m², estacionamento para 300 veículos, praça de alimentação e até heliponto.

A nova sede da IURD foi erguida na avenida Santos Dumond, 105, num dos pontos mais nobres da cidade. Quarta, operários apressavam dos trabalhos para concluir o prédio, que será palco às 15h do culto inaugural mesmo com trechos da obra inacabados. Além das celebrações, a Catedral também oferecerá aos fiéis biblioteca, creche e escola voltada ao ensino evangélico para crianças e jovens. Quatro casas fazem parte do complexo e servirão de moradia para os pastores da igreja. Durante toda a semana, nos cultos realizados na sede da rua Coronel Seabra, que será desativada, pastores e obreiros da igreja pediram colaborações em dinheiro aos fiéis. "A casa do Senhor precisa ser finalizada", diziam ao microfone.

A Catedral da Fé de Santo André é a segunda inaugurada na região; a primeira, de São Bernardo, em frente ao Paço Municipal, agrega dois mil fiéis num único culto. O Diário apurou que a IURD pretende construir mais dois templos gigantes, em Mauá e Diadema. No Grande ABC, de acordo com último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2000, cerca de 50 mil pessoas declararam-se freqüentadores da Universal, igreja evangélica fundada pelo bispo Edir Macedo. Hoje, a IURD está presente em 80 países e tem como principal líder o senador Marcelo Crivella, do PL do Rio de Janeiro, um dos pivôs do escândalo financeiro noticiado pela revista IstoÉ da semana passada.

A reportagem procurou insistentemente durante toda a semana os pastores de Santo André para que comentassem a inauguração da Catedral. Todos se negaram a fornecer informações sobre a templo, alegando que não tinham autorização dos superiores para conceder entrevistas. Mesmo agendando entrevista, o Diário não foi recebido na sede central da IURD, em Santo Amaro, na capital, na tarde desta terça. O esquema de blindagem de informações é tão grande que incide também sobre a MPC Construtora, executora da obra. Um dos engenheiros responsáveis e diretores da empresa, Paulo Henrique Salviano, disse que uma cláusula no contrato assinado com a IURD o impedia de comentar os trabalhos na nova Catedral. "Não posso dar qualquer informação técnica sobre o prédio. O contratante exige sigilo absoluto", justifica.