O ano passado rendeu ótimos frutos a Luiz Carlos Fernandes, conhecido profissionalmente pelo sobrenome. Em 2009, o cartunista do Diário recebeu seis prêmios que lhe ajudaram a ganhar como melhor do gênero na edição deste ano do respeitado Troféu HQ Mix, principal premiação de quadrinhos do Brasil que será entregue hoje, às 20h, no teatro do Sesc Pompéia (Rua Clélia, 93. Tel.: 3871-7700), em São Paulo. O reconhecimento é forma de homenagear sua trajetória repleta de conquistas e com alguns dos melhores desenhos do País.

"Foi um ano ótimo para mim. Acho que tive mais tempo para participar de concursos e salões. Quando você está mais sossegado, se dedica mais em seus trabalhos", diz o morador de Santo André, que completou 51 anos nesta semana. "O prêmio é um presente de aniversário muito bem-vindo".

Apostando na combinação entre papel canson e um tipo especial de lápis de cor alemão permanente, Fernandes consegue transformar a imagem de algum famoso em arte. Quem já ganhou vida por meio das ilustrações foi o poeta Ferreira Gullar. O ótimo trabalho lhe rendeu o primeiro lugar como melhor caricaturista no Salão do Humor de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Apesar do tom sério empregado no desenho, não ficaram de fora os traços exagerados típicos da caricatura.

Segundo Fernandes, uma obra vencedora de prêmio precisa fugir do comum e ter vida própria. "Quem é bom pega uma figura famosa que todos já fizeram e tem uma sacada nova. Tem de ir além de algo batido. A caricatura que ganha prêmio é aquela que salta do papel", afirma o artista. Para ele, uso de técnica simples ou mais trabalhada não influencia o público ou um júri.

Outro trabalho que culminou no reconhecimento de seu talento foi a colagem que homenageou o compositor, instrumentista e artista plástico mineiro Godô (1908-1983). O segundo lugar na Mostra Internacional de Caricaturas Godofredo Guedes, do portal Brazil Cartoon, foi inesperado e mostra a pluralidade como artista, sendo que a obra conta com recortes de revistas amassados e cuidadosamente moldados.

A ligação com outras áreas artísticas é antiga. "Quando comecei, fazia esculturas de barro e as caricaturas nasceram desses trabalhos. Foi um processo inverso que depois chegou ao papel." Hoje, fazer esculturas se tornou hobby - o qual confessa gostar mais do que os desenhos que faz no cotidiano.

A participação de Fernandes em concursos e salões especializados começou em 2001, quando mandou obra para o tradicional Salão Internacional de Humor de Piracicaba e venceu na categoria de caricatura. Somente no evento, já coleciona cinco prêmios. Um dos objetivos nas participações é incentivar a nova geração de artistas. "Gosto de participar de salões que têm algo a mais, principalmente quando posso servir de exemplo para os mais jovens", comenta.

Os primeiro traços começaram a se desenvolver no início da década de 1970, na pequena Avaré, no interior de São Paulo, sua terra natal. A organização de um salão de artes especial no local serviu de inspiração para o então jovem que trabalhava na banca de jornal da cidade. Mesmo não tendo terminado a faculdade de artes, Fernandes viu sua criatividade encantar públicos de Portugal, Itália e Romênia, além de participar como jurado em evento na Turquia.

Atualmente, as tiradas inteligentes e o estilo inconfundível podem ser vistos diariamente nas páginas do Diário, onde trabalha desde 1990 - apesar do primeiro contato com o jornal ter ocorrido sete anos antes. A busca por ideias para charges, ilustrações, cartoons e, claro, caricaturas tomam seu tempo dentro e fora da redação.

"Tenho de ficar o tempo todo ligado, como um jornalista mesmo. Não posso ficar parado. A única complicação são os prazos curtos que não me deixam fazer muita pesquisa", explica, ressaltando que o período de eleições é o assunto do momento.

As decisões em relação à política nacional serão deixadas de lado mais cedo hoje, pois o cartunista do ano irá celebrar a boa fase com mais um prêmio para a coleção.