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'Eu sou Ingrid Bergman' tem como base os diários e filmes domésticos da atriz
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24/12/2015 | 08:00
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Stig Bjorkman já havia feito documentários sobre Ingmar Bergman e Lars Von Trier. Em 2011, Isabella Rossellini presidia o júri de Berlim e ele estava na Berlinale participando de uma homenagem do festival a Bergman. Harriet Andersson, uma das atrizes preferidas do grande autor sueco, foi dar seu testemunho sobre o trabalho com ele. Bjorkman e Harriet saíram para comer e, então, chegou um emissário do festival dizendo que Isabella Rossellini estava vindo ao encontro de ambos, porque queria cumprimentar Harriet.

Sentaram-se todos na mesma mesa, beberam, comeram e, do nada, Isabella virou-se para Bjorkman e lançou a proposta - "Deveríamos fazer um filme sobre minha mãe, você não acha?" Foi assim, dessa maneira casual, que começou a nascer "Ingrid Bergman - On Her Own Words". Ingrid Bergman por ela mesma. Em suas palavras. No Brasil, o filme que estreia nesta quinta-feira, 24, chama-se "Eu Sou Ingrid Bergman". Bjorkman encontrou-se com Isabella e seu irmão Robertino em Paris, depois com Pia Lindstrom e Ingrid Rossellini, a irmã gêmea de Isabella, nos EUA. Toda a família apoiou a ideia do filme e os filhos autorizaram o diretor a pesquisar os arquivos que ela deixou depositados na Wesleyan University, em Connecticut. Foi lá que Bjorkman descobriu os diários de Ingrid e os filmes domésticos que ela adorava fazer. O filme começou a tomar forma em sua cabeça. Teria de ser "Ingrid in her own words", nas próprias palavras.

Tudo isso ele contou em Cannes, em maio, quando o festival homenageou Ingrid Bergman estampando sua foto no cartaz e, depois, projetando o documentário como homenagem ao centenário de nascimento da atriz. "Eu Sou Ingrid Bergman" ganhou até um prêmio de documentário. Bjorkman jura que a família não fez exigências nem interferiu em nada. Ele fez o filme como quis, do jeito que quis. Isabella e Robertino o viram pela primeira vez com o público, em Cannes. Pia e Ingrid Rossellini, informaram as agências internacionais de notícias, na première em Estocolmo. Em novembro, o filme estreou em Nova York e, há poucos dias, quase junto com o Brasil, em Los Angeles.

Grande estrela de Hollywood, grande atriz, Ingrid Bergman é uma figura icônica do cinema. Nasceu e morreu no mesmo dia, 29 de agosto, em 1915 e 1982. Seu rosto se tornou internacionalmente conhecido e admirado. "Você pode conferir seu trabalho vendo os filmes que estão todos, ou quase todos, no mercado de home entertainment. Mas o material que eu tinha era raro. Os filmes domésticos eram praticamente inéditos. E foi os que eu privilegiei", explica Bjorkman. O foco está na mulher, na mãe. Os quatro filhos contam como era sua relação com ela. Sob múltiplos aspectos, Ingrid atravessou os anos 1940 e 50 vivendo como um homem. Priorizava a carreira e, embora casada, tinha amantes - o fotógrafo Robert Capa, o diretor Victor Fleming - e isso antes de trocar o marido médico, o dr. Lindstrom, por Roberto Rossellini e uma carreira na Itália. Foi um escândalo para a puritana Hollywood da época, mas ela não recuou. Foi, notoriamente, uma mãe ausente, mas isso não marcou nem traumatizou os filhos. Todos falam dela com carinho e admiração. Se tiveram traumas, conseguiram superá-los e viver as próprias vidas.

Ela podia estar ausente na maior parte do tempo, mas quando estava com os filhos lhes dava atenção integral. Sem aprofundar muito, o filme a psicanalisa. Ingrid foi muito marcada pela morte prematura da mãe e, depois, do pai, a quem adorava. Ele foi o primeiro a fotografá-la, filmá-la. Isabella arrisca que o gosto da mãe pelos filmes domésticos talvez fosse uma forma de mantê-la conectada com o pai. Fala-se pouco dos grandes diretores com quem ela trabalhou - George Cukor, Alfred Hitchcock, Roberto Rossellini, Jean Renoir, Stanley Donen. Menos ainda do seu método de trabalho com eles. As referências são vagas. Hitchcock a magnificou, mas como? Mistério, exceto pelo que os filmes revelam.

De tudo o que descobriu sobre Ingrid Bergman, Stig Bjorkman chegou a uma (dupla) conclusão. Foi uma mulher de coragem e viveu à frente de seu tempo. E ela amava o cinema. Ao receber o terceiro Oscar - de coadjuvante, por "Assassinato no Expresso Oriente", nos anos 1970, após os de melhor atriz por "À Meia-Luz" (George Cukor, 1944) e "Anastásia, a Princesa Esquecida" (Anatole Litvak, 1956) -, Ingrid surpreendeu meio mundo ao dizer que Valentina Cortese deveria ter sido a vencedora por seu papel em "A Noite Americana", de François Truffaut. O retrato que Bjorkman propõe e apresenta pode não ser completo nem o mais acurado. Mas vale viajar nessas imagens e palavras. Os textos da própria Ingrid, recolhidos de cartas e dos diários, são lidos por Alicia Vikander. O efeito, com frequência, é mágico.

Pergunte a qualquer espectador e ele provavelmente citará, se for só um filme, o clássico romântico "Casablanca", de Michael Curtiz, em que Ingrid forma dupla com Humphrey Bogart. Os cinéfilos citarão algum de seus filmes com Rossellini. Stig Bjorkman também tem seus preferidos - "Notorious/Interlúdio", de Hitchcock, a trilogia "Stromboli", "Europa 51" e "Viagem na Itália", de Rossellini, e "Sonata de Outono", de Bergman, em que tem a cena poderosa do piano, em que a mãe humilha a filha. Liv Ullman, que faz o papel, dá, talvez, o melhor testemunho sobre a atriz e sua habilidade técnica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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