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Boato deixa Oliveira Lima sem ninguém
Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
16/05/2006 | 08:28
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Produzido pela sensação de insegurança reinante nos últimos três dias, o pânico reprimido na parte da manhã explodiu em gritos, choros mal-contidos e correria no início da tarde de segunda-feira no principal corredor comercial de Santo André, o calçadão da rua Coronel Oliveira Lima, no Centro.

Um simples boato de que 300 presos haviam escapado do Cadeião da Palmares foi o bastante para transformar uma praça comercial em imagens de puro pavor. Depois, seguiu-se o vazio da rua. O que se via eram portas de lojas fechadas. Mais parecia um daqueles filmes norte-americanos em que Nova York teve de ser abandonada em razão da invasão de alienígenas.

Começou com uma loja no fim do calçadão. A gerente ouvira falar que na outra ponta da via ocorria um arrastão. Ela fechou. O vizinho aderiu. Outros resolveram baixar metade da porta; mas reservaram uma fresta para espiar o lado de fora, para ter a convicção de que assumiram postura sensata.

De um minuto para o outro, eclodiu o pânico. Centenas de pessoas corriam e gritavam: “Ouvi tiros! Meu Deus, estão atirando!” Aí sim todos correram para o interior das lojas e ajudaram no fechamento das portas, com pressa. “Entre aqui. Não fique aí fora, está um perigo”, disse uma mulher de meia-idade, com cabelos curtos e grisalhos.

Era uma agência especializada em cartões de crédito, com o logo de um banco famoso. Mas, em um canto da loja, havia uma cena difícil de passar batida. Buscando proteção atrás do balcão, seis mulheres jovens choravam. A senhora grisalha, então, sintetizou a situação: “Vim só quitar uma conta. Posso pagar o boleto aqui do lado, mas agora estou aqui dentro e não posso andar pela rua.”

Não parecia lógico. Durante a confusão, fiquei trancado no interior da loja. Percebi que poderia sair e pedi ao segurança da agência. Ele ficou indignado. “Agora que você já entrou, quer sair. Não é bom abrir essa porta de novo.” Insisti e o segurança resolveu me atender – ou seja, aceitou a minha saída do estabelecimento.

De volta ao calçadão, avistei quatro policiais militares. Eles explicavam a uma cliente que não havia fuga nem arrastão. Era só medo. Conversei com os policiais. Quando fui pegar o nome de cada um, a mulher pegou no meu braço e advertiu: “Você não pode anotar o nome deles, pois eles estão sendo perseguidos e assassinados.”




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