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Camdessus leva torta na cara em despedida do FMI
Do Diário do Grande ABC
13/02/2000 | 15:32
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A frente do Fundo Monetário Internacional (FMI) há 13 anos, Michel Camdessus, 66 anos, terceiro francês a dirigir a instituiçao, deixa seu cargo esta segunda-feira. Alegando ``razoes pessoais', Camdessus passou por um incidente desagradável neste domingo, antes de regressar à França: foi atingido em cheio por uma torta no rosto, quando se preparava para discursar na 10ª Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em Bangcoc, capital da Tailândia.

O responsável pelo incidente da torta, o norte-americano Robert Naiman, que acabou preso pelos seguranças da Conferência, para em seguida ser levado à polícia, disse: ``queremos dizer a Camdessus, lacaio dos países ricos, que nao apreciamos sua política destrutiva aos países pobres'. Naiman disse ter participado também, em Seattle (EUA), em dezembro passado, dos protestos contra a Organizaçao Mundial de Comércio (OMC).

Na Tailândia e em outros países asiáticos, o FMI é considerado a ``besta negra' do movimento contra a globalizaçao, desde quando a organizaçao impôs um estrito programa de ajuste econômico, após a crise financeira de 1997. Nao sao poucos os que acusam a entidade de ter agravado a situaçao econômica de vários países, aplicando planos de cunho neoliberal.

Cerca de 300 manifestantes tentaram romper o cordao de segurança criado pela polícia, diante do edifício da Conferência, para se aproximar da entrada, provocando forte reaçao policial.

A manifestaçao foi promovida pela organizaçao nao governamental tailandesa Centro de Coordenaçao Social, que mobilizou sindicatos, camponeses pobres e desempregados ``por um comércio justo e contra o câmbio livre'.

Depois de se limpar, Michel Camdessus fez seu último discurso como chefe do FMI. Pediu ajuda aos países pobres, em seu último discurso como diretor-geral do FMI, apesar de ser o alvo principal dos protestos contra a globalizaçao, em Bangcoc.

Segundo ele, a pobreza é ``o maior tormento de nosso tempo. O fosso crescente entre ricos e pobres no seio das naçoes e o abismo entre as naçoes mais prósperas e as mais deseredadas sao moralmente escandalosos, economicamente desastrosos e potencial e socialmente explosivos'.

Camdessus sugeriu que a cúpula do G-8 (os países mais industrializados mais a Rússia) seja substituída, a cada dois anos, por um foro ampliado a 30 países mais representativos dos membros do FMI e do Banco Mundial.

Ele reconheceu que a globalizaçao tem funcionado até agora ``segundo os caprichos de forças técnicas e financeiras mais ou menos autônomas'. Desejou uma reforma profunda do sistema financeiro internacional, para servir às necessidades dos países em vias de desenvolvimento.

Mas do mesmo modo que em Seattle, EUA, durante a reuniao da OMC, ou em Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico Mundial, membros de Organizaçoes Nao-Governamentais arregimentaram centenas de pessoas para protestar.

Stanley Fischer assumirá interinamente o cargo do francês no FMI a partir desta segunda. Camdessus, ex-diretor do Tesouro francês e chefe do Banco da França, foi o sétimo diretor-geral do FMI e o único a ser reeleito três vezes para o posto.

Sob sua direçao, o FMI superou três grandes desafios: a crise mexicana (1995), a crise asiática (1997), com seus ecos no Brasil e na Rússia, e a reduçao da dívida dos países pobres.

Stanley Fischer, número dois do Fundo, que assume a direçao interina esperando um consenso sobre a designaçao de um sucessor de Camdessus, afirmou recentemente que Camdessus ``deu à instituiçao um liderança marcante'.

``Nos conduziu para uma nova era de reestruturaçao da arquitetura financeira global, através dos maiores sucessos da década, entre eles o fim da crise da dívida externa, a queda do muro de Berlim, a crise mexicana e asiática', declarou.

O conselho de administraçao do FMI homenageou, num comunicado, ``a habilidade e a devoçao' com que Camdessus dirigiu a instituiçao, destacando sua ``dimensao humana' no tratamento de sérios problemas econômicos.

Camdessus ``foi um dos principais arquitetos da iniciativa de reduçao da dívida dos países pobres', segundo o conselho de administraçao do FMI.




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