Setecidades Titulo Maioridade penal
Crime envolvendo menor marca família de dentista queimada

Em meio a debate pela redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, mãe de Cinthya Magaly Moutinho de Souza se declara a favor

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
19/06/2015 | 07:07
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Claudinei Plaza/DGABC


Uma família marcada pela dor. É assim a vida dos pais e da irmã portadora de deficiência da dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza, queimada viva durante assalto em 2013, em São Bernardo, aos 46 anos. À época, o então menor Jonathan Carlos Souza, hoje com 18 anos, foi apreendido por envolvimento no crime e cumpriu medida socioeducativa na Fundação Casa.

A despedida abrupta e cruel daquela que era considerada o alicerce da casa está estampada nos olhos da mãe de Cinthya Magaly, Risoleide Moutinho de Souza, 73. Ela não hesita ao dizer que é a favor da redução da maioridade penal, aprovada na quarta-feira em comissão especial da Câmara dos Deputados. “Hoje em dia as crianças estão mais inteligentes. Se começarem a ver desde pequenas esses jovens que fazem coisa errada presos, vão saber o que se deve ou não fazer. Com 14 anos, adolescentes tem plena noção dos atos.”

Após cumprir a internação pela morte da dentista, Souza foi preso em maio deste ano suspeito de envolvimento em tentativa de assalto que fez mais uma vítima fatal.

Com lágrimas nos olhos, a mãe relembrou o dia em que perdeu a filha. Ela disse que sempre orientava a dentista a tocar a campainha de casa caso acontecesse algo, já que o consultório ficava na parte da frente da residência. Naquela manhã, ela já deveria ter parado de atender pacientes. “A última paciente antes de acontecer o assalto não estava marcada, mas tinha que ir a um casamento e pediu para minha filha adiantar o serviço. A Cinthya não hesitou em fazer.”

Risoleide lembra que, no momento do crime, ela e o marido não estavam em casa. Quando retornaram, encontraram a residência cercada por policiais. “Sei que tinham menores envolvidos, mas nada vai trazer a minha filha de volta. A gente se prepara para o nascimento dos filhos, compra enxoval, mas para a morte ninguém está preparado”, disse.

O pai da dentista, Viriato Gomes de Souza, 72, disse que não ia se pronunciar e preferia deixar o assunto para os legisladores. Em 2013, ele havia afirmado à equipe do Diário ser contra a medida.

O vereador de São Paulo Ari Friedenbach é pai de Liana, morta em 2003, aos 16, depois de ter sido atacada por Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, hoje com 28. Em entrevista concedida ao Diário em 2012, ele afirmou que a redução da maioridade não resolve a questão da violência, embora, assim como a família de Cinthya Magaly, tenha sido vítima dela.

Conforme a professora especialista em Direito Penal da Faculdade de Direito de São Bernardo, Célia Regina Nilander de Souza, a adoção da medida seria retrocesso. “Não representaria queda na criminalidade e iria tirar do Estado o dever da educação desses adolescentes. O sistema penitenciário não ressocializa.”

O projeto ainda precisa passar por votação em dois turnos no plenário antes de seguir para o Senado. 




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