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Sto.André abre Maratona do Teatro do Oprimido
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
10/05/2006 | 08:14
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Opressão e oprimido terão outros significados nesta quarta e nesta quinta-feira em Santo André. Nesta quinta-feira começa a 4ª Maratona do Teatro do Oprimido, quando dez grupos locais exibirão cenas que unem arte teatral e ação social. Nesta quarta, o teórico do Teatro do Oprimido, Augusto Boal, 75 anos, receberia o título de cidadão andreense. Debilitado por uma forte virose, Boal permanecerá em repouso em sua casa no Rio e enviará um representante para a cerimônia.

"Mas eu quero minha medalha", brinca o dramaturgo, em entrevista por telefone ao Diário. Na "saudação" preparada para a homenagem, Boal diz que lembraria que seu carinho pela cidade tem razões "afetivas, mas concretas". Seu método, hoje praticado em 70 países e com 200 grupos espalhados pelo mundo, nasceu em Santo André no antigo sindicato dos metalúrgicos no início dos anos 70, durante encenação da peça A Greve.

No histórico episódio, membros da platéia se irritaram com o modo com que os atores retratavam fatos reais. Os operários invadiram o palco e começaram a interagir com os atores. "Nesse momento, percebi que algo de extraordinário estava acontecendo, mas a ficha foi caindo aos pouquinhos", afirma Boal, lembrando que estimulou a interação.

Foi no exílio a partir de 1971, que Boal sistematizou a teoria e os procedimentos do Teatro do Oprimido: uma cena com situação de opressão; depois, o ator que faz o oprimido é substituído por um voluntário da platéia. Este improvisa com ações que evitam ou acabam com o opressor.

Boal viveu também na França, onde a opressão era menos política e mais sutil, hoje nem tanto. Lá, o dramaturgo desenvolveu variantes que adotam aspectos subjetivos da sociedade (racismo ou machismo, por exemplo), vinculando o Teatro do Oprimido às lutas das minorias.

Voltou ao Brasil em 1983 e criou no Rio o Centro do Teatro do Oprimido. Recentemente esteve na Inglaterra, onde lançou A Estética do Teatro Oprimido, sem versão em português. Sua ação intermediária entre teatro e pedagogia faz dele o homem de teatro brasileiro mais conhecido e respeitado fora do país.

O diretor e autor carioca também cita Santo André em sua biografia como a cidade a qual recorreu para escapar da perseguição do Comando de Caça aos Comunistas, em São Paulo, em 1968, abrigando-se com com seus atores no Teatro de Alumínio. Desde 1997, Santo André utiliza o método do oprimido como ação de cidadania. São 12 grupos de 90 integrantes formados em oficinas. Nesta quarta-feira, às 16h, sairá da Oliveira Lima um desfile pelas ruas do Centro com atores integrantes dos grupos de Teatro do Oprimido da cidade. Seguirão até a Câmara Municipal para a homenagem a Boal, às 19h, cerimônia que abre a maratona. As peças serão na rua cel. Oliveira Lima (dia 11), no Cesa Cata Preta (dia 14) e no Teatro Municipal (dia 16). Alunos das Escolas Estaduais Valdomiro Guimarães e Clotilde Peluzo estrearão cenas criadas a partir do que observam como opressão no dia 16. (Colaborou Melina Dias)




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