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Teatro do Sesi oferece entrada franca há 40 anos
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
25/07/2004 | 19:39
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O Teatro Popular do Sesi completa 40 anos de montagens de peças de repertório e há uma década investe em trabalhos inéditos, com atores consagrados e jovens promissores. Com essas efemérides em mãos e a conclusão em junho passado da reforma após cinco meses fechado, a sala paulistana inaugurada no atual endereço em 1977, na avenida Paulista, e que oferece espetáculos gratuitos há quatro décadas, preparou um livro ilustrado especial, Teatro Popular do Sesi: 40 Anos.

Com pesquisa e texto de Álvaro Machado, projeto gráfico de Raul Loureiro e curadoria de fotos de João Bittar, a obra é um catálogo que mescla imagens e textos desta rara história de mecenato da indústria com o teatro brasileiro. A circulação é restrita – 5 mil exemplares, a serem distribuídos para bibliotecas públicas paulistanas e classe teatral.

A proposta da obra é ressaltar a parceria da indústria paulista, origem do Sesi (Serviço Social da Indústria), com o teatro brasileiro. Este paralelo representa duas escaladas em vigor na mesma época: a indústria, rumo a se tornar o mais importante parque fabril da América do Sul, e outra, a profissionalização das artes e da cultura paulista. Antonio Abujamra, Walderez de Barros, Vladimir Capella, Renato Borghi, Osmar Rodrigues Cruz (diretor do TPS de 1963 até 1990) e outros atores, dramaturgos e diretores dão depoimentos.

A união Sesi e teatro paulista iniciou-se em 1948, primeiro no teatro amador e peças ensaiadas nas fábricas com operários. A profissionalização do grupo Teatro Experimental do Sesi, como foi chamado inicialmente, principiou-se em 1961, com a comédia A Torre em Concurso, adaptação de obra de Joaquim Manuel de Macedo. Como Teatro Popular do Sesi desde 1963, ou TPS, a companhia profissionalizou-se e seguiu até 1993, inspirada no fazer artístico e na democratização do acesso oriundos do Teatro Nacional Popular da França e do Piccolo Teatro de Milão, na Itália.

Como bem coloca Machado em seu texto, essa inspiração imbuia-se de contradições para uma companhia subsidiada pela iniciativa privada. O grupo francês tinha subvenção estatal e orientação de esquerda, e o italiano era privado sem tendência popular. Dos ingressos baratos franceses a proposta evoluiu para entrada franca. Entrou em cena o teatro de repertório, entre clássicos de autores brasileiros e textos tidos como "importantes". No TPS, em sua primeira fase, linguagens experimentais e propostas sem perfil popular ("popular, mas não popularesco", ressaltava Rodrigues Cruz) não fizeram parte da companhia. A intenção era atingir um público que iria ao teatro pela primeira vez.

A partir de 1993, o Teatro Popular do Sesi mudou sua dramaturgia e passou a receber montagens de textos contemporâneos, e a realizar mostras de novas dramaturgia, intercalando com o clássico. Essa nova fase foi inaugurada em 1994 com O Inspetor Geral, de Gogol, dirigida e estrelada por Antonio Abujamra, mesmo dramaturgo e diretor, ao lado de Hugo Rodas, de O que Leva Bofetadas, de Leonid Andreiev, em cartaz atualmente no espaço. O recorde de público é da primeira fase, O Santo Milagroso (1981 a 83), de Lauro César Muniz, visto por 603,150 mil pessoas, pico da mistura de atores conhecidos, bom repertório e ingressos livres. Segundo números do Sesi, em 40 anos foram 6,6 milhões de espectadores.

Até 1977, a companhia TPS fazia espetáculos em salas alugadas em São Paulo, como o Taib (Teatro de Arte Israelita Brasileiro), no bairro Bom Retiro. A sede própria foi inaugurada em 1977 no prédio do Centro Cultural do Sesi, na av. Paulista, projetado pelo arquiteto Rino Levi. O espetáculo inaugural foi O Poeta da Vila e Seus Amores, texto de Plínio Marcos. A sala no atual endereço leva o nome de Osmar Rodrigues Cruz, e ganhou um mezanino após a reforma.

Há histórias da companhia Teatro Popular do Sesi que não caberiam num catálogo de caráter louvatório, como a saraivada de críticas da classe teatral e da imprensa a um teatro bancado pela classe patronal burguesa para a classe operária em plenos anos de chumbo da ditadura.

Na época em que a contracultura, o movimento estudantil de esquerda e mobilizações anti-regime forneciam lenha para a fogueira das provocações estéticas, comportamentais e políticas, o TPS vinha com uma linguagem moderada, calcada na "timidez" de Rodrigues Cruz, e peças tipo para toda família, geralmente de obras da literatura e do teatro nacional mais clean. Esse relacionamento TPS - classe teatral, citado de forma generalizada no livro, mereceria uma obra mais profunda, o que não é o caso deste catálogo.




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