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Zezé Polessa: exercitando a maldade
Por Flávia Swerts
Da TV Press
15/05/2005 | 15:59
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Zezé Polessa coleciona tipos cômicos. Ela até já fez uma vilã em teledramaturgia. Mas a amarga Firma, da minissérie Memorial de Maria Moura, não chega aos pés de sua atual personagem em A Lua Me Disse no quesito maldade. Enquanto Ester solta, literalmente, os cachorros em cima da mocinha Heloísa, de Adriana Esteves, o máximo que Firma conseguia era atrapalhar um pouco a vida da batalhadora Maria Moura, de Glória Pires. Ester rompe uma seqüência de personagens leves e extrovertidas na carreira da atriz, como a suburbana Marinelza, de Salsa e Merengue e a perua emergente Amapola, de Porto dos Milagres. E o reconhecimento dessa outra faceta não demorou a aparecer. "Logo que a novela estreou, minha faxineira disse: Nem dormi direito. Fiquei pensando se era você mesma na tevê. Não imaginei que você sabia fazer tantas maldades", diz.

Apesar do gosto pelo teatro, o destino quase levou Zezé para caminhos bem distantes da interpretação. Seus pais queriam que ela estudasse e se formasse e nem sequer consideravam a possibilidade de ter uma filha atriz. Quando terminou o colégio, Zezé foi para o magistério. Ela queria ser professora, já que adorava ensinar e lidar com crianças. Mas logo percebeu que aquela não era exatamente a carreira que gostaria de seguir para o resto da vida. "Queria uma formação mais profunda do que a que eu estava tendo lá. Fiquei meio perdidona".

Influenciada por uma amiga que queria estudar Medicina e por um tio médico, Zezé optou por prestar vestibular para Medicina. Começou a estudar, em 1972, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas, em paralelo ao curso, ela continuou estudando teatro e encenando peças. No quarto ano, resolveu largar a faculdade para se dedicar à atuação mas, como já era de se esperar, foi desencorajada pelos parentes. "O apelo da minha família para que eu me formasse foi muito forte e eu acabei cedendo. Terminei o curso e hoje acho que foi uma boa coisa", avalia.

Apesar de ter se formado, não houve quem convencesse Zezé a exercer a profissão. A opção por ser atriz veio alguns anos depois de formada e coincidiu com a gravidez de João Dantas, hoje com 23 anos. "Foi uma decisão madura baseada no tipo de vida que eu queria, em que atmosfera eu gostaria de viver e com que tipo de pessoas queria estar", esclarece.

PERGUNTA: Como é ser a vilã em uma trama essencialmente cômica?

ZEZÉ POLESSA: Essa foi justamente a minha maior preocupação. Desde que recebi o convite, fiquei pensando de que maneira a Ester iria entrar no meio de personagens tão excêntricos e engraçados. Confesso que no início do processo de composição sou sempre muito dramática, me sinto no olho de um furacão até conseguir encontrar o tom do personagem. Dessa vez foi ainda pior, pois eu ficava pensando em como inserir a maldade sem destoar do contexto cômico da trama. Por isso, acabei me envolvendo muito com a novela como um todo, como nunca havia feito antes. Leio os capítulos por inteiro e não apenas as minhas cenas ou as cenas do meu núcleo. Mas o que está me ajudando mesmo e me deixando muito confortável é que os autores, nessa novela, estão criando inúmeras situações para a vilã. Ela está realmente atrapalhando a mocinha e muitos outros personagens. Estamos todos indo por um novo caminho.

PERGUNTA: Você gosta de fazer laboratórios para compor suas personagens. Como você se preparou para viver a Ester?

ZEZÉ POLESSA: É no vilão que a gente faz uma catarse das nossas próprias maldades. É claro que eu não tenho a coleção de vilanias da Ester, mas percebi algumas semelhanças, mesmo que remotas, com ela. A relação com meu filho João, de 23 anos, serviu, de certa forma, como um laboratório. Percebi que faço com ele algumas coisas parecidas com o que a Ester faz com o Gustavo. Também gosto de controlá-lo, de saber onde ele vai, que horas volta. Sei que ele já é um homem, mas muitas vezes não consigo deixar de fazer essas perguntas. Ele, óbvio, não gosta muito de responder. Então, digo que me inspirei em mim mesma para compor a Ester. Além disso, assisti a vários filmes da Bette Davis, como A Malvada e O Que Terá Acontecido a Baby Jane?.

PERGUNTA: Você sentiu alguma dificuldade inicial ao interpretar Ester?

ZEZÉ POLESSA: Confesso que, de início, fiquei muito insegura. Eu me senti como se estivesse de castigo, como se eu estivesse sem recreio e não pudesse brincar. Parecia que o Miguel e a Maria Carmem tinham me colocado de cara para a parede. Comecei gravando umas 70 cenas em uma semana. Fiquei muito mal e percebi que não era só o cansaço do trabalho, mas também o conteúdo das cenas. Fiquei totalmente exaurida. Aquelas frases horrorosas da Ester não saíam da minha cabeça. Me sentia triste. A gravação acabava e eu tinha vontade de ir correndo para casa, ficar quieta no meu quarto. Concentrou muito trabalho e muita maldade.

PERGUNTA: A Lua Me Disse já está no ar há pouco mais de um mês. Você já se sente mais à vontade?

ZEZÉ POLESSA: Agora eu já estou conseguindo me divertir com a Ester. Fiquei mais leve dentro dela. Percebi que quando o personagem é tenso, o ator tem de ficar relaxado para poder enxergar o personagem com um certo afastamento. Eu tinha embarcado mesmo na maldade. Além do mais, acho que a Ester é um pouco descompensada. Tudo bem que ela tem uma tragédia na vida dela, mas esse excesso de maldade só pode ser coisa de gente doida. Estou começando a explorar mais esse lado meio louco dela.

PERGUNTA: Por que a opção pelo cabelo louro? Tem algo a ver com o visual dessas vilãs de sucesso?

ZEZÉ POLESSA: Na verdade, não. Foi uma coincidência e também achei que o tom louro se encaixava no visual da Ester. Na última novela que fiz, Agora é Que São Elas, estava com o cabelo castanho. Em seguida fiz um filme do diretor José Joffily que deve se chamar Morrer e Viver. Nele eu interpreto uma prostituta chamada Magali. No processo de composição, andei muito por Copacabana, fui a boates e vi muitas prostitutas louras. Daí resolvi pintar o cabelo. Mas tinha em mente de tirar o louro assim que o filme acabasse. Só que as pessoas começaram a me elogiar e eu fui deixando. Aí veio o convite para a novela e eu achei que tinha tudo a ver com a personagem.

PERGUNTA: Ao longo de sua carreira, você fez poucas novelas. Por quê?

ZEZÉ POLESSA: Eu não sou muito de fazer novelas mesmo. Acho que ficar sete, oito, nove meses fazendo o mesmo personagem é muito. Gosto de trocar sempre de papéis e de dar um bom tempo entre novelas até para não expor demais minha imagem. Além do mais, como tenho essa forte ligação com o humor acabo transitando muito por programas e minisséries. Eu adoro fazer essas participações.

PERGUNTA: Por falar em programas, você interpretou, em 2003, Zuzu Angel no Linha Direta Justiça. Ainda esse ano, o diretor Sérgio Rezende vai começar a filmar Angel, uma biografia da estilista, com Patrícia Pillar no papel principal. Você ficou chateada por não ter sido chamada para voltar a interpretá-la no filme?

ZEZÉ POLESSA: Ah... Um pouco. Eu tinha muita vontade de fazer o papel, mas se ele escolheu a Patrícia está bom, fazer o quê, né?




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