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É Diadema, mas pertinho de S.Bernardo
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
25/07/2011 | 07:10
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Caio Arruda/DGABC


A telefonista Jamile de Freitas, 24 anos, veio do Jardim Inamar, em Diadema. O auxiliar de escritório Edvaldo de Jesus, 26, é morador de Ribeirão Pires. O operador Edson Mendes, 29, enfrenta diariamente uma hora e meia de condução. Todos têm como destino um só lugar: Piraporinha, onde desembarcam no Terminal Metropolitano de trólebus e ônibus municipais e intermunicipais.

Localizado na divisa entre Diadema e São Bernardo, o bairro serve de passagem para moradores de toda a região e, inclusive, da Capital.

A Avenida Piraporinha concentra o comércio local, a linha do trólebus, a Paróquia Bom Jesus de Piraporinha, o Hospital Municipal de Diadema e o trânsito carregado. "Em horário de pico isso trava. Falta planejamento no retorno para São Bernardo. O motorista enfrenta cinco semáforos para dar a volta na igreja e pegar o sentido contrário", reclamou o taxista Paulo da Silva, 31.

Mesmo com o tráfego complicado, tem gente que não abre mão de vir até Piraporinha só para comprar a mandioca vendida há sete anos por Genário Lima, 54. "Já teve pessoas que vieram do bairro Eldorado só para levar meu produto. É de qualidade", garantiu.

Lima é representante do comércio informal que toma conta das calçadas da Avenida Piraporinha. As barracas vendem desde doces mineiros até CDs piratas.

ENCHENTES
O trânsito não é o único problema. Os moradores reclamam das cheias do Ribeirão dos Couros, que não foram solucionadas com a construção do Piscinão Piraporinha.
Na Rua Paula Souza, a comerciante Suzete Pereira Paiva, 51, mora ao lado do rio e pertinho do reservatório há 30 anos, bem antes do piscinão ser construído. Por saber das cheias na época de chuva, ergueu o imóvel com degraus e inclinações. "Quando chove, não alaga minha casa, mas não posso entrar nem sair", lamentou.

Segundo os moradores, o piscinão minimizou o problema por pouco tempo. "O povo joga muito lixo lá dentro e ninguém limpa. Quando chove, o reservatório transborda mesmo", reclamou Suzete.

Outro que sofre com a chuva é o aposentado José Agostinho de Oliveira, 72. Ele e a esposa, a dona de casa Maria do Carmo Souza de Oliveira, 66, fizeram comportas para tentar salvar seus móveis e objetos pessoais das águas. "Todo verão é a mesma coisa, não tem solução", reclamou Maria.

O motorista escolar João Fraga de Oliveira, 52, tem de tirar a van que usa para trabalhar da garagem todas as vezes em que o rio ameaça transbordar. "Levo para o começo da rua, pois não posso perder meu ganha-pão", afirmou.

A Prefeitura garantiu que o piscinão diminuiu o problema no bairro, mas não informou se pretende realizar novas obras no local.

Sebastião é o faz-tudo da Paróquia Bom Jesus

Ao entrar no estacionamento da Paróquia Bom Jesus de Piraporinha, no bairro, a primeira pessoa que se avista é um senhor de aparência despreocupada e boné na cabeça. Está sentado em uma cadeira de plástico branco em frente à porta de vidro da igreja. Se o sol bate diretamente no rosto, o visitante tem a impressão de que ele está dormindo.

Embora pareça desatento, Sebastião Silvério de Godoi, 60 anos, percebe cada movimento ao redor da casa de Deus, onde atua como vigia há mais de dez anos. O horário de trabalho é puxado: entra por volta das 8h e só sai depois que terminam os grupos de orações, mais de 12 horas depois. "Tenho que ficar de olho nos fiéis", disse.

Seu Sebastião, que mora em São Bernardo, acostumou-se a viver em Piraporinha. "Como fico aqui o dia todo, acabou resolvendo o que precisa no comércio local", destacou.

A vigilância é a principal atividade de seu Sebastião na paróquia, mas ele se auto-intitula o faz-tudo da igreja. "Se precisa de alguém para ficar nas barracas da quermesse, eu fico. Se a moça que faz a limpeza falta, assumo na hora", garantiu.

Com tantas atividades, seu Sebastião ainda arruma tempo para exercer sua verdadeira profissão: jardineiro. Ele cuida das plantas da igreja, mas também recebe pedidos de gente do bairro para dar uma olhadinha no jardim de casa. "Consigo limpar bem, podar as plantas sem deixar morrer. Levo jeito para a coisa", garantiu.

Leva jeito não apenas para a jardinagem, mas também para a simpatia. O homem que carrega as chaves da igreja na cintura abre as portas tanto da Casa de Deus, para quem necessita de conforto e oração, como dos banheiros masculino e feminino, para aqueles cujo aperto é apenas terreno.

"Aqui aprendi a fazer amigos. E também estou pertinho de Deus, qualquer emergência fica fácil", brincou. CG


O bairro dos muitos nomes era contra a emancipação

Quatro Encruzilhadas, Cavalheiro, Pinhauva ou Pinhauba. O hoje Bairro Piraporinha, em Diadema, teve muitos nomes ao longo de sua história.

Trata-se de um dos mais antigos do Grande ABC e, a princípio, sua população era contra a emancipação de São Bernardo, movimento liderado pela Vila Conceição e que culminaria com a criação da cidade de Diadema, em 1959.

A capela em homenagem a Bom Jesus da Pedra Fria foi erguida no século 18 e teve a primeira missa celebrada em 1882. A área passou a ser conhecida pela população como Piraporinha. Historiadores acreditam que o nome seja uma homenagem à Pirapora, município do interior de São Paulo cujo padroeiro é também o Bom Jesus.

A antiga capela ficava onde hoje é a parada de trólebus Bom Jesus. As festas religiosas e quermesses se tornaram famosas durante o século 19, atraindo muitos visitantes.

Os fundadores do bairro foram o casal José Pedroso de Oliveira e Leopoldina Maria Fagundes, responsáveis por doar o terreno para construção da igreja à Diocese de São Paulo.

Ao redor da capela começou a se desenvolver um núcleo central que interligava São Bernardo à Santo Amaro, bairro da Capital. Brasileiros e italianos foram responsáveis pelo povoamento da área, que se desenvolveu ao redor da capela. Sítios e chácaras começaram a ser urbanizados por volta da década de 1940.

Mesmo após a emancipação e devido à proximidade, os moradores do bairro costumam frequentar mais o centro de São Bernardo que de Diadema. CG

 




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