Cultura & Lazer Titulo Teatro
Vida e Glória de Norma

Atriz estreia, amanhã, peça que conta suas histórias; espetáculo 'Dias Felizes' será exibido no Sesc Ipiranga

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
04/03/2010 | 07:00
Compartilhar notícia


Norma Bengell é certeira ao relembrar suas histórias. Carrega no sorriso as lembranças das coisas boas que viveu e, na ponta da língua, quando questionada se sente falta do célebre passado, responde: "Não, o passado é passado. Vai ficar para eternidade. Ou não."

O passado, saudoso ou não, volta à tona em "Dias Felizes", peça que estreia amanhã no Sesc Ipiranga. Com texto de Beckett, direção de Emílio di Biase e produção da Cia. da Matilde, de São Caetano, o espetáculo aproveita o texto de uma mulher que rememora seus dias felizes para incluir, em projeção, filmes que recontam a trajetória da atriz.

Contrariada por ver sua vida virar ficção, a artista não deixa passar o comentário crítico: "Não sei o que uma história de Beckett tem a ver comigo, Norma Bengell. Isso é coisa do Emílio". Mas logo a conversa volta para a personagem Winnie. "Ela é otimista, como eu. Se não fosse, já estaria morta", diz.

Hospedada em hotel de São Caetano - Norma mora no Rio -, a atriz atendeu ao Diário sentada em frente a quadros de ícones do cinema, entre eles Marilyn Monroe e Audrey Hepburn. Norma diz ser ciente do seu momento de estrela, mas refuta o título de sexy simbol. "Nem sei se sou. Inventaram essa história. Meu dia a dia era acordar, tomar café e ir trabalhar", comenta.

Mas sabe enxergar o quanto atrapalhou fazer o primeiro nu frontal no cinema brasileiro em "Os Cafajestes" (1962). "É que isso fica em evidência e muita gente nem nota que fiz filmes italianos e franceses maravilhosos".

De manequim da Casa Canadá, pulou para o teatro de revista, que fez com Carlos Gomes. Logo em seguida debutou no cinema parodiando Brigitte Bardot em "O Homem do Sputnik" (1959), de Carlos Manga. Desde então contabiliza participação em mais de 70 filmes.

Célebre fora do País, chamou atenção de consagrados diretores. E arrebatou o coração de muitos galãs. Um deles, rejeitado por Norma, o francês Alain Delon. "Eu era mais bonita que ele", brinca, completando que não o quis porque não o amava.

A grande dama do cinema brasileiro chega aos 75 anos de vida, 50 deles como artista, afirmando não ter deixado passar nenhuma oportunidade em branco, principalmente a de aprender. "Fiz muito cinema, mas não fiz sozinha. Observava tudo que acontecia nas filmagens: luz, câmeras, cenários, as ordens da direção. Foi assim que aprendi tudo. Quer dizer, estou aprendendo, porque no Brasil é assim, você faz um filme e só volta a fazer outro 30 anos depois. Esquece tudo", lamenta.

Como diretora, carrega dois longas. "Eternamente Pagu" (1988) e "O Guarani" (1996). O último envolvido numa novela judicial que dura anos, por causa de notas frias encontradas na prestação de contas repassada ao Ministério da Cultura. "Mas essa história vai acabar, porque eles nunca provaram nada sobre mim".

Com a Justiça, Norma está tranquila, mas, para ela, essa história não acabará. "Quando eu ganhar o Oscar eles ainda vão perguntar: E "O Guarani"?".

Uma história à parte a da artista, foi a da mulher Norma, que sempre lutou pelos direitos femininos, brigou contra a ditadura e carregou as marcas de falar o que sempre quis. Chegou a passar longo período exilada, sendo presa e uma vez sequestrada pelo governo militar. "Brinco dizendo que quando eles não tinham ninguém para prender, prendiam Norma Bengell".

Os tantos ‘nãos' que já disse, seu retorno para o Brasil, mesmo com uma promissora carreira acenando no Exterior, o afastamento dos palcos e do cinema, sempre permeados pelas polêmicas em que se viu envolvida, nada disso é motivo de arrependimento. "Não faço o que quero, faço o que é certo. Estou tranquila, disse muito ‘sins' certos, também".

De envelhecer, a artista não tem medo nenhum. "Acho que tudo isso é sentimento. Poderia tirar todas as minhas rugas, mas prefiro saber como vai ser minha cara. Tenho medo de não me reconhecer."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;