Setecidades Titulo Chance
De volta à vida

Morador de Mauá se recupera de experiência de quase morte, após parada cardíaca

Por Bianca Barbosa
Especial para o Diário
20/05/2018 | 07:00
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Quem observa o mestre de obras aposentado José Eustáquio Brum, aos 70 anos, caminhando pelos corredores do Hospital Nardini, em Mauá, não imagina que o senhor simpático e animado acaba de passar por experiência de quase morte. Há pouco mais de um mês, ele foi vítima de parada cardíaca em casa e, após atendimento rápido, voltou à vida sem sequelas. Assim como a maior parte dos pacientes que ‘ressuscitam’, ele acredita que tem, a partir de agora, chance de aproveitar melhor seus dias. O plano é viajar mais e “extravasar”.

Pai de cinco filhos adultos e apaixonado pela mulher (a dona de casa Luzia Lourenço, 65), Brum diz que sempre levou vida tranquila, com pouco estresse. O mesmo vale para o dia 18 de abril, quando realizou atividades comuns de sua rotina (acordar cedo, tomar banho, fazer café e se alimentar, regar as plantas, caminhar). No entanto, no início da noite, ele revela ter sentido desconforto forte do lado direito do peito. Convicto de que não era nada grave, tomou um remédio. Apesar disso, os sintomas foram intensificados até que sentiu o que considera a “dor da morte”.

Luzia agiu rápido e acionou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Em pouco tempo, a equipe médica chegou e começou o procedimento de reanimação do homem. Foi constatada fibrilação ventricular (quando o coração ‘treme’ em ritmo desorganizado e o sangue não é bombeado pelo corpo) e, após dois minutos de uso do desfibrilador – aparelho que emite descarga elétrica ao tórax –, os batimentos cardíacos voltaram ao normal. Ao todo, o tempo de socorro durou 20 minutos. “Foi um momento horrível, estou me recuperando até agora”, revela a dona de casa.

Brum destaca que chegou a escutar a sirene da ambulância e lembra de responder algumas perguntas sobre os remédios que tomava para a médica. Depois disso, ele apagou. Não se sabe ao certo quanto tempo o aposentado ficou inconsciente, mas foi suficiente para vivenciar experiência inesquecível. “Vi um senhor de barba longa e cabelo cacheado. Ele disse: ‘Você está de volta à vida’. E pediu que não comentasse nada do que vi a ninguém”, revela, sem desrespeitar o pedido.

Entre as histórias contadas por quem viveu experiências de quase morte, as mais comuns são visões de seres de luz, túneis e sensação de paz. Apesar de não existir comprovação científica, estudos feitos por pesquisadores da Universidade de Michigan (EUA), em 2013, mostram que a atividade cerebral pode continuar por 30 segundos após a falta de oxigenação, causada por uma parada cardíaca ou sufocamento. Os pesquisadores alegam que os dados podem ajudar a entender o motivo de visões e relatos de experiências mentais vividas por quem ‘ressuscitou’.

Alegre e cheio de energia, Brum já fez colegas pelo hospital, muitos em virtude da atividade favorita: propagar aos quatro ventos a história de que morreu e voltou à vida. “O pessoal fala que nunca viu um morto-vivo. Olha eu aqui. Quero duas coisas: primeiro saber o porquê de ter voltado, entender minha missão. Depois, viajar, ser feliz e extravasar.”


‘Ele esteve morto em minhas mãos por minutos’, diz médica do Samu

Experiência e rapidez foram essenciais para salvar a vida do mestre de obras aposentado João Eustáquio Brum. Médica do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), Agda Teixeira de Oliveira ressalta a ‘sorte’ do sobrevivente. “A residência dele é próxima da minha base. No momento em que a mulher dele ligou pedindo ajuda, a telefonista passou a ligação para o médico regulador. Estava na mesma sala ouvindo a ligação”, relata.

Ao chegar no local, a equipe médica se deparou com Brum reclamando de dor no peito. “Ele perdeu a consciência, ficou sem pulso. Iniciamos manobras de reanimação”, destaca Agda. Após dois minutos de uso do desfibrilador, foi possível reverter a parada cardíaca. “O que aconteceu com ele é raro, pois o coração dele parou na minha frente, ou seja, todo atendimento chegou na hora certa. Ele esteve morto em minhas mãos por alguns minutos”, diz emocionada.

A médica ressalta que não esperava recuperação tão rápida na idade dele, 70 anos. “É muita felicidade. Me formei enfermeira em 2002, porque não tinha condições de estudar Medicina. Guardei dinheiro e me tornei médica em 2017.”


Massagem cardíaca ajuda a salvar pacientes

As chances de uma pessoa sobreviver após parada cardíaca aumentam significativamente se o socorro for feito nos primeiros minutos. O problema é que aproximadamente 80% dos casos ocorrem fora dos hospitais e, com isso, cabem às pessoas leigas os primeiros socorros.
Segundo o especialista em clínica médica e cardiologia Fernando Teles de Arruda, em países desenvolvidos, como é o caso do Japão, existem políticas públicas de ressuscitação cardiopulmonar para preparar a população. “No Brasil há algumas leis sobre a necessidade de desfibrilador em estádios e shoppings, mas ainda são muito fracas. É necessário fazer a difusão da importância da massagem cardíaca, pois ela salva vidas”, afirma.

Vale lembrar, segundo o especialista, que, ao contrário do que muita gente pensa, a respiração boca a boca não é mais necessária em casos de parada cardíaca, apenas a massagem.

Além de verificar as condições da vítima, é preciso acionar o Samu (192) e, posteriormente, iniciar as compressões no tórax. Devem ser realizados 100 movimentos por minuto. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;