Economia Titulo Consumo
Aumento da renda gera maiores gastos

Pesquisa revela que brasileiro compra mais com melhores salários, mas deixa de lado poupança

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
18/01/2011 | 07:21
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O chef de cozinha e empresário Carlos Edson Baima Neto tem experiência em preservar parte do faturamento de seu restaurante para realizar investimentos. Mas como consumidor, só consegue poupar se o capital estiver vinculado a uma dívida. "Consigo com o título de capitalização. Mas colocar dinheiro na conta, ou poupança, e não mexer é impossível", disse.

Neto se enquadra na média dos brasileiros. Segundo pesquisa do banco Credit Suisse, o consumidor está mais confiante na situação econômica do País, teve aumento na renda e passou a gastar mais. No entanto, a poupança ficou de lado.

De acordo com o levantamento, o crescimento real da renda nos próximos 12 meses deve variar entre 5%, para os grupos de baixa renda, e 12%, no caso dos mais abastados.

Com isso, 63% dos 1.500 entrevistados responderam que estão otimistas e aguardam melhora em suas finanças pessoais nos próximos seis meses. E o resultado dessa percepção positivista é a maior pretensão de gastos com despesas não obrigatórias, como aparelhos eletrônicos em geral e viagens.

Enquanto o consumo sobe, a poupança tem resultado morno. Segundo a pesquisa, mesmo com aumento da renda, a poupança média do brasileiro é de 10% de seu orçamento.

O percentual fica mais baixo quando comparado com a Rússia, cuja média é de 13% para poupança, na Índia 17% e na China 31%.

Para o professor do Insper e vice-presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo), José Dutra Sobrinho, faz parte da cultura do brasileiro gastar mais e poupar menos quanto tem elevação em sua renda.

"Lembro em 1986, no começo do Plano Cruzado, ocorreu a mesma coisa", disse Dutra, destacando situação semelhante também no início do Plano Real, em 1994.

"E faz sentido esse maior gasto. A nossa experiência tem mostrado que toda vez que o brasileiro está mais confiante com a manutenção do emprego, porque a economia vai bem, ele gasta mais", lembrou Dutra.

DIFICULDADE - O professor do Insper não arrisca percentual da renda que deve ser poupado. "Muitas pessoas não conseguem guardar porque gastam tudo para sobreviver. Portanto não há uma regra."

Este é o caso do eletricista Joaquim Francisco Araújo. Ele recebeu aumento no ano passado, sempre pensou em guardar dinheiro, mas as dívidas para sustentar sua família dificultam a criação de reserva. Com sorriso no rosto ele brincou. "Tem que aumentar muito o salário para conseguir guardar."

O policial Davi Alves de Lima disse que, além de contar com seu salário, faz alguns serviços extras e sua mulher também contribui com a renda familiar. "Mesmo assim não consigo guardar. Tenho de pagar as dívidas", afirmou. Ele reclamou que não está satisfeito com a economia do País. "Os preços só aumentam, principalmente os alimentos, e dificilmente a gente ganha mais."

Os gastos imprevistos também são inimigos dos consumidores. Segundo a doméstica Manuela Fernandes da Silva, uma doença imprevista em seu cachorro acabou com os planos de poupar. "E eu tinha me organizado para guardar neste ano."

Situação é reprise e deve proporcionar desaceleração

Não é a primeira vez que os brasileiros pretendem gastar, ou realmente gastam mais, com consumo. Mas de acordo com o professor José Dutra Sobrinho, depois do cenário otimista é possível que apareçam as consequências negativas.

"Em 1986, na época do Plano Cruzado, todos estavam muito confiantes. O pessoal saiu gastando muito. Lembro que tinham casos que a pessoa comprava duas enceradeiras mesmo sem ter necessidade", contou Dutra. Depois daquela época, houve recuo na economia. E o que estava fácil para o consumidor, acabou ficando bem difícil, pois a inflação atingiu níveis elevados.

Após o início do Plano Real, em 1994, Dutra disse que também houve consumismo compulsivo no País pela grande confiança na economia. E um dos reflexos negativos que apareceram foi a grande desvalorização do real ante o dólar. "Hoje a situação é outra. A economia está bem, mas o dólar desvalorizado pode se tornar um problema."




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