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Casos de sífilis crescem 24%

Entre janeiro e setembro de 2015 e 2016 notificações
da doença subiram de 361 para 447 em 4 municípios

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
07/11/2016 | 07:00
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Ricardo Trida/DGABC


Os casos de sífilis, incluindo gestantes e casos congênitos (quando a doença é transmitida da mãe para o bebê) apresentaram alta de 23,82% no Grande ABC entre janeiro a setembro de 2015 e 2016. O levantamento feito com base em dados enviados por quatro prefeituras da região (Santo André, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) mostra que a quantidade de casos da doença saltou de 361 para 447 ao longo do período. Embora tenham apresentado seus números, as demais cidades não desmembraram os dados por mês.

O montante registrado na região reflete o cenário alarmante que o País vive em virtude do aumento de ocorrências da doença. No mês passado, o Ministério da Saúde reconheceu estado de epidemia em todo o território nacional para os casos de sífilis. Conforme dados do Boletim Epidemiológico, entre os anos de 2014 e 2015, a sífilis aumentou em até 32,7%.

De acordo com o infectologista e responsável pelo Nupaig (Núcleo Multidisciplinar de Patologias Infecciosas da Gestação) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Jorge Senise, o aumento dos números cobra ações urgentes do poder público para conscientização da população.

“Isso tem que fazer antes de virar epidemia e vale para outras DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).Muitas vezes, se espera chegar no nível de aumento e não tem grande controle sobre isso. Infelizmente, o preservativo é pouco utilizado. E a grande chance que temos é fazer essa prevenção.”

Segundo Senise, a necessidade da campanha de conscientização se dá também sobre o atendimento a à rede básica. Atualmente, os testes rápidos para sífilis estão disponíveis nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e também o tratamento, que costuma ser realizado na maioria dos casos com a injeção Benzetacil, que utiliza a Penicilina em sua fórmula.

“De forma geral, todos os postos estão equipados para o atendimento, até mesmo quando falta a Benzetacil há outras alternativas de tratamento, o que precisa é a informação. Se eu chegar na UBS, vou ser atendido, não é uma coisa complicada. Mas a falta de conscientização é o que gera aumento de casos”, disse. “A sífilis é um produto de má educação sexual”, concluiu.

No mês passado, durante a apresentação dos dados da doença, a diretora do Departamento de HIV, Aids e hepatites virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, destacou a necessidade de a população realizar exames preventivos com mais frequência. “Grande desafio é o início precoce, já que culturalmente as mulheres tendem a procurar o médico apenas quando a barriga aparece, o que diminui as chances de cura da sífilis para a mãe e facilita a transmissão da doença para o bebê”.

Na ocasião, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, ressaltou o empenho do governo federal em combater a alta incidência da doença. “Nosso objetivo é reunir a sociedade no esforço de combate à sífilis. Assim poderemos incentivar o tratamento, principalmente das mulheres grávidas, a fim de evitar a transmissão vertical da doença. Trazemos soluções factíveis no compromisso que assinamos hoje”, enfatizou.

Neste ano, a campanha de combate à sífilis terá como foco as gestantes jovens e seus parceiros, sensibilizando-os para a realização do teste de sífilis no início da gestação e, também, incentivando o parceiro a fazer o teste, evitando a reinfecção. A campanha incluiu peças gráficas (cartaz e folheto), filme publicitário e um minidocumentário – Gestação Segura, Criança Saudável.

 

REGISTROS

São Caetano lidera o ranking de casos da doença no Grande ABC. O município que no ano passado teve 259 registros, neste ano viu esse índice apresentar alta de 13,51%, o que representa total de 294 casos.

Rio Grande da Serra, por sua vez, apresenta a maior alta de notificações da doença no último ano. Em 2015, a cidade anotou dois casos. Já neste ano foram 21, alta de 950%.

Em Santo André, o aumento no período foi de 9,09%. No período de janeiro a setembro de 2015 a 2016 a cidade viu a quantidade de notificações da doenças saltar de 66 para 72 casos.

Já em Ribeirão Pires, a quantidade de casos de sífilis saltou de 34 para 60 no período analisado, o que representa aumento de 76,47%.

 

Quantidade de testes rápidos feitos na rede básica supera 19 mil

 

Unidades de Saúde pública do Grande ABC foram responsáveis por realizar de janeiro a setembro deste ano um total de 19.957 testes rápidos que determinam se o paciente está infectado por DST (Doença Sexualmente Transmissível). O levantamento que tem como base dados enviados por cinco prefeituras da região (Santo André, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) mostra que por dia, em média, foram realizados 72 exames.

Segundo o infectologista e responsável pelo Nupaig (Núcleo Multidisciplinar de Patologias Infecciosas da Gestação) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Jorge Senise, o teste é rápido e dura em média 20 minutos. “A sífilis é uma infecção por via sexual e é de fácil diagnóstico. O exame clínico é muito simples, porque é uma lesão no órgão sexual. Como ela não dói, na mulher pode passar desapercebida, ao contrário do homem.”

Apesar da facilidade para o diagnóstico e tratamento em casos mais simples, o especialista alerta que ter a doença não gera imunidade e que a evolução do vírus pode trazer sérias complicações. “Depende da evolução, ela pode apresentar complicações cardiovasculares e neurológicas.”

 

NÚMEROS

Santo André lidera o ranking da quantidade de testes rápidos aplicados neste ano com total de 8.701 exames. O município foi seguido por Mauá (6.034), São Caetano (3.857), Ribeirão Pires (1.000) e Rio Grande da Serra (365).

São Bernardo e Diadema não forneceram dados sobre o número de procedimentos realizados no período.

 

Campanhas de conscientização ainda não acontecem

 

Ações em conjunto para divulgação da sífilis já chegaram a ser discutidas no colegiado regional de gestão, entre as prefeituras e o governo do Estado. Porém, a sífilis ainda não é pauta de campanhas de conscientização para a população no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.

“Já participamos de dois fóruns para tratar do tema da assitência pré-natal e ao recém-nascido sobre o assunto e já tivemos duas mesas redondas com especialistas, um dos temas principais foi a sífilis e a sífilis congênita. A gente tem tratado, feito conversas de estratégias no colegiado, já que é importante a participação do Estado”, classificou o coordenador do GT (Grupo de Trabalho) de Saúde do Consórcio, integrante do colegiado e secretário da área em Santo André, Homero Nepomuceno.

Ele destacou campanhas realizadas para o acompanhamento das gestantes, porém reafirmou a importância de ação maior. “Há necessidade de campanha conjunta, porque em um só município, o impacto fica muito restrito. Precisamos de abordagem geral, até mesmo em campanhas estaduais e federais”, afirmou.

 

PREFEITURAS

Santo André destacou que a rede de atenção básica tem protocolo pré-definido para diagnosticar e tratar os casos. Dessa forma, o atendimento é realizado nas 33 unidades da atenção básica. Em caso positivo, os parceiros também são orientados a fazer tratamento.

São Caetano também destacou o respaldo no atendimento em toda a rede, além de grupos regionais de discussão sobre Saúde na gestação, onde o assunto é debatido. Em Diadema, médicos e enfermeiros da Atenção Básica receberam capacitação para a doença e realização do teste rápido para sífilis, HIV e hepatites, no início deste ano. O Departamento de Vigilância à Saúde participa de reuniões periódicas do Comitê Regional de Transmissão Vertical de Sífilis Congênita.

Mauá tem cronograma de reunião mensal com representantes dos núcleos da Atenção Básica, Especializada, além de hospitais para monitoramento dos casos de sífilis congênita.




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