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Palavras com vida própria
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
23/08/2009 | 07:05
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Às vezes dá vontade de ter um bloco e uma daquelas canetas de crítico, com uma luzinha na extremidade, para anotar ali mesmo, no escurinho do cinema, os momentos inspirados - ou nem tanto, mas nem por isso menos memoráveis - dos roteiristas. Foi pensando nisso que o jornalista Renzo Mora resolveu reunir diálogos e frases ditas em filmes de todos os tempos no livro Cinema Falado (Casa & Palavras, 190 páginas, R$ 25), que relança em 1º de setembro em segunda edição. A nova versão, revista e atualizada, vem ainda com o título autoexplicativo 25 Filmes que Podem Arruinar Sua Vida.

"O livro foi muito bem aceito porque apela para a memória afetiva das pessoas. E isso, sem falsa modéstia, não é mérito meu", simplifica o autor, um apaixonado por Casablanca, que mereceu quase 20 citações em seu livro. "Nunca foi dito ‘Play it again, Sam', como nos acostumamos a repetir. A frase correta é ‘Se ela pode aguentar, eu posso. Toque'", recita o autor.

Se o clássico de 1942 com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman mereceu destaque por preferência do autor, o roteirista mais presente é Woody Allen, que com seu famigerado humor neurótico conseguiu manter atuais diálogos escritos há quase 40 anos. Foram nada menos que 18 trechos retirados de filmes seus. "Tive a preocupação de escolher frases que sobrevivessem bem fora do contexto do filme. Não seria legal ter de acompanhar todo o enredo para entender a frase ", afirma Mora.

Apesar de ter passado por uma atualização, Cinema Falado funciona como um resgate de discursos clássicos. Estariam os novos roteiristas menos eficientes na arte de redigir frases marcantes? Para o autor, a evolução técnica influenciou de maneira direta o teor dos textos cinematográficos. "A explosão dos efeitos fez com que o cinema atual tenha menos ênfase no roteiro", acredita. A formação dos cineastas mais novos também explicaria a qualidade dos diálogos. "Os roteiristas antigos se formaram pela literatura. Já os novos se formaram pela televisão", justifica.

Acatando críticas ao primeiro tratamento do livro, que não trazia pérolas da produção audiovisual brasileira, Mora acrescentou diálogos escritos originalmente em português. Da docilidade de Paulo César Pereio e Matilde Mastrangi nas chanchadas setentistas até os mantras do Capitão Nascimento de Wagner Moura em Tropa de Elite, a sétima arte tupiniquim está bem representada.




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