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'Governo está exaurindo tudo o que conseguimos acumular', diz Aníbal
Cristiane Bomfim e Marcos Seabra
18/05/2009 | 07:00
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"O Brasil precisa de um novo ciclo, ao terminar esse governo Lula". A frase, do líder do PSDB na Câmara dos Deputados, em Brasília, José Aníbal, sintetiza sua posição em relação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Aníbal é diplomático com o governador José Serra ao apontá-lo como em "posição de referência" e virtual candidato à Presidência da República pelo PSDB, mas não esconde que o governador mineiro Aécio Neves, o outro postulante à vaga na disputa em 2010, tem lá seus méritos. "Desta vez não sairemos divididos", gante o deputado, referindo-se às desavenças entre Serra e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin que ‘empurrou' goela abaixo do PSDB sua candidatura à Presidência em 2006 e, depois, à prefeito da Capital, em 2008.

Sempre disposto a encontrar ‘brechas' no governo petista, Anibal aproveita a oportunidade, em entrevista exclusiva ao Diario, para afirmar que as mudanças na caderneta de poupança preconizadas pelo governo é um "absurdo". "Poupança não é aplicação, não é investimento. Isso tudo é um absurdo", disparou o deputado tucano. Anibal largou a diplomacia ao classificar o programa ‘Minha Casa, Minha Vida' como outro PAC (Programa de Aceleração do Desenvolvimento), fadado ao insucesso. Como, aliás, o original. Lei a seguir os principais trechos da entrevista com o deputado tucano.

REFORMA POLÍTICA
"Quatro partidos. O DEM, PT, PMDB e PPS tentaram há dois meses avançar na questão da reforma política defendendo o voto em lista. No fim de semana passado, me disseram que tinha uma proposta desse pessoal e eu chamei o Ibsen Pinheiro (deputado federal pelo PMDB-RS) para conversar. Ele explicou que a minuta que foi possível construir em um acordo entre esses quatro partidos continha o voto em lista pré-ordenada e o financiamento público de campanha."

LISTA FECHADA
"O impulso fundamental da reforma política tem de se mudar a relação do eleitor com o eleito. E tem muita gente que é contra a lista porque acredita que ela vai esconder ainda mais o deputado. Esta é uma das razões pelas quais eu questiono o voto em lista."

POSIÇÃO DA BANCADA
"Eu ainda não tenho uma posição fechada, porque o líder tem de ter a posição da bancada. Espero que esta semana tenhamos uma definição. Fizemos uma reunião que ficou mais ou menos meio a meio. E é por preocupações completamente fundadas. Tem gente que é inteiramente a favor, mas que considera que realmente não se pode abrir mão de introduzir um avanço na direção do voto distrital. Fazer todo um esforço para mudar o que está aí e não contemplar nada em matéria de distritalização do voto é complicado. O voto distrital aproxima definitivamente o eleitor do eleito, mesmo que o seu candidato não seja eleito."

VOTO DISTRITAL
"Eu tenho tentado forçar a discussão do voto distrital na Câmara. São Paulo tem 70 deputados. Roraima, Rondônia, Amapá, Acre, Amazonas tem oito cada. Em cada um desses Estados que tem oito, podemos dividir em dois distritos. Um distritão elege quatro e o outro distritão elege também quatro."

INVIABILIDADE
"A consulta pública é um excelente procedimento e talvez seja um dos indicativos de que não tem nenhuma viabilidade a reforma política agora. Porque diante da falta de segurança sobre isso, está se permitindo que valha a partir de 2014, mesmo que se faça alguma coisa. Só se faz reforma no primeiro ano de governo, depois é muito difícil de fazer. Acho que as chances de não haver essa reforma política são muito grandes."

POUPANÇA
"O governo criou essa associação entre redução de taxa de juros e tributação da poupança. Mas a poupança é renúncia ao consumo. Você abre mão do consumo para guardar o dinheiro para um imprevisto qualquer. Ela existe há 40 anos. Poupança não é aplicação, não é investimento. É um absurdo o que eles fizeram e ainda desoneram a aplicação que é outra coisa. Aplicação é um dinheiro que você tem a mais e aplica para render. É ela que deve ser onerada, tributada."

MAIS TRIBUTOS
"Não tenho dúvida que na próxima redução da taxa de juros, eles (o governo) vão dizer que terão de tributar poupanças com até R$ 30 mil depositados. Depois, até R$ 10 mil. Daqui a pouco toda a poupança é tributada. Esse é um primeiro passo e não para aí."

OPOSIÇÃO
"O Lula (presidente) se acha também na condição de dizer como deve ser a oposição. Ele foi o maior irresponsável quando era oposição. Inviabilizaria o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) se tivesse tido sucesso e não teria o que ele tem de melhor hoje. É o sistema bancário que nos diferencia dessa crise que vivemos hoje."

FINANCIAMENTO PÚBLICO
"Eu, pessoalmente, ficaria muito mais a vontade se o dinheiro usado nas campanhas fosse público, com critérios muito bem definidos, rígidos e com transparência. Acho que de fato o momento é o mais inadequado. A percepção que a sociedade tem é aquela de que agora os políticos vão pegar o dinheiro para financiar a própria campanha. A idéia vai ser essa."

LULA
"Ele não tem nada a ver com essa reforma. Ele levou até uma proposta para Câmara, mas e daí? Deputado vai dar mais ou menos atenção, neste momento, a uma proposta só porque ela veio do governo? O deputado dará essa atenção a uma proposta do governo se ela for feita no início da gestão, porque isso mostra que há um ânimo reformista que é para valer e que o governo quer fazer a reforma política."

MINHA CASA, MINHA VIDA
"Como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não estava funcionando, o governo inventou o Minha Casa, Minha Vida. E inventou de uma forma esperta. No País há entre sete e oito milhões de pessoas que não têm uma parede hidráulica, que é a pia de um lado, o chuveiro e a privada do outro. Esse é o maior sonho dessas pessoas. E o governo sabe disso e decidiu dar uma tacada de qualquer jeito nesse assunto. Pensaram em 500 mil no início. Dali a pouco, acharam que era pouco e saltaram para 1 milhão. Aí disseram ‘mas 1 milhão não faz'. Aí o Lula respondeu que diria que não tem compromisso. Ele é um cara de pau! E disse ‘não me pergunte quando'. Agora você acha que um novo governo em 2011 vai querer fazer o programa do Lula?"

SUCESSÃO
"Dizem que não há hipótese de um terceiro mandato do Lula. De fato, para mudar a Constituição, seria necessário parar o Brasil, ainda mais no meio dessa crise econômica. Portanto, o candidato é a Dilma (Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil). Nós temos dois pré-candidatos. O José Serra (governador de São Paulo) e o Aécio Neves (governador de Minas Gerais). Os dois são muito bem avaliados do ponto de vista de gestão, do ponto de vista político e de agregação. E o Serra, sem dúvida nenhuma, tem uma posição de preferência nítida. Se nós não conseguirmos fazer essa convergência na conversa, vamos fazer prévia."

SERRA
"O Serra tem uma enorme responsabilidade. Ele sabe que tem uma característica muito importante para presidir o País. Não só de gestão e de administração, mas de compromisso efetivo com as pessoas. Essa iniciativa dele de fazer seis hospitais para pessoas com deficiências é algo que realmente merece consideração e que distingue a postura do Executivo. É uma visão abrangente da sociedade, de procurar atender a todos. E o Aécio também tem sido um bom administrador."

CICLO
"O Brasil precisa de um novo ciclo, ao terminar esse governo Lula. Porque ele pode concluir o mandato exaurindo tudo o que nós (PSDB) conseguimos acumular. Esgotando a nossa capacidade de fazer superávit, de investir. Esse governo não tem capacidade nenhuma de investimento. Ele não fez PPP (Parceria Público Privada). As agências estão todas capturadas. Todas, de A a Z. São imprestáveis as agências reguladoras hoje no Brasil. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), por exemplo, nada mais faz do que chancelar negócios de telefonia. Interesse do consumidor, qualidade do serviço? Isso não existe para eles. Não acrescenta em nada em termos de fiscalização e regulamentação.




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