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Presidenciáveis não dialogam com eleitor, avalia especialista

Discursos de Dilma, Aécio e Campos ainda não adotam linguagem coloquial e atingem apenas militantes partidários

Por Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
19/05/2014 | 06:28
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A cerca de cinco meses de serem avaliados nas urnas, os pré-candidatos à Presidência da República, que aparecem nas primeiras posições em pesquisas de intenção de voto, ainda não encontraram um tom no discurso que dialogue diretamente com o eleitorado. Essa é a avaliação do especialista em oratória política, o professor Alcides Schotten, que estudou a fala da presidente Dilma Rousseff (PT), do senador Aécio Neves (PSDB) e do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB).

Para o especialista, a maior parte do eleitorado brasileiro, que gira em torno de 139 milhões, se utiliza de linguagem coloquial, que traz expressões do cotidiano, do papo sobre futebol e a discussão na padaria, por exemplo. Esse vocabulário é ausente na fala dos presidenciáveis que adotam o politiquês e criam barreiras para se identificar com o povo. “Como é a massa que decide a eleição, é preciso usar linguagem popular”, disse Schotten, que avalia que os virtuais candidatos ainda falam para suas bases de apoio.

Em busca do segundo mandato à frente do Palácio do Planalto, Dilma tem argumentos técnicos e bem fundamentados. Porém, deixa a desejar na linguagem corporal e no emprego de metáforas populares. “A Dilma se dá muito bem no meio intelectual, mas tem muitas dificuldades com a linguagem coloquial. O (ex-presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva) tem um discurso coloquial e utiliza muito bem as metáforas, a Dilma precisa ser orientada a dialogar melhor com a população. Acredito que ela vai se sair bem nos debates, pois argumenta, enfrenta e contesta muito bem”, comentou.

O pronunciamento feito pela presidente, em rede nacional no dia 30, que garantiu aumento de 10% em repasses do Bolsa Família, por exemplo, foi visto como uma resposta ao coro do PT pelo “volta, Lula”. “Está começando a linguagem de campanha. Ela confronta o PT e demonstra integridade. Deu um basta ao ‘volta Lula’ e mostrou que tem estrutura para brigar pelo segundo mandato. Ela pode não ter a linguagem e carisma do Lula, mas tem uma burocracia melhor e é mais técnica”, disse Schotten.

Entre Aécio e Campos, na visão do especialista, há a dúvida sobre quem irá disputar o segundo turno do pleito contra Dilma, além de buscarem espaço no meio político. Ambos são de famílias tradicionais na política. O tucano é neto de Tancredo Neves – eleito presidente em 1985, mas faleceu antes de tomar posse. O socialista é neto de Miguel Arraes, que também governou
Pernambuco.

Visto como herdeiro da oposição, Aécio tem discurso avaliado como inseguro e direcionado a dirigentes e militantes do PSDB. “Tenho a impressão de que ele ainda está pedindo um espaço para o PSDB. Não tem uma postura de assumir a candidatura e passa insegurança. Ainda não achou um discurso. Fala muito rápido e gesticula muito com uma linguagem intelectualizada. Reflete o meio em que vive.”

O tucano também precisa analisar os argumentos de seus adversários para poder rebater e desconstruir teses. Sobre propostas, Schotten considerou que Aécio tem dificuldades em promover integração nacional e foca no conteúdo regional. “Porém, o Aécio tem bem definido o discurso econômico e os pontos de reforma, mas precisa aprender a pausar mais na fala para o espectador assimilar a ideia.”

Já a fala de Campos também é vista como intelectualizada. “Fala de maneira mais universal do que o Aécio, se esforça para entender o Brasil como um todo e pode se tornar o principal adversário da Dilma”, comentou o especialista. O complicador, na visão de Schotten, no entanto, está nas parcerias firmadas pelo socialista. “Já fez uma aliança estranha com a (ex-senadora) Marina (Silva) e não deixa nítido seu plano. Parece que o PPS (também aliado) quer rever pontos que são socialistas demais. Isso vai comprometer um pouco a campanha.”

O professor e filósofo Schotten é fundador e diretor executivo da escola Methodus, entidade que oferece curso de formação de lideranças em oratória. 




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