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Márcio França: ‘São Paulo virou a vergonha do País na pandemia’

Socialista criticou as medidas adotadas no período da pandemia

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
27/07/2020 | 00:01
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Banco de Dados


Ex-governador paulista, Márcio França (PSB) sustentou que o Estado, sob comando de João Doria (PSDB), virou a vergonha do País durante a pandemia do coronavírus, “com milhares de mortes e toda população quebrada”. Em entrevista ao Diário, o socialista criticou as medidas adotadas no período. “Tudo o que fizemos foi errado (…) São Paulo deveria ter controlado em janeiro a entrada em Guarulhos.” Sobre o processo eleitoral no pleito municipal da Capital, França falou em revanche contra a chapa tucana, de Bruno Covas, tendo Doria na retaguarda. “Se nós ganharmos, Doria não terá sequer coragem de disputar a Presidência”, avaliou o político, que ainda colocou em xeque as promessas relacionadas ao Metrô no Grande ABC.

A pandemia do coronavírus ainda assola São Paulo e o País, mesmo depois de quatro meses de quarentena. O que o sr. teria feito diferente na condução das ações para minimizar o impacto da crise? Qual teria sido sua postura como gestor desta instabilidade histórica no Brasil, incluindo as decisões adotadas na Capital e no Estado?

Tudo o que fizeram foi errado. São Paulo virou a vergonha do País (na crise), com milhares de mortos e toda população quebrada. Em Medellin, na Colômbia, com 2,5 milhões de habitantes, morreram quatro pessoas (25 em números atualizados). O Estado de São Paulo deveria ter controlado em janeiro a entrada em Guarulhos, medindo a temperatura e isolando as pessoas, se necessário. Fizemos o contrário. Mesmo sabendo que em dezembro já havia pandemia na China, fizemos o Carnaval da pandemia. Apostamos na tempestade, colhemos o desastre. Para piorar, temos visto as indecisões: (esquema de) rodízio ridículo, falta de prevenção no transporte público, vacinas de Papai Noel. Enfim, somos campeões mundiais do fracasso.

O sr. acredita que é possível sairmos a curto prazo desta crise sanitária, mesmo tendo em vista posturas como a do desembargador Eduardo Siqueira, que se negou a usar máscara e ainda rasgou a multa? Qual a sua avaliação do País pós-pandemia?

É possível. Uma das tarefas das eleições é devolver a esperança. A deste ano pode cumprir este papel. Menos papo de esquerda e direita e mais papo reto. Se acertarmos nas urnas temos chances, senão vamos ficar com a poeira. A atitude do desembargador (em Santos) foi como a do (governador João) Doria (PSDB): eu mando, eu posso, eu decido. O mundo atual já não suporta essa arrogância.

Como a candidatura própria do PSB na Capital pode alterar a configuração das campanhas na Região Metropolitana de São Paulo, principalmente no Grande ABC? Como será sua movimentação na Capital para que haja sinergia política entre as forças do partido?

O número 40 (do PSB) foi vitorioso na Capital e no Grande ABC, contra o 45 na última eleição (em 2018). Vamos ter uma revanche com o ‘BrunoDoria’ (em alusão ao prefeito Bruno Covas e a Doria), como foi BolsoDoria (o presidente Jair Bolsonaro e Doria). Quem achar que o Doria deve ser o presidente da República em 2022, deve votar 45. Quem achar que não, sabe que aqui tem palavra e que, se nós ganharmos, Doria não terá sequer coragem de disputar a Presidência. Eles torcem para o PT (com Jilmar Tatto) ir para o segundo turno, porque é mais fácil para eles derrotarem. Conosco, é debate na jugular, como foi na passada.

Qual a projeção do PSB para as eleições municipais no Estado de São Paulo? A estimativa estudada é assumir o comando de quantas prefeituras? Como a região entra neste quadro e qual perspectiva sobre as candidaturas majoritárias nas sete cidades?

Ganhamos em muitas cidades na última eleição municipal, como Guarulhos, Campinas, Mauá, Guarujá, entre outras. Mas nada é igual a Capital. Se ganharmos, tiramos o Doria do jogo de 2022. Isso será bom para ambas as partes e para o Brasil. Obrigará ele a, finalmente, cumprir sua palavra e ficar os quatro anos como governador.

Como será enfrentar Bruno Covas, a quem o sr. já disse, anteriormente, estimar como figura pública, até por conta da relação familiar? Como considera a disputa eleitoral com o PSDB pela Capital?

Pessoalmente, não tenho problemas com o Bruno. Tive ótima relação com seu avô (Mário Covas, morto em 2001). Mas, sinceramente, o Bruno hoje é refém de uma engrenagem que envolve a Câmara de São Paulo e o governador. Ele, apesar de ser o prefeito, não tem protagonismo nas decisões e está vivendo um momento pessoal complicado. Basta ver as entrevistas coletivas sobre a Covid. Ele parece um funcionário do Doria. A cidade de São Paulo não pode ficar refém dessa dobradinha que eu costumo chamar de hashtag BrunoDoria.

Quais têm sido suas medidas pessoais, durante a quarentena, para iniciar essa pré-campanha em período de pandemia? Acredita que será viável fazer campanha de rua mesmo diante do adiamento da data da eleição para o mês de novembro?

Será uma eleição totalmente diferente. Quem está no poder está tentando tirar proveito disso, com doações que não eram permitidas em período eleitoral e que agora estão acontecendo sem nenhum tipo de fiscalização. Tenho investido em lives (transmissões ao vivo) e em redes sociais, é o que se tornou possível neste momento. Acredito que a televisão (com a propaganda eleitoral gratuita) terá um papel super importante também (neste aspecto).

O sr. teve a carreira política construída na Baixada Santista, mais especificamente em São Vicente, passando pelos cargos de vereador e prefeito em duas oportunidades. Por qual razão resolveu mudar domicílio eleitoral? Como acredita que pode contribuir na disputa paulistana?

Na verdade essa mudança não é de agora, para esta eleição. Já vivo em São Paulo há alguns anos, desde que virei secretário de Estado. Na última eleição municipal, em 2016, meu domicílio eleitoral já era por aqui. E nem imaginava disputar a prefeitura. Mas encarei esta eleição como um chamamento. Estamos vivendo um momento atípico. Tenho experiência o suficiente para saber enfrentar os problemas e capacidade de interlocução para amenizar o clima político, que hoje é beligerante no País. O prefeito de uma cidade como São Paulo tem condições de fazer isso. É um dever nacional. São Paulo deve conduzir o Brasil.

Como está sua relação atualmente com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin? Qual a sua avaliação, como político e conhecedor do meio jurídico, sobre o indiciamento do tucano pela PF (Polícia Federal) por corrupção e lavagem de dinheiro?

Geraldo Alckmin é um homem leal e correto. Ao contrário do que dizem alguns tucanos, eu reafirmo: é mais fácil o oceano secar ou o Doria começar a falar a verdade do que o Alckmin ter R$ 1 de corrupção no seu bolso.

Quem o sr. acredita que Geraldo Alckmin vai apoiar na disputa eleitoral pela prefeitura de São Paulo? O sr., que já foi seu vice no Estado, o procurou para tratar do assunto? 

Alckmin é uma figura importante do PSDB e certamente vai apoiar o candidato tucano, que deve ser o Bruno. É sua obrigação.

O PSB recebeu apoio do PDT na disputa pela prefeitura de São Paulo neste ano. Essa adesão eleitoral se traduzirá em suporte do PSB à possível candidatura a presidente do ex-ministro Ciro Gomes em 2022?

Cada eleição tem sua história. Mas o gesto do PDT de nos apoiar, sem exigir nada, nos tornou – em tempo de TV – maior que o PT. Foi decisivo. A lealdade é uma marca do caráter.

O PT conseguiu ir para o segundo turno nas últimas cinco eleições presidenciais. Como enxerga o cenário político para a próxima eleição ao Planalto? Acredita que o ex-presidente Lula ainda tem musculatura para brigar pelo cargo com chance de vitória?

Lula é muito forte, mas não estará na disputa. Seus admiradores e simpatizantes estão com saudades de ganhar, não só de disputar. Conosco, sabem que a ‘cobra vai fumar’ para os tucanos no segundo turno.

Qual a sua análise do governo Jair Bolsonaro (sem partido) nestes 18 meses de gestão, incluindo a postura do presidente durante a pandemia?

Eu não declarei apoio a nenhum dos candidatos à Presidência no segundo turno, estava focado na eleição estadual. Fui pressionando para declarar apoio ao Bolsonaro e não fiz. Ao contrário do Doria, que se agarrou nele para conseguir mais votos e no dia seguinte o traiu. Acho que o atual presidente é um rapaz com pouca experiência administrativa. Uma coisa é viver no Parlamento, outra é no Executivo. Por isso, ele tem enfrentado essas dificuldades todas.

Falando em relação à última concorrência ao governo do Estado, o sr. participou de um segundo turno acirrado como há muito tempo não acontecia em São Paulo. Após passado esse período, o que, na sua visão, foi o detalhe que resultou na derrota e qual a avaliação a respeito do governo Doria?

Sempre falo que não são os outros que ganham a eleição, somos nós que perdemos. De alguma forma, o Doria conseguiu convencer um número um pouco maior de pessoas do que eu. Certamente, o fato dele grudar no Bolsonaro o ajudou, porque o momento favorecia isso. Mas acho que as pessoas que votaram nele estão arrependidas hoje, porque, no fundo, ele não tem nenhuma noção da coisa pública. É uma pessoa que obteve sucesso na iniciativa privada, com méritos. Mas a administração pública é completamente diferente. Comentam muito sobre os erros cometidos por ele. Acho que ele não faz por mal, ele só não sabe o que está fazendo.

O governador decidiu dar fim à Linha 18-Bronze e anunciou no lugar a criação do chamado BRT ABC, além de desengavetar a futura Linha 20-Rosa. Como o sr. viu essa medida?

Ele tem um histórico de mentir compulsivamente. Enquanto isso ficar no campo da promessa, sinceramente, eu não acredito.

RAIO X

Nome: Márcio Luiz França Gomes

Estado civil: Casado há 40 anos, com Lúcia França

Data de nascimento: 23/6/1963

Idade: 57 anos

Local de nascimento: Santos (Litoral de São Paulo) e mora em São Paulo

Formação: Direito, pela Universidade Católica de Santos

Hobby: Gastronomia e leitura

Time do coração: Santos

Livro que recomenda: Helena, de Machado de Assis

Artista que marcou sua vida: Vinicius de Moraes

Profissão: Advogado e político




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