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Empresas de autogestao querem lei para garantir emprego
Por Do Diário do Grande ABC
30/10/1999 | 13:02
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As empresas de autogestao - administradas por seus funcionários - têm boas chances de ganhar uma legislaçao própria. A Associaçao Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestao e Participaçao Acionária (Anteag) já garantiu o apoio de 60 deputados federais e discute agora, com o Ministério do Trabalho, a melhor forma de encaminhar a proposta ao Congresso Nacional. O objetivo é resolver um dos maiores entraves ao seu funcionamento: o acesso ao crédito bancário, dificílimo de se obter nas instituiçoes públicas e impossível nos bancos privados.

Da saúde financeira dessas empresas dependem milhares de empregos. De acordo com o fundador da Anteag e um dos autores da proposta, o economista Aparecido de Faria, mesmo que nao seja a soluçao definitiva, a autogestao consegue esticar a vida das empresas por um pouco mais de tempo e nao cria uma horda de desempregados, de uma hora para outra. "Os 56 projetos de autogestao existentes hoje mantêm 17 mil empregos diretos e 70 mil indiretos", diz Faria.

Ele define o projeto, que tem apoio jurídico do Departamento do Trabalho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como uma açao social para estimular o trabalho. "Os anos 90 foram mais uma década perdida, quando 560 mil empregos foram sacrificados."

Antes de obter financiamento, a Anteag tem de superar um obstáculo ainda maior: fazer o trabalhador agir e pensar como um empresário. "A resistência cultural é muito forte, mas o trabalhador precisa aprender a ser competitivo." Um exemplo ocorreu no primeiro caso organizado de autogestao no Brasil. A experiência da Makerly Calçados, de Franca, nao deu certo porque os trabalhadores assumiram apenas o controle da empresa, mas nao participaram de forma ativa da gestao, sem dividir responsabilidades.

Passada essa fase, o próximo passo é convencer os bancos de que vale a pena emprestar dinheiro para a empresa. Isso porque, normalmente elas estao muito endividadas e nao possuem garantias para oferecer em troca de empréstimos. "Já sugerimos uma associaçao informal entre a Caixa, o Banco do Brasil e o BNDES, falamos até com o Banco Interamericano de Desenvolvimento."

Segundo ele, um dos planos da Anteag é formar uma organizaçao nao-governamental financeira, que se transformaria em banco em dois ou três anos. A instituiçao já tem pelo menos o nome: Banco de Desenvolvimento da Autogestao. Enquanto ela nao se concretiza, uma conta no BB espera pela contribuiçao de empresas que já passaram pelo processo e queiram emprestar às outras. Esse fundo tem R$ 40 mil. A estimativa de Faria é atingir R$ 500 mil em um ano e, a partir de R$ 200 mil, apresentar esses recursos como garantia de financiamentos ao BNDES.

Essas sao apenas algumas das idéias desse mineiro de Paraisópolis, que foi seminarista antes de participar do Movimento Operário, em 1964. Faria fez curso de filosofia clássica e trabalhou como operário no ABC paulista. A repressao dos anos 60 levou-o ao exílio. Em Santiago, no Chile, lutou contra o regime militar de Salvador Allende, ao lado do atual ministro da Saúde, José Serra, e o sociólogo Betinho, já falecido.

Um dia tirou a máscara de revolucionário e passou sete anos como ferramenteiro na fábrica de caminhoes Scania, na Suécia. Na Universidade de Uppsala, ao norte da capital Estocolmo, fez mestrado em administraçao e doutorado em tecnologia do trabalho.

A anistia trouxe-o de volta ao Brasil e, em 1981, começou a estudar a indústria brasileira no Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Foi com o apoio institucional do Dieese, ligado ao movimento sindical, que nasceu a Makerly Calçados, em 1991. Os trabalhadores da empresa obtiveram um empréstimo de US$ 700 mil no BNDES para comprar parte da companhia e, mais tarde, outros US$ 500 mil do Banespa depois de invadirem uma agência.

Nessa primeira experiência, a empresa chegou a ter 300 funcionários, que foram mantidos por quatro anos, depois da autogestao. A Anteag surgiu daí, de maneira informal. Já ajudou empresas como Cobertores Parahyba, Frunorte, Skillcoplast, Hidrophoenix e Facit. Dos 56 projetos, três nao deram certo.




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