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Sentimentos sem vergonha
Por Fabio Leite
Especial para o Diário
09/10/2005 | 08:03
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De braços dados, as estudantes Danielle Araújo e Isadora Climaco, ambas de 14 anos, atropelam-se com as palavras para explicar o estilo que já faz parte da vida de muitos jovens, em sua maioria de classe média. Com os olhos envoltos pela maquiagem, cinto de rebite segurando o jeans, colar de bolinhas, blusinha de banda e franjas jogadas de lado, as duas adolescentes configuram o estereótipo máximo de um Emo, pessoa que curte aquele rock com letras melódicas, denominado Emocore.

O estilo musical surgiu na década de 1980 nos Estados Unidos, originário do hardcore, mas só que mais água com açúcar. Levadas pelo som de guitarra, baixo e bateria, as músicas relatam os amores e desamores muitas vezes vividos pelos próprios adolescentes. “Eu me identifico com as músicas, chego a chorar. Parece que elas foram escritas para mim”, conta Isadora. “É um hardcore mais melancólico”, completa Danielle. Não é à toa que as bandas Emo fazem sucesso entre eles e dominam o repertório juvenil. Viraram modinha, como eles mesmos alegam.

Prova disso são as dezenas de CDs e o inseparável diskman, que dividem com livros e cadernos o espaço nas bolsas e mochilas tomadas por bottons de bandas do gênero. “A música faz parte da minha vida”, conta a estudante e baixista de uma banda Emo Vanessa Pedroni, 15 anos, que usa tênis All Star e tem mexa cor-de-rosa no cabelo. “Assim como os metaleiros (pessoas que curtem heavy metal) usam camisetas pretas e roupas parecidas, quem curte Emo também se veste parecido”, explica a amiga Paula Brito Guerra, 15 anos.

Mas o estilo que está na moda entre os adolescentes vai além do vestuário e das músicas emotivas. Também está explícito em suas atitudes. “Quem curte Emo tem uma relação muito aberta”, afirma Isadora, ao explicar os freqüentes beijos que troca com as amigas.

É por isso, conta Manoela Silvério Gomes, 14 anos, que os Emos sofrem preconceitos. “Todo mundo olha torto para a gente. As meninas são rotuladas de lésbicas e os meninos de gays”, diz. E rótulo é uma coisa que esses jovens odeiam. “Não gosto de ficar rotulando. Para mim tudo é hardcore”, conta Pedro Alves de Souza Filho, 17 anos, vocalista de uma banda que as amigas definem como Emo.

Os meninos que curtem Emo também são facilmente reconhecidos na rua. “Eles usam boné rosa, camisetas de banda, munhequeiras, pulseiras, colar de bolas. Alguns até passam lápis no olho”, relata Isadora. Mas sem generalizações. “Tem um monte de gente que só paga de Emo, mas nem conhece as bandas”, completa a adolescente. “A hora que a moda passar, só quem curte mesmo vai continuar ouvindo”, conta Pedro, que tem cinco piercings, mas não usa maquiagem.

Assim como os outros adolescentes, o ponto de encontro dessa tribo muitas vezes acaba sendo o shopping. Normalmente vão no fim da tarde e ficam do lado de fora trocando idéias sobre bandas, quando não estão com um violão fazendo um som com músicas próprias. Outro reduto de Emo é o Centro de São Paulo. “Sexta-feira é dia de Emo na Galeria (do Rock)”, conta a estudante Evelyn Vivian da Silva, 15 anos, que curte o som, mas não é Emo.

O local é o principal point dos roqueiros do Estado e, mesmo ficando um pouco longe, recebe uma caravana do Grande ABC. “A gente sai da aula e vai direto para a Galeria comprar CDs, camisetas, boné. Aqui no ABC não tem um espaço desse tipo”, relata o estudante Leonardo Leal, 17 anos, vocalista da banda Sweet S2, juntamente com Pedro. De acordo com ele, o pessoal que curte Emo é mais tranqüilo. “A galera é mais unida. Não é muito aberto, é meio seleto.”

O adolescente diz que gosta tanto do som que chega a ficar horas frente ao computador baixando músicas pela internet. “Ouço direto. Tenho mais de 3 mil músicas no micro”, conta Leonardo. Entre as bandas preferidas dos Emos estão Dance of Days, Mineral, Sugar Kane, Emo., Fresno e NX Zero.

Shows – Mas ouvir as músicas e decorar as letras é apenas o ensaio para o momento mais esperado pelos adolescentes: os shows. Na região, as casas onde costumam tocar esse tipo de som são o Volkana (São Bernardo), Catedral (Santo André), Salvador Dali (São Caetano) e Clubinho (Diadema). “Adoro ir aos shows. Gostaria de ir direto, mas tem vezes que os pais embaçam”, diz Danielle.

A maioria das apresentações não tem censura e a bebida alcóolica é de fácil acesso. Mesmo assim, afirmam as adolescentes, não tem brigas nesses shows. “Minha mãe já entrou comigo no Volkana e só não gostou do fato de algumas meninas se beijarem na boca. Mas ela sabe que eu não faço isso”, afirma Manoela.




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