Internacional Titulo
Homilia de Ratzinger é interpretada como perfil do novo papa
Por Da AFP
18/04/2005 | 17:10
Compartilhar notícia


O cardeal alemão Joseph Ratzinger defendeu nesta segunda-feira, diante dos cardeais que participam do Conclave, uma Igreja firme e conservadora, capaz de combater, entre outras coisas, o marxismo, o liberalismo, a libertinagem, o sincretismo e as seitas.

A homilia do cardeal, 78 anos, que foi o grande defensor do dogma durante boa parte dos mais de 26 anos de pontificado de João Paulo II, foi interpretada como o programa político e doutrinário do próximo pontífice.

O texto, com uma linguagem direta e clara, faz uma análise dura da sociedade moderna, dominada pelo que classificou de "ditadura do relativismo".

"Foi como ouvir um tipo de programa político, sobretudo pela insistência no relativismo da cultura moderna e contemporânea, uma mensagem para que se mantenha a linha conservadora", disse Filippo Gentiloni, historiador e vaticanista do jornal 'Il Manifesto'.

Durante a missa, que deu início ao Conclave, Ratzinger insistiu que é preciso ter "uma fé clara", apesar de ela poder ser classificada de "fundamentalista".

A atitude de "ter uma fé clara, segundo o credo da Igreja, é freqüentemente chamada de fundamentalista. Enquanto que o relativismo, quer dizer, se deixar levar por qualquer vento de doutrina, aparece como a única atitude à altura dos tempos modernos", assegurou o cardeal.

Ratzinger, encarregado pelo cardeal camerlengo Eduardo Martínez Somalo de presidir a missa, figura entre os candidatos à sucessão e sua homilia o confirma como chefe do setor mais conservador da Igreja.

"O pequeno barco com o pensamento dos cristãos sofreu com a agitação das ondas: do marxismo ao liberalismo, do coletivismo ao individualismo mais radical, do ateísmo a um vago misticismo, do agnosticismo ao sincretismo", afirmou.

O decano do colégio cardinalício, moderadamente aplaudido por seus pares, manifestou também preocupação com "o nascimento de novas seitas baseadas no engano dos homens", um dos maiores problemas apontados pelos cardeais latino-americanos presentes em Roma. "Está sendo constituída uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e seus desejos", acrescentou.

"A única coisa que é eterna é a alma humana, o homem criado por Deus para a eternidade. O fruto do que semeamos nas almas: o amor, o conhecimento, o gesto capaz de tocar o coração, a palavra que abre a alma à alegria do Senhor", enfatizou.

"Então, vamos e oremos ao Senhor, para que nos ajude a dar o fruto, um fruto que perdure. Só assim a terra pode mudar de vale de lágrimas em jardim de Deus", clamou.

A convocação para que todos os hierarcas da Igreja defendam os valores mais tradicionais "num momento como este", em que deverão escolher o 265º pontífice, não foi bem recebida por alguns setores.

"Nem todos os purpurados o aplaudiram. Mas boa parte deles aprova sua análise. Veremos que efeito terá", comentou Gentiloni.

Se conseguir o consenso, Ratzinger poderá ser escolhido como novo pontífice, segundo muitos vaticanistas, que consideram que ele tem carisma, autoridade e poder para suceder João Paulo II. No entanto, muitos criticam a "arrogância" do cardeal alemão, que certamente terá muita influência na escolha do novo papa.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;