Economia Titulo Álcool
Forte demanda ameaça elevar preço do álcool

Nas últimas semanas, o preço do álcool nas bombas manteve-se estável e chegou a um leve recuo

Marcelo de Paula
Do Diário do Grande ABC
02/07/2008 | 07:02
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Nas últimas semanas o preço do álcool nas bombas manteve-se estável e chegou a apresentar um leve recuo. Mas a expressiva demanda interna e externa pelo combustível pode mudar o cenário e levar a reajustes em breve.

Segundo dados da Unica, entidade que representa as usinas de álcool, entre janeiro e maio, o consumo de etanol hidratado aumentou 54,8%, para 5 bilhões de litros, e as exportações até 15 de junho foram de 854 milhões de litros, 64% maior do que o volume de igual período da safra anterior. E a produção tem crescido 7,01% na comparação com a safra 2007/2008.

As consequências dessa forte demanda começam a ficar visíveis. Estudo do Cepea-USP (Centro de Pesquisa e Estudos Avançados da Universidade de São Paulo) revela que, na semana passada, as usinas venderam álcool para os distribuidores com preço médio 6% maior.

O levantamento aponta que, entre os dias 23 e 27, o litro do álcool anidro (que é misturado à gasolina) chegava ao distribuidor, em média, a R$ 0,8207 contra R$ 0,7705 do período anterior, sem impostos. E o álcool hidratado subiu de R$ 0,6773 para R$ 0,7231.

Segundo o levantamento do Cepea, os valores praticados na semana anterior (de 16 a 20) também eram 6% mais alto no caso do álcool hidratado, e de 0,43% no anidro, ou seja, duas semanas seguidas de aumento que devem ser repassados para os postos de combustíveis nas próximas semanas.

"Não fazemos previsões porque nosso trabalho se limita ao acompanhamento dos preços diariamente. Mas, historicamente, os reajustes das usinas para os distribuidores levam cerca de quatro semanas para chegar aos postos e, conseqüentemente, para os motoristas", comentou a pesquisadora do Cepea Evelise Rasera Bragato.

O diretor-técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, afirmou não acreditar em um aumento de preço para o consumidor porque a safra começou há dois meses e termina no início de dezembro.

Ele comentou que o aumento detectado pelo Cepea envolve uma ponderação de todos os negócios e que há possibilidade de recuo. Outra questão ressaltada por Rodrigues é que o consumidor tem a opção de mudar de combustível quando não estiver satisfeito. "O preço do álcool hoje representa 65% do valor do litro da gasolina. Se aumentarmos para além de 70% ele se torna pouco atrativo", disse.

Mas o executivo admitiu que o preço do álcool hoje está defasado e que, em algum momento os usineiros terão de recuperar isso. "Conseguimos R$ 36 por tonelada de cana esmagada atualmente e o ideal seria R$ 48 porque houve aumento do diesel, dos fertilizantes e, como tem chovido nas áreas produtoras, a cana está com muita água, o que reduz a produtividade".

Presidente do Regran diz que tendência é de alta

O presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do ABC), José Antonio Gonzalez Garcia, o Toninho, afirma que a tendência é de aumento do álcool nas próximas semanas, e que alguns postos têm comprado o combustível com valor até R$ 0,06 maior.

"A informação que recebi é que houve aumento das usinas para os distribuidores, e que a tendência é de que recebamos o produto com algum reajuste nas próximas semanas. Só que não dizem de quanto e a partir de quando exatamente, e também não explicam a razão. Estamos no meio da safra 2008/2009 e não há porque ter reajustes, na minha opinião", comentou Toninho.

A reportagem entrou em contato com alguns postos de combustíveis e verificou que nem todos receberam álcool com reajuste. E quem recebeu não pretende aumentar o preço nas bombas.

"Comprei o álcool hoje (ontem) com valor R$ 0,04 maior por litro, mas prefiro dar uma reduzida na minha lucratividade e esperar para ver o que vai acontecer", disse o proprietário de um posto de Mauá, Marcelo Oliveira.

FLEX
O presidente do Regran concorda que a forte demanda pode estar puxando os preços para cima. "O álcool hoje representa 60% das vendas dos postos e o carro flex é o responsável por isso", afirma Toninho.

Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), de janeiro a maio foram licenciados 959.390 veículos bicombustível, o que representa 87,6% do mercado.




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