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Mesmo com provas que os inocentavam, irmãos passam 30 dias presos

Jovens de Diadema foram acusados de roubo de carros; imagens mostram que rapazes estavam com o pai no horário dos crimes

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
02/04/2022 | 00:29
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Divulgação


“Criei dois homens e o sistema me tirou isso. Estou aqui sozinho. Tirou o amor dos meus filhos. Hoje me vejo sozinho, porque eles faziam tudo comigo.” A fala desalentada e aos prantos foi dita pelo entregador Luiz Cesar Marques, 51 anos, morador de Diadema, algumas horas antes de finalmente saber que os filhos Luiz Cesar Marques Junior, 24, entregador, e Gustavo Borges Marques, 19, haviam sido soltos do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Diadema, após 30 dias presos. Os irmãos foram detidos em 1º de março, acusados de terem praticado dois roubos de carros, em horários em que estavam com o pai, em um bar de Diadema, a quilômetros dos locais dos crimes.

Não adiantou o pai dizer aos policiais que naquele dia os filhos estavam com ele desde as 17h e que não poderiam ter praticado os dois roubos de veículos que ocorreram entre 18h40 e 18h47, a distâncias que variavam de 2,5 quilômetros a 4 quilômetros de onde mora a família. Também não foram o bastante imagens de estabelecimento comercial ao lado da residência dos jovens, que registrou que os três saíram de casa às 17h59 e permaneceram o tempo todo no bar. O que bastou para que os dois fossem presos em flagrante foi estarem, às 19h20, na mesma rua e ao lado de um dos carros que foram roubados quando o veículo foi localizado.

Segundo a defesa dos jovens, o procedimento de reconhecimento dos rapazes pelas vítimas foi irregular, porque não havia testemunhas, como dita a lei, e porque foi colocada ao lado deles apenas mais uma pessoa de tipo físico bastante distinto dos suspeitos. A cor das camisetas que os rapazes usavam eram diferente das cores citadas pelas vítimas e isso também não pesou a favor deles. Já na madrugada do dia 2 de março, o pai se despediu dos dois na delegacia acreditando que mais tarde poderia voltar com as testemunhas que estiveram com eles na noite anterior, mas quando voltou ao local eles já haviam sido enviados para o CDP.

Na tarde de ontem foi revogada a prisão dos dois irmãos. Em decisão assinada pela juíza Cecilia Nair Siqueira Prado Euzebio, a magistrada deu dez dias para que a defesa anexe ao processo a íntegra das imagens que mostram os irmãos saindo do bar onde estavam pouco antes da abordagem policial. Tendo em vista que os réus são primários e não contam com maus antecedentes, revogou a prisão preventiva de ambos e substituiu por medidas cautelares, como comparecimento bimestral em juízo, proibição de frequentar lugares de reputação duvidosa ou conhecidos pela prática de atos ilícitos e proibição de se ausentar da comarca por prazo maior que oito dias ou mudar de endereço.

Informado sobre a liberação dos filhos, Marques não conteve o choro e afirmou que o momento é de alegria e alívio, que sente que é um pai com o dever cumprido. “Vamos esperar os nomes deles saírem desse rol e depois vamos ver o que temos que fazer para processar o Estado. Vamos nos instruir com o advogado e fazer tudo direitinho. Agora só quero é abraça-los”, afirmou. 




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