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‘Celebridade’: ruim, mas com audiência
Rodrigo Teixeira
Da TV Press
11/04/2004 | 17:51
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Celebridade é uma novela cheia de erros de continuidade, situações fantasiosas e tipos totalmente desconectados da realidade. Além disso, a novela das nove da Globo conta com uma protagonista melosa, já apelidada de Maria Chata Diniz, do tipo que está mais para os moldes dos dramalhões mexicanos do que o naturalismo da teledramaturgia brasileira. No entanto, a audiência de Celebridade não pára de subir. A trama ultrapassa constantemente os 50 pontos de média e conquista um share de mais de 70% dos televisores ligados. Se não bastasse, a novela ainda é um sucesso comercial, pois já ultrapassou Mulheres Apaixonadas, por exemplo, em número de merchandisings inseridos nas cenas dos personagens.

Um dos grandes responsáveis pela decolagem de Celebridade são as tramas paralelas desenvolvidas por Gilberto Braga. Em vez de centrar fogo nos tediosos dramas existenciais de Maria Clara Diniz ou mesmo no previsível embate da protagonista com a vilã Laura, bem defendida por Cláudia Abreu, o autor dilui o lenga-lenga da heroína de Malu Mader com outros personagens. Por isso, em um mesmo capítulo, não é raro ver Darlene, Sandra, Ana Paula ou Noêmia aparecerem em maior número de cenas do que a própria protagonista. Mais do que isso, pulveriza a novela com tramas paralelas que exploram diferentes estilos, numa clara saída para atingir espectadores que apreciam gostos diferentes.

A Darlene de Deborah Secco é quem transita na parte declaradamente cômica de Celebridade. E a atriz não pode ser acusada de não convencer no papel da maluquete que faz qualquer coisa para aparecer – embora tenha pisado na bola ao faltar às gravações na semana passada para acompanhar o namorado Falcão, de O Rappa, em turnê na Flórida. A aproximação de Darlene de Nelito, o espertalhão vivido por Taumaturgo Ferreira, e a dobradinha com a voluptuosa Jaqueline Joy, papel de Juliana Paes, se tornaram pontos altos da trama. Ainda mais com a inclusão da severa Yolanda da veterana Natália Thimberg fazendo contraponto aos gracejos de Darlene e cia. Com isso, Gilberto ressuscitou o tom cômico da trama, que definitivamente não funcionou na fase inicial de Celebridade.

O autor também tem criado constantemente situações de ação que normalmente agradam ao público masculino. Ao ponto de juntar os personagens de Marcos Palmeira e Alexandre Borges numa espécie de dupla dinâmica do Bem, que luta contra os personagens do Mal. Aliado a isso, Gilberto insiste em manter o clima de “quem matou?” depois do assassinato de Lineu Vasconcelos, uma isca tradicional para fisgar a audiência. Tanto é que a próxima vítima será o bonzinho Queiroz de Otávio Müller, que morrerá misteriosamente nos próximos capítulos depois de descobrir pistas sobre a morte do empresário vivido por Hugo Carnava. Para completar, Gilberto exagera nas vilanias de Laura, personagem que caiu nas graças do público devido a performance de Cláudia Abreu, de longe o melhor desempenho do elenco de Celebridade.

O certo é que o autor modificou os meandros de Celebridade. O forte tom erótico do início da novela, por exemplo, praticamente desapareceu. A prova é que as transas entre Laura e Marcos, de Márcio Garcia, não chegam mais perto do que foram nos capítulos iniciais, tanto em quantidade quanto no estilo sadomasoquista da dupla. É evidente que os termos chulos que saíram da boca de vários personagens foram limados pelo autor também. Assim como a tentativa de reproduzir de maneira mais convincente a imprensa ligada a fofoca e ao mundo das celebridades virou motivo de chacota em Celebridade – e não uma crítica séria, que era a proposta inicial.

Mas algo que Gilberto não pode ser acusado é de ter criado barrigas na novela das nove ou economizar novos ganchos na história. Kadu Moliterno, por exemplo, entra nos próximos capítulos para viver o pai desaparecido de PC, o boa-vida interpretado por Paulo Vilhena. O Ademar de Daniel Dantas despontará como o principal suspeito do assassinato de Lineu. E Laura envolverá Maria Clara Diniz com tráfico de drogas numa situação bastante improvável, mas que segue a linha surrealista de Gilberto Braga. O autor pode não agradar a crítica, mas tem acertado em cheio o espectador.




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