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Reconversão é caminho à indústria da região na crise

Em levantamento preliminar do SMABC, pelo menos 31 empresas, com 5.000 empregos no total, demonstraram interesse pela mudança

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
21/07/2020 | 00:07
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Claudinei Plaza/DGABC


A crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus tem exigido reposicionamento das empresas para garantir sua sobrevivência, especialmente na indústria. Uma das propostas para viabilizar a adaptação aos novos tempos é a reconversão industrial, que, embora ainda não tenha muitos exemplos no País, mostra-se como opção viável. Agregar outros produtos no mesmo parque fabril conforme a demanda é uma maneira de garantir a atividade das fábricas, ao reduzir a ociosidade e manter os empregos. Levantamento do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) mostra que pelo menos 31 empresas – que empregam em torno de 5.000 pessoas – se interessaram pelo tema.

A entidade, que representa os trabalhadores de São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, começou a fazer mapeamento para levantar o interesse das companhias na discussão. “Na nossa base, isso teria potencial para crescer muito, já que a sondagem foi feita com empresas ‘mais próximas’ e poderia avançar em outras bases, como os químicos e os têxteis, por exemplo”, afirmou o diretor de políticas industriais da entidade, Wellington Messias Damasceno.

O tema foi explorado em nota técnica publicada na 13ª Carta de Conjuntura do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), que foi divulgada ontem.

Damasceno, que também é advogado e pós-graduado em direito e relações do trabalho foi responsável pela elaboração do texto, aponta que o assunto não é novo aqui no Brasil, e que é pautado há anos por sindicatos e associações como forma de frear o processo de desindustrialização. Porém, agora o processo pode ainda salvar vidas.

“Infelizmente, não só o Grande ABC, mas todo o País perdeu um pouco o timing para a reconversão. Lá em abril e março a pauta tinha muita força e um apelo de reconverter as empresas que estavam paradas naquele momento. Havia uma capacidade de produção disponível para usar com insumos e equipamentos hospitalares, por exemplo”, afirmou Damasceno. “Se o processo tivesse sido mais ágil, hoje nós teríamos mais equipamentos, e isso impactaria no número de mortos. Mas continuamos insistindo no assunto, porque ainda é uma oportunidade de salvar vidas e proteger profissionais da área”, completou.

Damasceno pontuou algumas áreas que podem ser exploradas pelas empresas no processo. Além da saúde, com a fabricação de itens demandados em hospitais, ele cita setores estratégicos, como infraestrutura, energia e alimentação. “O setor automotivo vai demorar a se recuperar, e muitas empresas podem não sobreviver somente com esse produto”, afirmou ele, ressaltando principalmente as pequenas e as médias como as que podem ser as mais afetadas.

ENTRAVE

O principal entrave é o crédito, que não chega, destaca o sindicalista. Muitas empresas relatam dificuldades no acesso, e é necessário um investimento para a mudança. “A empresa também não tem segurança para fazer a reconversão industrial e, se não há garantias, é muito difícil. Tivemos várias iniciativas em universidades que não avançaram, ou seja, também faltou articulação do poder público”, disse Damasceno.


Nacionalizar produção é saída urgente

Além da reconversão, a nacionalização da produção dos componentes industriais também é uma demanda antiga, que se torna ainda mais urgente agora. O assunto é discutido junto a entidades do setor e pode ajudar as empresas da cadeia automotiva da região.

“Entendemos que há chance de nacionalizar muita coisa, o que também é um processo de reconversão. Um exemplo é que no Brasil nós só produzimos câmbio manual. Entre as principais produtoras, está a Dura, em Rio Grande da Serra, e mesmo assim nós não produzimos o câmbio automático, que está saindo com a maioria dos carros hoje. É momento de aproveitar as vantagens competitivas que temos na região”, disse o diretor de políticas industriais do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), Wellington Messias Damasceno.

Para o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, o ideal seria a modernização da indústria. “Eu vejo que a palavra é diversificação. Agregando valor, trazendo várias indústrias de outras áreas para cá”, disse.

O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC afirmou que apoia as iniciativas do SMABC para auxiliar as empresas do Grande ABC a minimizar os impactos da pandemia. “As medidas incluem incentivos fiscais, linhas de crédito e a reconversão industrial, que precisam de deliberação dos governos estadual e federal. A entidade regional acompanha a situação junto à categoria produtiva”, assinalou em nota.  




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