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Bailes ajudam terceira idade a redescobrir o prazer de viver

Natalia Fernandjes
do Diário do Grande ABC
09/09/2012 | 07:00
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Com a certeza de que nunca é tarde para se buscar melhorias, sejam elas físicas, mentais ou sociais, cada vez mais idosos se redescobrem por meio da dança. Os tradicionais bailes da nostalgia são capazes de resgatar não só lembranças, mas também a autoestima e a vontade de viver entre a população da terceira idade. Na região, a atividade é oferecida em clubes e também pelas prefeituras a preços simbólicos.

A equipe do Diário visitou na sexta-feira o clube Força Viva, um dos mais tradicionais da região. Lá, encontramos a dona de casa Elizene Pereira Moreira, 73 anos. Para ela, a dança de salão é um santo remédio. Viúva há 33 anos, ela descobriu os prazeres do bailado há 25 e não troca a nova vida por nada. "A gente aqui é uma família. Conversa, se diverte, se distrai e não fica em casa pensando besteira", diz.

Devido à atividade física, até mesmo as fortes dores na coluna deram trégua, destaca Elizene. "Melhorou 80%. Antes tinha crises de parar no pronto-socorro e agora conto as horas para estar no baile". Apesar de tanta disposição, ela revela truque para aliviar incômodos devido ao salto alto depois de uma tarde inteira de dança. "Coloco os pés em bacia com sal e água quente enquanto assisto à televisão."

Além de proporcionar momentos de felicidade para os visitantes, os bailes para idosos se consagram como espaço familiar, onde a troca de experiências convida a viver, explica o presidente do Força Viva, em Santo André, Milton Tirapani.

Há 27 anos o clube realiza às sextas-feiras, entre 15h e 20h, os bailes da nostalgia, que atraem cerca de 200 pessoas. "É um ponto de encontro entre amigos que se respeitam", comenta.

Pelo salão o que se vê são senhores e senhoras bem vestidos, perfumados e ansiosos para rodopiar no salão ao som de música ao vivo. As mulheres são as mais vaidosas. As damas exibem unhas e cabelos impecáveis, além de caprichar na maquiagem e nos assessórios.

Redescoberta

Foi a partir da dança, há 12 anos, que a dona de casa Nivalda de Alencar, 71, se redescobriu. Segundo ela, antes de conhecer o baile, por intermédio de um amigo, ela se dedicava exclusivamente a cuidar da casa, dos filhos e do marido, o torneiro mecânico aposentado João Batista de Alencar, 70, com quem é casada há quase 50 anos. "Sempre fui vaidosa, mas agora quero sair para comprar roupa, um brinco e estar bem", comenta.

Depois de conhecer o baile, o casal ingressou em aulas de dança de salão, condição imposta por João Batista. "A partir do momento que a gente aprende os passos a dança fica mais prazerosa", observa.

Conquista de amigos e qualidade de vida sexual são ganhos

Demorou seis meses até que a dona de casa Maria de Lourdes Souza Vieira, 75 anos, e o marido, o torneiro mecânico aposentado Oswaldo Vieira, 74, se rendessem aos encantos do baile da nostalgia. Foi preciso deixar a vergonha de lado e criar coragem para encarar o desafio e descobrir o prazer hoje comemorado.

"Se soubesse que era tão bom assim teria começado antes", observa Maria de Lourdes. Segundo a moradora da Vila Pires, quando está no salão volta a ter 20 anos. A única condição durante o baile é que o marido só dance com ela. "Ele mesmo diz que não acerta dançar com outra", justifica.

Os benefícios impactaram a vida do casal de forma desde o lado psicológico até o sexual. "Minha pressão arterial normalizou e agora tenho mais alegria e disposição", comenta a dona de casa. Pelo lado da estética, a vaidade foi intensificada. Quinta-feira se tornou dia de cuidar das unhas e do cabelo no salão de beleza.

Para Oswaldo, entre os ganhos estão as amizades conquistadas e os valores adquiridos. Depois que passou a conviver com a nova família em sua nova casa, ele conta ter aprendido a deixar o preconceito de lado e a perdoar.

Especialistas indicam cautela para prevenir contusões

Apesar de apoiarem a prática da dança na terceira idade, especialistas recomendam cautela no momento da atividade física para evitar lesões ou dores indesejadas. A alternativa, segundo eles, é iniciar o bailado de forma gradativa e estar atento aos momentos necessários de pausa, seja para descanso ou simplesmente beber água.

Antes de começar a frequentar os encontros, o professor de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina do ABC Walter Yoshinori Fukushima indica avaliação cardiovascular e ortopédica. O acompanhamento de rotina também deve ser feito. "Ao contrário do que as pessoas pensam, não é preciso sentir dor para procurar o médico", destaca.

A vice-coordenadora do curso de Ciências da Atividade Física da USP (Universidade de São Paulo), Marília Velardi, observa ainda que não é necessário ir desarrumado ao baile, no entanto, o calçado e a roupa devem ser confortáveis. "É preciso se condicionar para dar pausas para beber água. Isso porque quando fazemos atividade agradável a percepção do esforço é modificada", diz.

Pertencimento

Além dos benefícios físicos já conhecidos, o bem-estar gerado pela dança supera os limites do corpo. Na visão de Marília, o principal ganho é o sentimento de pertencer a um grupo, algo difícil de ser observado entre pessoas da considerada melhor idade. "A dança agrega valores ao indivíduo", diz.

Para a professora do programa Aquarela (voltado à população da terceira idade) da Metodista Rose Maria Souza, o baile integra o idoso à sociedade, faz com que ele se ressocialize e mostra que ele é capaz. "Durante a dança eles tratam de outros assuntos e tiram um pouco o foco da casa e da família", comenta.

Com isso, é possível redescobrir o corpo e os prazeres de se viver, sentimentos capazes de afastar a depressão, um dos males que mais acometem os idosos, explica.




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