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A professora do presidente
Por Mariana Trigo
Da TV Press
10/01/2006 | 08:25
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A primeira preocupação de Júlia Lemmertz para compor Dona Júlia foi ser fiel à imagem que Juscelino Kubitschek tinha de sua mãe. “Essa seria a forma mais amorosa ou a mais poética possível, e esse foi meu ponto de partida”, afirma a atriz de 44 anos, que interpreta a mãe de Juscelino dos 28 aos 75 anos de idade em JK, minissérie de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Dessa idade em diante, Júlia passa o bastão para Ariclê Perez, que vive Dona Júlia até sua morte, aos 99 anos.

Professora primária de Diamantina, interior de Minas, Dona Júlia Kubitschek ficou viúva muito cedo e teve de criar sozinha os dois filhos – Juscelino e Naná, interpretada por Juliana Mesquita – com o parco salário que recebia. “A casa da família é tão simplezinha, e hoje abriga um museu. É emocionante”, anima-se Júlia ao lembrar da viagem que fez a Diamantina e a Tiradentes, onde conversou com diversas pessoas da cidade que lhe contavam “causos” sobre a valente Dona Júlia. “Essa é uma história sobre dedicação e amor: o investimento que uma mãe faz nos filhos”, diz a atriz.

Com um vasto material de pesquisa sobre Dona Júlia, a atriz logo percebeu sua importância em toda a trajetória de Juscelino. Desde seus estudos primários num seminário até o filho se formar em Medicina e se interessar por política, Júlia encontrou ainda mais evidências da participação de Dona Júlia nos bastidores do poder. “Ela o ensinou a ficar atento às injustiças. Nunca se ouviu falar tanto numa mãe de presidente tão ativa”, garante.

PERGUNTA: Quais as dificuldades de viver uma personagem que atravessa cinco décadas?

JÚLIA LEMMERTZ: Eu me joguei (risos). Quanto mais velha ela fica, mais grave deixo sua voz. Ela também anda mais devagar, a postura muda. Provavelmente eu não seja parecida fisicamente com ela, mas o que importa é ser cuidadosa com essa progressão da idade. Ela também não pintava os cabelos, nem passava rímel ou tomava vitaminas. É claro que todo mundo sabe que não sou velha. Trabalhamos com uma licença poética.

PERGUNTA: Como você reagiu ao ser chamada para viver a mãe do personagem do Wagner Moura? Mexeu com sua vaidade?

JÚLIA: Quando fiz a mãe do Paulinho Vilhena, em Celebridade (novela das nove da Globo), já achei perigoso... Só não quero fazer papel de avó das pessoas (risos). Tenho uma filha de 17 anos, Luísa, e um filho de 5, Miguel. Acho engraçado viver a mãe do Wagner, mas não tenho problema em ficar velha, ter rugas e cabelos brancos. Não tenho idade para ser mãe dele, mas tenho disponibilidade e cara-de-pau como atriz. Isso vem do teatro, onde ninguém diz que algo é impossível.

PERGUNTA: Esta é sua primeira interpretação de uma pessoa que existiu. O que muda ao viver uma personagem real?

JÚLIA: Além disso também nunca fiz nada com esse nível de construção, com tantas décadas. Tenho uma responsabilidade nessa existência. Por um lado simplifica eu ter um material vasto sobre ela. Por outro, é difícil por eu não ser sua imagem e semelhança. Sempre construo personagens em cima de dados reais ou imaginários. É o meu aprofundamento.

PERGUNTA: Dona Júlia era muito severa na educação dos filhos. Existem semelhanças entre vocês na forma de criar os filhos?

JÚLIA: Tem essa mistura de doçura e amorosidade sem perder a firmeza. Sou extremamente carinhosa como ela, mas também cobro muito, dou bronca e tento fazer com que a Luísa e o Miguel saibam de seus deveres com os outros e com eles mesmos. Criar filho é a tarefa mais importante e difícil da vida. A atenção que se dá reflete no que aquela pessoa vai se transformar.

PERGUNTA: Qual é o principal ensinamento que a Dona Júlia deixou?

JÚLIA: Ela não criou Juscelino para ser o presidente do Brasil, mas para que ele acreditasse que poderia ser alguém. Mostra que podemos ir além dos limites, mesmo quando se é tão pobre. Ela não se deslumbrou quando Juscelino virou presidente e nem tinha arroubos de vaidade e riqueza. Sempre foi pé no chão. Dizia que pobreza não era vergonha. Vergonha era ser ignorante. E deixava de comer para alimentar os filhos. É o retrato da esperança, da crença, da dedicação que devemos seguir de exemplo.

 



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