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‘Meta é erradicar trabalho infantil’, diz ministro
Antonio Rogério Cazzali
Do Diário do Grande ABC
18/07/2005 | 08:35
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O recém-empossado ministro do Trabalho, Luiz Marinho, esteve domingo em Santo André, para participar do encerramento do IV Eneap (Encontro Nacional dos Estudantes de Administração Pública). O ex-sindicalista demonstrou solidariedade ao presidente Lula e disse que pretende definir uma política de valorização do salário-mínimo. Na ótica do ministro, é preciso que se criem mecanismos de valorização do mínimo, com reajustes acima da inflação e instrumentos de correção gradual das perdas. Quanto às reformas tributária, sindical e trabalhista, o ministro preferiu não arriscar a data em que elas sairão, bem como preferiu não externar qual é seu candidato para dirigir a CUT, com eleições no dia 27. Marinho falou sobre a necessidade de se erradicar o trabalho infantil no país, mensalão, Roberto Jefferson, Marcos Valério, José Dirceu e Genoino, demonstrando solidariedade aos dois últimos.

DIÁRIO - Há quem diga que o Lula sabia desses fundos de campanha, do mensalão e demais acordos. Qual é sua opinião ?
LUIZ MARINHO - Deve ter havido mesmo fundo de campanha entre partidos. Por isso, seus líderes precisam vir a público dar explicações. Agora, tem muita poeira nisso tudo. Vamos ainda assistir a muita coisa, umas verdadeiras e outras não. A opinião pública também tem sua força e deve atuar. Já os partidos políticos deveriam pensar em ações mais transparentes a partir desse momento crítico.

DIÁRIO - O senhor acha que essas denúncias poderão afetar uma possível reeleição do presidente Lula ?
MARINHO - Ainda não. Não vejo a reeleição do Lula ameaçada até o momento. Até porque é muito clara a postura do presidente no combate à corrupção. Se houver gente do PT envolvida com propinas, o Lula será tão implacável como se fosse alguém do PFL ou de uma outra legenda. Não haverá a complacência nem do presidente nem do governo. Vimos funcionários públicos presos, membros da polícia federal também. Até juízes na cadeia. Com as empresas não se agirá diferente. Se houver irregularidade entre elas, haverá punição da mesma forma.

DIÁRIO - Como o senhor definiria o Roberto Jefferson e Marcos Valério ?
MARINHO - O Jefferson é um grande ator. Já o Marcos Valério fica até difícil de qualificar, pois ele trabalhou com tantos partidos. Ainda não sei bem qual é a dele.

DIÁRIO - O que o senhor tem a dizer sobre o José Dirceu e o Genoino? Eles foram injustiçados ?
MARINHO - Vamos ter de aguardar as águas passarem por debaixo da ponte. Mas é com tristeza que eu vejo a execração dos dois, principalmente com base na biografia deles. O José Dirceu teve de se exilar na luta por um país melhor; o Genoino foi torturado, perseguido atrás do sonho de um Brasil mais digno. E quando vejo a vida deles atingida por denúncias de corrupção, fico muito triste. Vamos torcer para que tudo se esclareça, e o mais rápido possível.

DIÁRIO - O senhor acredita que as reformas tributária, sindical e trabalhista sairão até o final deste mandato do presidente Lula ?
MARINHO - Isso tudo vai depender do ambiente político e, como todos sabem, o quadro é crítico. A reforma tributária já deu sinais, com uma minirreforma. O governo também tem tomado ações pontuais para reduzir a carga tributária, mas não é só isso. Precisamos alargar o mercado, estimular a produção, distribuir renda para não corrermos o risco de perder arrecadação com uma eventual reforma. Isso envolve também um combate à sonegação, à evasão de divisas. Eu não sei precisar se isso vai ocorrer ainda neste mandato. Já a sindical, vou fazer de tudo para que ela saia neste período, para então pensarmos numa boa reforma trabalhista. Tudo isso está nas mãos do Congresso. Como ministro resta-me dialogar com os sindicatos, o empresariado e o parlamento.

DIÁRIO - O que o ministro tem a dizer sobre o salário-mínimo?
MARINHO - Temos a necessidade de uma política de valorização permanente do salário-mínimo. Até o ano passado, discutia-se o salário-mínimo nos meses de março, abril e maio, porém, o orçamento já estava em execução desde janeiro. Ou nós o definimos junto com o orçamento, ou ele ganha uma política pré-estabelecida que determine sua valorização gradual. Qual será o valor do salário-mínimo em 2006, 2007, por exemplo? Nós ainda não sabemos, mas a intenção é definir logo qual será a política que definirá esse valor. Já existe uma comissão que será instalada dentro de 15 dias e que discutirá propostas para chegarmos a um salário-mínimo mais justo. Eu ainda não sei se a comissão concluirá seus estudos até dezembro. Acho que é pouco tempo, pois o estudo envolve orçamento e redução do déficit da previdência, valor que caiu de R$ 38 bilhões, em 2004, para R$ 35 bilhões neste ano. A idéia é definir em qual a porcentagem o salário-mínimo será elevado acima da inflação, dentro de um determinado período. E que isso seja um compromisso de Estado, não só de governo.

DIÁRIO - Qual desses candidatos o senhor gostaria de ver à frente da CUT (Central Única dos Trabalhadores): o bancário João Vaccari, o professor João Felício, o metroviário Wagner Gomes ou o eletricitário Artur Henrique da Silva Santos?
MARINHO - Eu não vou participar do debate, pois como ministro não devo fazer isso. Sei que muitos deles estão preparados para o cargo e não vou interferir nesta decisão.

DIÁRIO - Como ministro, o senhor terá um olhar diferente sobre as montadoras?
MARINHO - Não terei esse olhar específico para o setor automotivo, até porque existem muitos outros mais carentes hoje em dia. Eu destaco o do trabalho infantil, o do trabalho escravo. É meta do presidente Lula erradicá-los. Além disso, a questão do emprego é outra que merece muita atenção. E nesse segmento pode-se envolver as montadoras, mas não terei um olhar específico para elas. Aliás, as micro e pequenas empresas empregam muito mais, e temos de facilitar as coisas para este setor. Há ainda a problemática da informalidade, da pirataria.

DIÁRIO - O senhor já definiu onde será sua residência em Brasília ?
MARINHO - Ainda não. Fiquei a semana passada em um hotel. Nesta próxima semana também permanecerei hospedado em hotel. Eu ainda pesquiso o que será mais cômodo, do ponto de vista de logística e custo. Não sei se vou morar em hotel ou se alugo algo. Há ainda a opção de usar um apartamento funcional.

DIÁRIO - Agora o senhor viajará bastante ao exterior. Haverá alguma barreira com relação ao idioma?
MARINHO - O único idioma que falo é o português. Nesses casos eu vou recorrer a intérpretes, como sempre recorri. Mas eu pretendo viajar muito é dentro do Brasil, mesmo, que tem muitas pendências no campo do trabalho ou da falta dele.




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