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Alimentos básicos têm preço em declínio no Grande ABC
Por Mariana Oliveira
Do Diário do Grande ABC
25/12/2005 | 09:09
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Os principais alimentos da cesta básica estão chegando mais baratos à mesa do consumidor do Grande ABC. Desde janeiro de 2003, início do governo Lula, a valorização do câmbio brasileiro e algumas isenções tributárias - concedidas pelos governos estaduais e federal aos produtores - fizeram com que os insumos mais consumidos, como arroz e feijão, registrassem queda nos preços nominais, queda essa ainda maior se os preços forem corrigidos pela inflação do período.

De acordo com levantamento do Diário, dos 20 produtos do grupo de alimentos industrializados da cesta básica da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), nove tiveram retração nos preços em valores nominais (sem levar em conta a inflação) entre janeiro de 2003 e novembro de 2005: arroz, feijão, macarrão, farinha de trigo, açúcar refinado, leite longa vida, pão francês, óleo de soja e margarina cremosa.

Considerando que a inflação no grupo de alimentos no Grande ABC no mesmo período foi de 14,93%, conforme o IPC-Imes (Índice de Preços ao Consumidor, medido pela Universidade Municipal de São Caetano), o frango resfriado, mesmo tendo apresentado alta nominal de 5,64%, também está custando menos agora que em 2003.

Entre os demais produtos, seis registraram variação parecida com a da inflação: bolacha salgada, bolacha doce, fubá, coxão mole (carne bovina de primeira), acém (carne bovina de segunda) e extrato de tomate. Os demais - farinha de mandioca, sardinha em lata, café e sal refinado - apresentaram aumento muito acima do índice desde o início do governo Lula.

Os dados foram extraídos das pesquisas semanais de preço dos produtos da cesta básica da Craisa nas principais redes supermercadistas do Grande ABC (exceto Rio Grande da Serra).

Motivos - De acordo com o professor da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Siegfried Bender, um dos motivos para a queda nos preços é justamente algo que prejudica a economia por reduzir investimentos: a política de juros elevados. Isso porque, explicou, as taxas valorizaram o câmbio e resultaram em redução nos preços em reais das commodities agrícolas.

Para o professor, no caso de consumidores que conseguiram manter o emprego e a renda nominal, a redução de preços foi percebida. Ele salientou, porém, que a contenção da atividade econômica produzida pela taxa de juros elevada tem o efeito de tirar o emprego de muitas pessoas e reduzir a renda nominal. "Nesses casos, a redução de preços pode não ter sido benéfica", avaliou o professor.

Bender destaca ainda que a queda de preços não foi mais acentuada porque nos últimos três anos as cotações internacionais (em dólar) das commodities subiram muito e, em alguns casos, anularam a apreciação do real frente ao dólar.

Segundo Paulo Magno, pesquisador da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o dólar contribuiu apenas para a baixa de preços dos itens cujos insumos são cotados internacionalmente. "A soja, usada na margarina e no óleo, teve influência da queda nos preços internacionais. Noutros produtos, o fator importante foram as isenções tributárias."

Neste ano, o governo do Estado de São Paulo isentou de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) os derivados do trigo, e o governo federal isentou de PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) os itens mais consumidos da cesta básica: arroz e feijão.

O economista do Inpes (Instituto de Pesquisas do Imes), Lúcio Flávio Dantas, responsável pela pesquisa do IPC regional, afirmou ainda que, embora a queda seja positiva para o consumidor, foi onerosa para os produtores - no caso dos produtos que tiveram redução nos preços devido ao câmbio. "Com o dólar baixo, os produtores de soja, por exemplo, reduziram as exportações porque perderam a lucratividade. Isso fez com que houvesse maior disponibilidade de grãos no mercado interno."

Produtores - Essa é a situação no setor de trigo, segundo o conselheiro da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo) Lawrence Pih, que também é presidente do Moinho Pacífico, de São Paulo, e membro do Conselho de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

"Os preços caíram muito, mesmo com os reajustes anuais nos salários dos empregados, por exemplo. Isso porque 70% dos custos se referem ao trigo. Para o produtor de trigo isso não é bom." Ele afirmou que, entendendo as dificuldades da área produtiva, o governo federal resolveu liberar R$ 800 milhões para o setor produtivo do trigo.

No caso do frango, segundo a UBA (União Brasileira de Avicultura), o motivo para a queda nos preços foi o incremento da produção. "Tivemos grande aumento produtivo porque precisávamos exportar. Mesmo assim, os governos pouco fizeram pelo setor. Seria importante uma redução de impostos. Na cadeia do frango, são 4 milhões de empregados envolvidos", afirmou o diretor-executivo da UBA, Clovis Puppere.




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