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Professora agride aluno
em Emeb de S.Bernardo
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
22/12/2010 | 07:03
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Mais uma criança com deficiência foi agredida por professor no Grande ABC. O aluno José Valter Botega Júnior, 11 anos, portador de síndrome de Down, levou um tapa no rosto da professora Tânia Mara de Oliveira, 43, na biblioteca da Emeb (Escola Municipal de Ensino Básico) Professora Annita Magrini Guedes, no Baeta Neves, em São Bernardo. Isso é o que aponta relatório de ocorrência assinado pelo diretor da unidade, José David de Sousa, ao qual o Diário teve acesso ontem.

O episódio ocorreu por volta das 16h, em 26 de novembro. O garoto teria se aproximado por trás da educadora para lhe dar um beijo. Porém, ela teria se virado abruptamente e ele acabou beijando a boca dela; na sequência, a professora se virou e teria cometido o ato violento.

"Não houve agressão, e eu que procurei a diretoria imediatamente. Foi uma atitude de reflexo, mesmo que errada. Eu apenas encostei o dedo no rosto dele. Não deveria ter feito aquilo", conta Tânia Mara. Ela foi afastada da área pedagógica e atualmente presta serviços administrativos na unidade escolar.

A família do garoto relata que ele ficou diferente após o episódio e não frequentou mais a escola, que fica a poucos metros da sua casa.

"O Júnior melhorou muito neste ano, com esta professora. Mas isso não pode acontecer de jeito nenhum. Não se bate em ninguém, principalmente em um menino especial", diz Elvira Milani Botega, 51, mãe do garoto.

A direção da escola comunicou a família no dia 29 de novembro. "Quando o diretor falou o que ocorreu, não senti mais as pernas, pensei que iria morrer ali. Não tive forças para chegar em casa", lembra a mãe, emocionada.

AUDIÊNCIA
A Secretaria Municipal de Educação informou que apenas ontem os relatórios ficaram prontos, e que hoje haverá reunião entre a professora e a direção do estabelecimento de ensino e do órgão.

"Estamos em posse de vários relatórios, e na reunião vamos ouvir a professora e a direção da escola. Precisamos tomar cuidado com esse caso, vale lembrar que todos têm direito de defesa", fala Stella Chicchi, diretora do Departamento de Ações Educacionais da Secretaria Municipal de Educação.

A professora Tânia Mara trabalha há 23 anos no governo do Estado de São Paulo, como professora, e há dez em São Bernardo. Ela está contratada como conveniada, já que a Emeb foi municipalizada.

"Afastamos a professora imediatamente, porque esse ato de violência é inconcebível para uma profissional", explicou a dirigente municipal.

NA ESPERA DA JUSTIÇA
Ciente do seu erro, Tânia Mara fala que jamais voltaria a repetir tal atitude. "Quero me reparar na Justiça da minha atitude. Mas falar que bati, é uma calúnia", comenta.

Segundo a irmã de Júnior, a auxiliar de enfermagem Janaina Raquel, 24, o menino que adora dançar e ouvir música fica assustado ao ouvir o nome da professora. "Ele está com medo de voltar pra escola. Nós apenas queremos que a professora saia de lá; não vamos tirá-lo. Afinal, não foi o meu irmão que errou", afirma.

Preconceito ainda é um dos maiores problemas

Agressões e o preconceito contra o pequeno José Valter Botega Júnior, 11 anos, infelizmente não são novidades para a sua família. A síndrome de Down é o motivo para as chacotas e olhares desconfiados.

Eles ainda não se acostumaram com estes atos e sofrem a cada situação constrangedora que presenciam, seja no ônibus, em passeios em parques e praças ou mesmo em lojas de supermercados.

A dor está no olhar da dona de casa Elvira Milani Botega, 51, mãe de Júnior e mais cinco filhos e avó de cinco netos. "Esse povo não sabe o que está perdendo em ter um filho especial. Sofremos muito e dói mais em saber que algumas pessoas acham que ele é uma coisa ruim", conta, emocionada.

Júnior é o caçula da casa e, consequentemente, o mais mimado. Além de ser o único homem. "Entramos no ônibus e uma mulher grávida olhou para ele e levantou. Meu filho não é nenhum bicho, isso me machuca demais", relembra a mãe, com lágrimas nos olhos.

A criança frequenta a 2ª série da Emeb Professora Annita Magrini Guedes, no bairro Baeta Neves, em São Bernardo. Na antiga escola, a mãe relata que a criança chegava em casa com marcas de hematomas nos braços e nas costas.

"Nós desconfiávamos de que ele era agredido, mas não tínhamos provas para acusar, por isso preferi tirar ele de lá e colocar aqui perto de casa", conta a irmã Janaina Raquel, 24.

Secretário se mantém calado em Santo André

O secretário de Inclusão Social de Santo André, padre Antônio Francisco Silva, mais uma vez não quis se pronunciar sobre o caso da agressão sofrida pelo aluno Victor Marques Faustino, que é portador de síndrome de Down, nas dependências do Projeto Cre'r, em outubro de 2008. Essa associação recebe R$ 30 mil mensais da Prefeitura de Santo André, por meio de convênio.

Conforme o Diário revelou na segunda-feira, o professor Marcus Vinicius Schaira foi responsável pela violência física com golpes de vassoura. Na época, ele não foi demitido, como aponta a denúncia feita ao Ministério Público e ao Conselho Municipal de Assistência Social por ex-dirigentes da instituição.

A administração municipal de Santo André informou que tem conhecimento da agressão do professor contra o aluno. Ainda assim, entende que há motivos para rompimento do contrato, já que a entidade não tem responsabilidade pelo fato.

A auxiliar de enfermagem Janaina Raquel Botega, 24 anos, irmã de José Valter Botega Júnior, 11, que teria levado um tapa da professora em São Bernardo, disse que teve coragem de denunciar o que ocorreu com seu irmão após ler a reportagem sobre o caso de Santo André publicada pelo Diário.

"Não podemos ficar quietos diante desses absurdos. Espero que esse seja um grito para outras mães e famílias tomarem coragem de denunciar essas agressões", disse Janaina.




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