Cultura & Lazer Titulo
Editora GLS faz sucesso nas prateleiras
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
10/11/2001 | 17:47
Compartilhar notícia


  Discriminados e ridicularizados durante muito tempo – e até hoje –, os homossexuais estão sempre em busca de espaço e independência. Uma nova batalha, parcialmente vencida, é o direito de expressão intelectual. O selo das Edições GLS, ligado ao grupo Summus, está no mercado há três anos, tem um catálogo com 30 títulos e vem conquistando o respeito de gays, lésbicas e simpatizantes.

A idéia de levar informações e entretenimento a esse público foi da editora e escritora Laura Bacellar, que dirige o selo. “Foi num simpósio de escritores e editores gays em Boston, nos Estados Unidos, em 1992, que descobri que seria possível juntar minha vontade idealista a um projeto comercialmente viável”, diz.

A concretização do ideal se deu quase seis anos depois, com a realização da parceria com o grupo Summus. A Bienal do Livro de 1998 recebeu os primeiros lançamentos do selo.

Laura, que assume o lesbianismo, conta que a leitura de livros sobre o tema na Inglaterra lhe serviu como uma “experiência profunda”. “Fez uma diferença fundamental na minha vida. Percebi que não estava sozinha e que não era louca nem doente”, afirma.

Outras editoras publicam livros de autores homossexuais – caso de Oscar Wilde (1854-1900), Caio Fernando Abreu e João Silvério Trevisan – sem muito alarde. “A GLS rompe com este tipo de pensamento com uma postura radicalmente moderna”, diz a editora.

Entre os títulos disponíveis há uma certa variedade de gêneros. Desde biografia (como Desclandestinidade – Um Homossexual Religioso Conta sua História, de Pedro Almeida) e auto-ajuda bem-humorada (Como Agarrar um Marido – Versão Gay, de Patrick Price, com tradução de Antonio Sampaio Dória), até ficção (Era Uma Vez... Contos Gays da Carochinha, de Márcio El-Jaick), os dois últimos com ilustrações do andreense Marcio Baraldi.

“Minha vontade é ter só escritores brasileiros no catálogo, mas tive de abrir caminho com os estrangeiros”, afirma Laura. Em pouco tempo, conseguiu atrair novos nomes nacionais e, segundo ela, quase não há pseudônimos nessa lista. “É gente assumidíssima”, diz.

Conquistada a confiança dos escritores, as Edições GLS tentam superar a dificuldade de colocar os livros nas prateleiras. Segundo Laura, alguns livreiros não aceitam as obras, enquanto os que aceitam não sabem em que segmento dispô-las. “Neste caso, não se trata de preconceito, é não saber lidar com o novo”, afirma.

Ao rejeitar a temática homossexual, as livrarias estão ignorando um público que representa 10% da população. Esse percentual é uma média de pesquisas feitas em várias partes do mundo. “Usamos essa porcentagem até que alguém faça um censo no Brasil, mas é um número bastante confiável”, diz.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;