Setecidades Titulo
De peito aberto
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
12/03/2006 | 09:11
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Durante um dos inúmeros encontros promovidos por Vera Emília Chiavelli Teruel, 57 anos, sobre prevenção do câncer de mama, meninas do ensino médio que vivem na febre do silicone ficaram curiosas. O que era mastectomia? Naturalmente, a palestrante levantou a blusa e retirou a prótese usada no lugar do seio direito. É assim, derrubando mitos, que Vera ajuda mulheres mastectomizadas a se adaptar à nova realidade. Presidente e fundadora da Associação Viva Melhor, desde 1998 ela percorre o Grande ABC levando informação e acolhimento para quem enfrenta a doença. “Lidamos com a morte de perto. Mas eu e as outras voluntárias usamos a nossa história para mostrar que é possível viver, superar. Levamos exemplos de vida e de descobertas.”

Vera descobriu que tinha um tumor no seio logo na primeira mamografia a que foi submetida. Tinha 40 anos. Mãe de três filhos e casada, descobriu o câncer numa época em que as mulheres “se escondiam”. Estava sozinha, os grupos de apoio eram raros. Mas teve sorte: depois da mastectomia, não precisou passar pela radio e quimioterapias e amargar a perda dos cabelos. “Meu marido ficou assustado com a minha doença. Precisamos de muita conversa. Ele me apoiou muito. É comum eles não saberem o que fazer nessa hora.”

A ativista passou pela cirurgia há 16 anos. Hoje, problemas como o de Vera são resolvidos de maneira mais simples e a mastectomia às vezes nem é necessária. Quando o procedimento é inevitável, a paciente já sai, na maioria os casos, com a mama reconstituída. Vera teria de voltar ao hospital para recuperar o seio. Preferiu continuar usando a prótese de pano com enchimento de polipropileno – aquelas bolinhas minúsculas de plástico. “Me acostumei ao meu corpo assim. Muitas têm dificuldade em assumir novamente a sexualidade depois da mastectomia. Mas a mulher não se resume a um par de seios. Ela é inteira.”

Dez anos depois da cirurgia, ela reencontrou a amiga Terezinha Pontes Cipriani. Fazia tempo não tinham notícias uma da outra. Vera contou que havia superado o câncer de mama e descobriu que Terezinha enfrentava o mesmo problema. Do encontro nasceu a vontade de criar uma instituição de apoio. Visitaram durante um ano diversas ONGs, passaram por cursos de capacitação. E hoje repassam a experiência. Além das palestras e dos encontros semanais, a Viva Melhor confecciona e doa as próteses. No ano passado foram 240, só em Santo André – São Bernardo também conta com uma sede da associação. Perucas também são emprestadas para as que perdem o cabelo durante o tratamento. São mais de 90 modelos em estoque. A maioria das beneficiadas são mulheres de baixa renda.

Em oitos anos de peregrinação, Vera acumulou belas histórias de superação. Enfrentou perdas de companheiras vencidas pelo câncer de mama, mas que também figuram entre os exemplos de dignidade. “É como reaprender a viver. Se uma consegue, muitas podem conseguir. O importante é não desistir nunca.”

Associação Viva Melhor – Grupo de Apoio a Mulheres Mastectomizadas. Telefones: 4975-0334 e 4426-8597



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